Analista veterano do setor de videogames prevê queda em 2019
A receita de videogames caminha para seu primeiro declínio desde 1995
Lucas Agrela
Publicado em 28 de janeiro de 2019 às 10h25.
Última atualização em 28 de janeiro de 2019 às 10h26.
A ascensão dos videogames transformou o Fortnite em um fenômeno social, levou os eSports a disputar telespectadores com a NFL e apertar incessantemente os botões do controle passou a gerar mais dinheiro que Hollywood. Agora, um analista veterano projeta a primeira desaceleração do setor em um quarto de século.
A receita de videogames caminha para seu primeiro declínio desde 1995, porque as vendas devem cair 1 por cento neste ano, para US$ 136,5 bilhões, segundo Pelham Smithers, dono de uma empresa de pesquisa homônima com sede em Londres. Para ele, os motivos disso são a abordagem mais rígida da China na aprovação de jogos, uma escassez de consoles de grande sucesso e o cansaço entre os jogadores com títulos de batalha real, como Fortnite.
Smithers, que começou a cobrir o setor no final dos anos 1980, aponta para a recente queda acentuada de ações como a Tencent Holdings e a Electronics Arts como prova de que ele está certo. Ele considera que o recuo vai durar pelo menos até 2020.
"As distintas peças do quebra-cabeça não se encaixam, por isso achamos que o mercado vai se contrair em 2019", disse Smithers. "A queda forte nas ações de videogames se deve basicamente a uma crescente percepção do risco de que essa visão esteja correta."
Smithers é o primeiro a admitir que esta aposta é arriscada, sendo que analistas rivais como Goldman Sachs Group e Nomura Holdings ainda consideram os jogos como uma indústria em crescimento e que o Morgan Stanley continua otimista. Mas ele esteve certo em previsões semelhantes anteriormente: ele deu à Nintendo uma classificação de "venda" há uma década, uma opção que foi contra a corrente na época, mas que mostrou ser bem fundamentada.
Além disso, desta vez ele não está sozinho: a empresa de pesquisa Newzoo reduziu recentemente sua perspectiva de receita em 2018 e 2019 em 2 por cento, para 3 por cento, citando a fraqueza dos jogos para celular. Nesta semana, a IDC afirmou que o crescimento do mercado de jogos da China desacelerou para 5 por cento em 2018, depois de expandir cerca de 20 por cento ao ano desde 2014.
A seguir, os principais argumentos de Smithers:
A receita de jogos para celulares (49 por cento do total da indústria) cairá porque a China, maior mercado de smartphones do mundo, prevê uma contração de 10 por cento devido à rigidez maior de Pequim nas aprovações de jogos, disse ele. Os mercados de jogos móveis dos EUA e do Japão também estão estagnando e não compensarão a diferença, projetou ele.
Os consoles (19 por cento) terão dificuldade para dar continuidade ao recorde registrado em 2018, quando foram lançados vários títulos de sucesso, como Red Dead Redemption 2, God of War, Homem-Aranha e Super Smash Bros. Ultimate, disse ele. O envelhecimento dos consoles PlayStation 4 e Xbox One também será um obstáculo para o crescimento. "Se o PlayStation 5 chegar no final de 2020, isso vai ser ótimo para 2021, mas ruim para 2020".
Os jogos para PCs (25 por cento) vão cair porque os jogadores estão perdendo o interesse em títulos de sobrevivência, como Fortnite e PlayerUnknown’s Battlegrounds (PUBG), que hoje têm menos usuários do que há um ano, disse ele. O formato é popular desde 2017.