Tecnologia

Após meio século sem inovar, malas de viagem ganham tecnologia

Faz 50 anos desde que o setor de malas colocou rodas e uma alça retrátil, mas agora as velhas bagagens estão ganhando um banho de tecnologia

Malas: agora estão recebendo uma série de características técnicas, introduzidas em grande parte por startups (Alexander Koerner/Getty Images)

Malas: agora estão recebendo uma série de características técnicas, introduzidas em grande parte por startups (Alexander Koerner/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 17 de julho de 2017 às 12h25.

Última atualização em 17 de julho de 2017 às 17h25.

Sua mala tem agora vida própria. Ela pode avisar que acabou se extraviando para muito longe, ou que muita coisa foi posta em seu interior e, em breve, talvez seja capaz de chamar um carro do Uber. Existe até mesmo uma que está sendo projetada para levá-lo para dar uma voltinha pelo aeroporto.

As malas sempre pertenceram a uma categoria de produto um tanto lenta; a última grande inovação do setor ocorreu há quase 50 anos, quando as rodas e uma alça retrátil foram adicionadas. Desde então, as melhorias foram incrementais, com foco em materiais leves, disposição interna e capacidade de manobra.

Agora estão recebendo uma série de características técnicas, introduzidas em grande parte por startups e às vezes pagas com dinheiro vindo de financiamentos coletivos.

Três tipos de características dominam a primeira leva da “bagagem inteligente”: portas e carregadores para o celular ou outro dispositivo eletrônico; rastreadores GPS que trabalham junto com o telefone para identificar sua localização ou para notificá-lo caso ela saia do seu lado; um conjunto de características que visa facilitar a viagem, como etiquetas eletrônicas que permitem que o usuário evite a fila da vistoria de bagagem no aeroporto, e balanças internas para ajudar os viajantes a evitar taxas de excesso de bagagem.

A Bluesmart Luggage, que começou com uma campanha no Indiegogo em 2014, está tão focada nos aspectos de suas ofertas, que prefere ser chamada de empresa de tecnologia “inteligente”, segundo seu executivo-chefe Tomi Pierucci.

Seus produtos incluem uma balança digital e o rastreamento por GPS. A mala pode ser trancada por um aplicativo de celular, o que pode acontecer automaticamente caso esteja muito longe do celular do proprietário. A empresa já vendeu 35.000 unidades.

Porém, o objetivo da Bluesmart vai além das características técnicas individuais, de acordo com Pierucci. “Queremos criar um ecossistema para ajudar as pessoas a evitar a chateação das viagens, usando o aplicativo como uma central on-line de informações”, explicou.

“E lembrá-lo de carregar a bateria da mala na noite antes da viagem, oferecer um Uber quando seu avião aterrissar, notificar seu hotel de que seu voo está atrasado, esse tipo de coisa.”

Viajantes de negócios mantêm suas malas, em média, três anos antes de comprar uma nova, mas as atualizações do software e do firmware da Bluesmart podem oferecer novos recursos e novas parcerias aos clientes assim que forem desenvolvidos. E qualquer bagagem conectada a um aplicativo consegue gravar quando cada recurso é usado, passando os dados para a empresa, para que ela esteja ciente de futuras iterações do produto.

Stephanie Korey, uma das fundadoras e executiva-chefe da nova empresa de bagagens Away, disse que gosta de chamar suas malas de “prestativas”, não de “inteligentes”. A firma, que existe há um ano, já vendeu 75.000 unidades.

Korey explica que ela e seu sócio, Jen Rubio, procuram resolver os problemas do cliente, como recarregar o telefone, manter as roupas sujas longe das limpas ou projetar rodas que facilitem o transporte em um piso irregular. “Pensamos na maneira como as pessoas fazem a mala, o que as fazem no aeroporto ou quando chegam ao hotel”, disse ela.

