A Microsoft sai às compras: até onde vai o apetite de Satya Nadella?
A desenvolvedora do Windows e o pacote Office se transformou num titã do mercado de computação em nuvem nos últimos anos. E não quer parar por aí
Rodrigo Loureiro
Publicado em 13 de abril de 2021 às 07h00.
Última atualização em 13 de abril de 2021 às 17h24.
Num negócio de quase 20 bilhões de dólares, a Microsoft anunciou nesta segunda-feira, 12, a aquisição da Nuance Communications, empresa que utiliza tecnologias de inteligência artificial para transformar áudio em texto. Mais do que a cifra alta, o negócio chama a atenção por confirmar o novo foco da empresa que desenvolveu o Windows e programas como o pacote Office: ser cada vez mais uma empresa de serviços e dominar o mercado de computação em nuvem.
O negócio vai ajudar a Microsoft a intensificar seus negócios segmentados em diferentes indústrias que necessitam de serviços de nuvem. Neste caso em específico, o alvo são empresas do setor de saúde. Com 6.000 funcionários espalhados em operações em 27 países, a Nuance atende mais de 10.000 clientes na área, como AthenaHealth, Johns Hopkins, Mass General Brigham e Cleveland Clinic. A companhia teve receita de 352,9 milhões de dólares 4º trimestre de 2020 – queda de 9% ante 2019.
“A aquisição de hoje representa o mais recente passo da Microsoft em sua estratégia de nuvem para indústrias específicas”, informou a Microsoft em nota. Para auxiliar neste processo, o executivo Mark Benjamin, que liderava a Nuance, permanecerá na operação, mas tendo que se reportar a Scott Guthrie, executivo responsável pelo grupo de nuvem e IA.
A Nuance é uma empresa de capital aberto desde 2000, quando realizou seu IPO na Nasdaq. Por este motivo, a Microsoft informou que realizou o pagamento de 56 dólares por cada ação da empresa, 23% a mais do que o valor de cada papel no fechamento da última sexta-feira, 9. O valor total gira em torno de 19,7 bilhões de dólares, de acordo com a empresa.
A compra da Nuance foi a segunda mais alta feita pela Microsoft. O valor é inferior apenas ao desembolsado para garantir o controle do LinkedIn, a rede social focada em contatos profissionais. Em 2016, a Microsoft pagou 26,2 bilhões de dólares pela aquisição da empresa fundada por Reid Hoffman, Konstantin Guericke, Allen Blue, Jean-Luc Vaillant e Eric Ly e que ganha dinheiro com anúncios e com assinaturas premium, que garantem funcionalidades extras aos usuários.
Gigante... dos serviços
Os três casos guardam uma semelhança: a transformação da Microsoft numa empresa de serviços. E isso se deve principalmente ao diretor executivo Satya Nadella, que assumiu o comando da empresa em 2014. Funcionário da Microsoft desde 1992, ele ocupou diversos cargos até ser promovido para vice-presidente dos serviços nuvem da Microsoft – uma iniciativa que mostrava ser promissora, mas que a empresa ainda mantinha certo receio em apostar suas fichas.
O temor era compreensível. Durante anos, a Microsoft se destacou por ser uma empresa de produtos, não de serviços. Além do sistema operacional mais utilizado no planeta, a Microsoft também foi a responsável por lançar no mercado softwares do pacote Office, mensageiros como o Windows Live Messenger e até produtos físicos, como os videogames da linha Xbox. A empresa também chegou a flertar com o mercado de smartphones com a aquisição da Nokia em 2013 por 7,2 bilhões de dólares, mas fracassou de forma quase vexatória.
Mas o fato é que, em seu primeiro dia como presidente, o engenheiro de origem indiana enviou um e-mail para toda a companhia com discurso forte. “A indústria não respeita a tradição – apenas a inovação”, dizia a mensagem. Era um alerta de que as coisas iriam mudar na gigante de Redmond. Ou então a Microsoft se tornaria uma coadjuvante do acirrado mercado de tecnologia, que já contava com gigantes que ou eram mais modernas, como Google e Facebook, ou se reinventaram, caso da Apple.
O negócio cresceu de forma devastadora desde então. A companhia que valia pouco mais de 300 bilhões de dólares em 2014, agora é uma gigante de quase 2 trilhões de dólares. A receita anual que era de 77,8 bilhões de dólares em 2013 – o último ano fiscal antes de Nadella assumir o comando da empresa – dobrou. No ano fiscal de 2020, encerrado em junho do ano passado, a companhia registrou faturamento de 143 bilhões de dólares.
Mais do que um aumento de mais de 100% em relação a 2013 e de 13,6% em relação ao ano fiscal de 2019, o balanço traz outro dado interessante. Mais da metade da receita da Microsoft – 74,9 bilhões de dólares – foi obtida com serviços de nuvem, ante um valor gerado pela venda de produtos de 68 bilhões de dólares.
Mas isso não significa que a Microsoft está desistindo dos produtos, principalmente daqueles de hardware. Pelo contrário. É justamente com a venda de serviços que a companhia consegue ganhar fôlego para investir numa área cada vez mais difícil de inovar. Ao lago de rivais como Amazon , Apple e Google , a Microsoft continua projetando os seus próprios chips de processamento, por exemplo.
Fazer isso custa dinheiro. E se o caminho mais fácil para obter o combustível financeiro para a operação é com serviços, a Microsoft se mostra ainda mais disposta a apostar mais fichas na diversificação dos negócios.
De olho no mercado
Rumores no mercado ventilam a possibilidade que a Microsoft compre a startup Discord, que fornece um serviço de comunicação por voz homônimo bastante popular na comunidade gamer. Fundada em 2012 no Vale do Silício por Mikołaj Roszak e Stanislav Vishnevskiy, a companhia já recebeu quase 480 milhões de dólares em 10 rodadas de captação de investimentos.
Os aportes, feitos por investidores como Index Ventures, Greylock, Spark Capital, Tencent e Greenoaks Capital, fez com que a Discord atingisse valor de mercado especulado em 7 bilhões de dólares. Para comprar o controle da empresa, porém, a Microsoft iria precisar pagar um prêmio aos acionistas. Fontes ouvidas pela Bloomberg relatam que o negócio deve girar em torno de 10 bilhões de dólares, caso seja concretizado.
Ao que tudo indica, o Discord se tornou um alvo da Microsoft após a companhia perceber que não iria conseguir comprar as redes sociais Pinterest, de fotos e muito utilizada por aficionados com decoração, culinária e outros hobbys; e o TikTok, rival do Instagram e do Snapchat e que se tornou imensamente popular durante o último ano. As empresas estão avaliadas em 51 e 75 bilhões de dólares respectivamente, o que faria com que a Microsoft precisasse bater recordes no valor pago por suas aquisições.