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Anticoncepcional na água está transformando sapo em "sapa"

Segundo os cientistas, o resultado extremo desse fenômeno seria a própria redução da população de anfíbios, algo absolutamente preocupante

Sapo de árvore europeu: vulnerável à exposição de substâncias hormonalmente ativas em seu habitat natural.  (Christophe Dufresnes)

Sapo de árvore europeu: vulnerável à exposição de substâncias hormonalmente ativas em seu habitat natural. (Christophe Dufresnes)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 5 de abril de 2016 às 15h29.

São Paulo - A multiplicação de substâncias químicas sintéticas no meio ambiente tem gerado um saldo preocupante para a vida selvagem. O exemplo mais recente vem de um estudo que associa o coquetel de hormônio liberado por pílulas anticoncepcionais ao fenômeno que os cientistas chamam de feminilização verificado em espécies de anfíbios.

Grosso modo, os hormônios que imitam o estrogênio — e todos os dias chegam aos rios e lagos através da urina liberada no esgoto —estão levando espécimes machos a desenvolverem características fisiológicas de fêmeas, além de atrofia nos órgãos masculinos. Segundo os cientistas, o resultado extremo desse processo seria a própria redução da população de anfíbios, a ponto de levá-los à extinção. 

A constatação é de um estudo produzido em conjunto por pesquisadores do Institute for Genomic Biology (IGB) em Illinois, nos Estados Unidos e da Universidade de Wroclaw, na Polônia.

Os pesquisadores compararam os efeitos do composto etinilestradiol (EE2), substância artificial que imita o estrogênio comumente usada em pílulas contraceptivas, em três espécies de anfíbios — o sapo com garras africano (Xenopus laevis), girinos do sapo europeu de árvore (Hyla arborea) e o sapo verde europeu (Bufo viridis) — e concluiu que o hormônio sintético pode levar a uma feminilização genética de 15% a 100% em machos.

“Substâncias hormonalmente ativas podem contribuir para o declínio global de anfíbios. Alguns compostos, por exemplo, de produtos farmacêuticos, ocorrem em concentrações biologicamente relevantes em ambientes aquáticos e, portanto, podem afetar o sistema hormonal e o desenvolvimento sexual dos animais”, dizem os cientistas.

O estudo alerta para o fato das estações de tratamento tradicionais não removerem essas substâncias com potencial de desregulação endócrina, fazendo com que os efluentes, mesmo após o tratamento, cheguem nos copos d´água com altas concentrações desses compostos.

"Os anfíbios são quase permanentemente expostos a tais ameaças. Apenas se formos capazes de gerir esses riscos, é que conseguiremos eliminá-los no longo prazo", diz o biólogo evolucionário, Dr. Matthias Stöck, principal pesquisador do estudo.

Outro alerta é de que os fármacos, ainda que minuciosamente estudados para uso humano, revelam surpresas ao serem lançados no meio ambiente. Pior, esse mesmo coquetel químico, cedo ou tarde, volta para a torneira das cidades.

Conforme o ecotoxicologista Werner Kloas, coautor do artigo: " O EE2 também faz parte do nosso abastecimento de água e, em conjunto com outras substâncias similares ao estrogênio, apresenta um risco grave não só para anfíbios, mas também para os seres humanos”, diz.

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