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Amamentar salva bebê e mãe de todas as rendas, diz estudo

Estudo demonstra que amamentar salva vidas de crianças, mulheres de todas as faixas sociais, e, de quebra, ajuda a economia de países


	Mãe amamentando bebê: estudo teve como base a revisão de 1.300 estudos
 (GettyImages)

Mãe amamentando bebê: estudo teve como base a revisão de 1.300 estudos (GettyImages)

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Da Redação

Publicado em 28 de janeiro de 2016 às 22h11.

São Paulo - A velha ideia de que aleitamento materno traria efeito protetor apenas para crianças de famílias de classe econômica menos privilegiada foi sepultada de vez por uma série de estudos sobre o tema, coordenada pelo professor da Universidade Federal de Pelotas Cesar Victora e publicada na revista Lancet.

O trabalho, o maior já realizado sobre o tema e que teve como base a revisão de 1.300 estudos, demonstra que amamentar salva vidas de crianças, mulheres de todas as faixas sociais, e, de quebra, ajuda a economia de países, qualquer que seja o nível de desenvolvimento. 

"O efeito protetor não se dá apenas na primeira fase da vida. O aleitamento materno tem uma ação importante para a inteligência das crianças, previne a obesidade, sem falar no impacto positivo na saúde das mães", conta o coordenador do trabalho.

Dados reunidos de 153 países mostram, por exemplo, que mulheres que amamentam por períodos mais longos têm redução de 30% no risco de desenvolver câncer de ovário. Os efeitos protetores para câncer de mama também impressionam: cada dois anos de amamentação podem reduzir o risco da forma invasiva da doença em 6%.
Pelas contas dos pesquisadores, o aumento das taxas de aleitamento pode evitar por ano 800 mil mortes de crianças e de cerca de 20 mil mulheres.

"O leite materno é uma substância viva, impossível de ser imitado pelo leite em pó", assegura Victora. Os estudos indicam que o leite produzido pela mãe vai se adaptando às necessidades da criança, ao longo do tempo. "Ele é uma espécie de medicamento feito sob medida: com nutrientes, com elementos protetores contra infecções, para flora intestinal do bebê. Quando o bebê é prematuro, o leite produzido pela mãe tem uma composição específica, totalmente diferente, por exemplo, do que é produzido meses mais tarde", completa.

O impacto positivo da amamentação sobre a inteligência do bebê já havia sido demonstrada por uma pesquisa anterior, também coordenada por Victora e pela equipe da Universidade Federal de Pelotas. Os dados mostram que crianças alimentadas com leite materno por mais tempo tiveram um aumento médio de 3 pontos no QI - algo que pode melhorar o desempenho escolar e, em consequência, a renda.

De acordo com um dos trabalhos que compõem a série agora publicada, a ausência da amamentação materna e seus consequentes estragos na capacidade cognitiva podem provocar perdas para economia calculadas em US$ 302 bilhões anuais, o equivalente a 0,49% do rendimento bruto mundial. Um das conclusões do trabalho é que para alcançar esses ganhos, há necessidade de se reforçar políticas que garantam o aleitamento materno.

A meta proposta é que todas as crianças sejam amamentadas exclusivamente por leite materno até seis meses. Embora o compromisso tenha sido firmado na década de 90, ele está longe de ser alcançado.

Autores do trabalho reforçam a necessidade de se colocar em prática uma série de ações: disseminar informações sobre benefícios do aleitamento, desenvolver ações que incentivem a prática, como ampliação do período de licenças maternidade, a criação de salas de aleitamento em ambientes de trabalho e a previsão de pausas durante a jornada, para que criança possa ser amamentada, regular a indústria de alimentos substitutos ao leite materno, restringindo a propaganda e a distribuição, por exemplo, de amostras gratuitas.

O Brasil é citado como exemplo no relatório em razão das práticas adotadas. São elogiados o sistema de banco de leite materno e a ampliação da prática de alojamento conjunto, que permite à mãe ficar próxima do bebê, o que facilita o aleitamento. As consequências dessas políticas ficam claras nas estatísticas. No período entre 1974 e 1975, uma criança brasileira recebia leite materno por um período médio entre dois e cinco meses. Entre 2006 e 2007, essa marca havia saltado para 14 meses. Entre 1996 e 2006, a média de crianças que recebiam leite materno por pelo menos um ano havia crescido 15%.

Embora avanços tenham sido muito significativos, Victora afirma ser necessário ampliar essa marca e, sobretudo, evitar que ocorra no Brasil problemas como registrados em outros países. O estudo indica haver uma tendência de que, com aumento da renda familiar haja uma migração do aleitamento materno para substitutos. Victora considera essencial, por exemplo, a realização de campanhas que incentivem a amamentação. "A regularidade dessas iniciativas foi bastante reduzida. O ideal é que elas sejam retomadas", completou.

Victora afirma também ser essencial movimentos que garantam o aleitamento e evitem constrangimento, quando isso é realizado em espaços públicos. "A aprovação de regras, a exemplo de São Paulo, que garantem a amamentação é um ótimo instrumento", completou.

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