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Anticorpo da dengue é capaz de neutralizar zika, diz estudo

Dado indica possibilidade de desenvolvimento de uma vacina capaz de proteger contra as duas doenças simultaneamente

Aedes aegypti: dado indica possibilidade de desenvolvimento de uma vacina capaz de proteger contra as duas doenças simultaneamente (Marvin Recinos / AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 23 de junho de 2016 às 19h10.

São Paulo - Dois novos estudos sobre os vírus da zika e da dengue mostram que a relação de familiaridade entre eles pode ser também de amor e ódio.

Por um lado, dois anticorpos específicos contra a dengue se mostraram capazes de, potencialmente, também neutralizar o zika, indicando a possibilidade de desenvolvimento de uma vacina capaz de proteger contra as duas doenças simultaneamente.

Por outro lado, viu-se que muitos dos outros anticorpos gerados nas pessoas infectadas com dengue acabam, na verdade, favorecendo a replicação do zika, o que traz novas pistas que podem indicar por que a epidemia de zika se espalhou tão rapidamente em um país que já vinha sofrendo com surtos de dengue.

Os trabalhos, publicados nesta quinta-feira, 23, nas revistas Nature e Nature Immunology por um mesmo grupo de pesquisadores franceses e ingleses, podem parecer contraditórios à primeira vista, mas na prática eles jogam luz sobre a complexa relação da família dos flavivírus, da qual fazem parte os dois vírus, e também na imunologia.

Na pesquisa da Nature, Félix Rey, do Instituto Pasteur, e colegas observaram que dois anticorpos específicos produzidos por pessoas que tiveram dengue são capazes de se ligar ao zika e neutralizá-lo, impedindo a infecção.

Para os pesquisadores, essa descoberta lança a possibilidade de se desenvolver uma vacina universal contra os dois vírus.

É uma capacidade muito específica desses dois anticorpos. Muitos dos outros gerados em pessoas infectadas com dengue parecem ter um efeito bem diferente, ao promover uma reação cruzada com o vírus da zika, aumentando sua capacidade de replicação.

É o que observaram em estudos in vitro Gavin Screaton, do Imperial College de Londres, e colegas no estudo publicado na Nature Immunology.

Essa era uma suspeita que pesquisadores brasileiros já tinham há muito tempo. Havia a expectativa de que infecções prévias por dengue poderiam estar ajudando na dispersão tão rápida do zika no País.

O imunologista Jorge Kalil, diretor do Instituto Butantã e um dos responsáveis pela vacina da dengue que está em teste, afirma que isso era esperado uma vez que também ocorre com os diferentes sorotipos da dengue.

"Pessoas que tiveram o tipo 1, por exemplo, e depois pegam o 3 têm a multiplicação dele muito facilitada. Já sabíamos que ocorre essa reação cruzada de anticorpos e sabíamos que isso poderia ocorrer para o zika", explica.

Ele salienta, no entanto, que esse resultado de agora foi observado somente in vitro e ainda não oferece resposta para questões mais complexas.

"Não sabemos se ter mais vírus no corpo resulta em uma doença com sintomas mais graves ou mesmo na microcefalia, que é a nossa preocupação. Também poderia ser uma explicação para termos tido uma epidemia tão rápida, mas ainda é uma coisa que precisa ser comprovada", diz.

Já o primeiro trabalho foi considerado "bastante inesperado" por Kalil. Ele conta que o colega Esper Kallas, também imunologista da Universidade de São Paulo que vem estudando o zika, investigou 300 anticorpos produzidos por pessoas que tiveram dengue e nenhum deles foi capaz de neutralizar o zika, apesar de se ligarem a ele.

"A pergunta é se existiria um anticorpo universal que neutralize os quatro sorotipos de dengue e o zika. Os pesquisadores propõem que seria possível pensar nisso com um fragmento de proteína desses dois anticorpos. "É o que todos gostaríamos de ver, mas ainda precisa de mais pesquisa", afirma Kalil.

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São Paulo - Dois novos estudos sobre os vírus da zika e da dengue mostram que a relação de familiaridade entre eles pode ser também de amor e ódio.

Por um lado, dois anticorpos específicos contra a dengue se mostraram capazes de, potencialmente, também neutralizar o zika, indicando a possibilidade de desenvolvimento de uma vacina capaz de proteger contra as duas doenças simultaneamente.

Por outro lado, viu-se que muitos dos outros anticorpos gerados nas pessoas infectadas com dengue acabam, na verdade, favorecendo a replicação do zika, o que traz novas pistas que podem indicar por que a epidemia de zika se espalhou tão rapidamente em um país que já vinha sofrendo com surtos de dengue.

Os trabalhos, publicados nesta quinta-feira, 23, nas revistas Nature e Nature Immunology por um mesmo grupo de pesquisadores franceses e ingleses, podem parecer contraditórios à primeira vista, mas na prática eles jogam luz sobre a complexa relação da família dos flavivírus, da qual fazem parte os dois vírus, e também na imunologia.

Na pesquisa da Nature, Félix Rey, do Instituto Pasteur, e colegas observaram que dois anticorpos específicos produzidos por pessoas que tiveram dengue são capazes de se ligar ao zika e neutralizá-lo, impedindo a infecção.

Para os pesquisadores, essa descoberta lança a possibilidade de se desenvolver uma vacina universal contra os dois vírus.

É uma capacidade muito específica desses dois anticorpos. Muitos dos outros gerados em pessoas infectadas com dengue parecem ter um efeito bem diferente, ao promover uma reação cruzada com o vírus da zika, aumentando sua capacidade de replicação.

É o que observaram em estudos in vitro Gavin Screaton, do Imperial College de Londres, e colegas no estudo publicado na Nature Immunology.

Essa era uma suspeita que pesquisadores brasileiros já tinham há muito tempo. Havia a expectativa de que infecções prévias por dengue poderiam estar ajudando na dispersão tão rápida do zika no País.

O imunologista Jorge Kalil, diretor do Instituto Butantã e um dos responsáveis pela vacina da dengue que está em teste, afirma que isso era esperado uma vez que também ocorre com os diferentes sorotipos da dengue.

"Pessoas que tiveram o tipo 1, por exemplo, e depois pegam o 3 têm a multiplicação dele muito facilitada. Já sabíamos que ocorre essa reação cruzada de anticorpos e sabíamos que isso poderia ocorrer para o zika", explica.

Ele salienta, no entanto, que esse resultado de agora foi observado somente in vitro e ainda não oferece resposta para questões mais complexas.

"Não sabemos se ter mais vírus no corpo resulta em uma doença com sintomas mais graves ou mesmo na microcefalia, que é a nossa preocupação. Também poderia ser uma explicação para termos tido uma epidemia tão rápida, mas ainda é uma coisa que precisa ser comprovada", diz.

Já o primeiro trabalho foi considerado "bastante inesperado" por Kalil. Ele conta que o colega Esper Kallas, também imunologista da Universidade de São Paulo que vem estudando o zika, investigou 300 anticorpos produzidos por pessoas que tiveram dengue e nenhum deles foi capaz de neutralizar o zika, apesar de se ligarem a ele.

"A pergunta é se existiria um anticorpo universal que neutralize os quatro sorotipos de dengue e o zika. Os pesquisadores propõem que seria possível pensar nisso com um fragmento de proteína desses dois anticorpos. "É o que todos gostaríamos de ver, mas ainda precisa de mais pesquisa", afirma Kalil.

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