Korey também não diz que sua empresa produz malas. “Somos uma companhia de viagens. Uma vez que estabelecemos uma relação de confiança com um cliente e ele gosta do que estamos fazendo, podemos começar a criar outros produtos individualizados, como acessórios ou organizadores que vão dentro da bagagem.”

Outras novas ideias para versões mais tecnológicas incluem a Fugu Travel, que pode se expandir de bagagem de mão para uma mala grande com uma bomba de ar interna. A empresa começou seus primeiros modelos para aqueles que já encomendaram um exemplar ou que doaram dinheiro através do Kickstarter. Há também a Travelmate, uma mala que se movimenta sozinha e que segue o dono, cujo lançamento está planejado para este ano.

Algumas das novas tecnologias são externas

A DUFL, fundada há dois anos, oferece um serviço baseado em aplicativo que permite que o viajante se livre da tarefa de fazer a mala. Os clientes enviam suas roupas, sapatos, artigos de higiene ou outros itens para o “armário remoto” do armazém da DUFL, a empresa fotografa cada item, lava tudo e armazena.

Quando os clientes estão prontos para viajar, usam o aplicativo para notificar a DUFL da data e do destino de sua viagem, e então “fazem a mala”, tocando nas fotografias na tela dos itens que querem levar. A DUFL envia a bagagem com o que foi escolhido para o hotel do cliente ou outro destino. No final da viagem, tudo volta para a empresa.

Muitas companhias de viagens tecnológicas conseguem capital mostrando suas ideias para o público viajante. A Bluesmart levantou 2,2 milhões de dólares no site de financiamento coletivo Indiegogo; a empresa de bagagem G-RO levantou 1,3 milhão de dólares para sua mala inteligente com rodas grandes no Indiegogo e mais 3,3 milhões de dólares no Kickstarter; a Modobag, uma mala motorizada que você pode montar, levantou mais de 500.000 dólares na Indiegogo, e seu lançamento está previsto para este ano.

“Esse sites de financiamento coletivo são uma grande fonte de capital para investimento porque o público instantaneamente reconhece o valor das facilidades para o viajante”, disse Slava Rubin, cofundadora e principal responsável pelos negócios do Indiegogo.

Uma incerteza para as empresas que querem adicionar novas tecnologias é que as regras sobre as baterias e aparelhos eletrônicos nos aviões estão sempre em evolução; além disso, as marcas maiores e mais estabelecidas de bagagem não parecem ter pressa para agregar tecnologia a seus produtos. A Tumi não tem planos para incorporar tecnologia diretamente a seus produtos de viagem, de acordo com a empresa, embora esteja planejando introduzir um dispositivo de rastreamento global separado este ano.

Blake Lipham, diretor-executivo da Travelpro, contou que sua empresa estava de olho nos novos recursos técnicos e em sua durabilidade.

“As malas apanham muito. Queremos ver o desempenho durante sua vida útil. Novos recursos técnicos também podem envolver mudanças de custos, espaço interno e peso, portanto a pesquisa com o cliente é fundamental”, acrescentou.

A Travelpro instalou saídas de USB em alguns de seus itens para que o usuário possa usar um recarregador portátil para seus dispositivos; além disso, está esperando para ver a demanda. Segundo Lipham, as tecnologias que seus clientes mais apreciam são as físicas, que mantém as rodas alinhadas ou travam as alças para evitar que balancem.

É claro que esses novos recursos não atraem todos os tipos de viajantes. Greeley Koch, diretor-executivo da Associação de Executivos de Viagens Corporativas, disse que os empresários geralmente viajam apenas com bagagem de mão. “Nesse caso, a balança e o rastreador GPS não são realmente necessários, e se um telefone está descarregado em uma reunião, é mais discreto ligá-lo em um carregador portátil.”

“Mesmo assim, é óbvio que as pessoas estão em busca de melhores produtos nesse setor e devem esperar muita inovação nos próximos anos”, garantiu Julio Terra, diretor de tecnologia e design do Kickstarter.

© 2017 New York Times News Service

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