Tecnologia

'A busca do Google está mudando', diz engenheiro da empresa

Engenheiro na linha de frente da empresa no Brasil tem a "chave" do algoritmo de buscas, que tenta se adaptar às mudanças de comportamento de seus usuários

Ambiente da empresa: acesso pelo celular demanda mudanças em mecanismos de buscas (foto/Getty Images)

Ambiente da empresa: acesso pelo celular demanda mudanças em mecanismos de buscas (foto/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 25 de dezembro de 2016 às 17h53.

São Paulo - Quem acessa o Google todos os dias para fazer pesquisas nem imagina que para o sistema funcionar é preciso um time gigante de engenharia espalhado pelo mundo todo - inclusive no Brasil. Por aqui, a equipe de 150 pessoas do Centro de Engenharia do Google em Belo Horizonte é liderada pelo engenheiro eletricista Berthier Ribeiro-Neto, de 56 anos. O principal nome técnico do Google no País tem fala mansa e fala com orgulho da participação do Brasil na evolução constante do serviço.

Num momento crucial para o Google, que tenta se adaptar às mudanças de comportamento de seus usuários, Ribeiro-Neto está na linha de frente e tem a "chave" do algoritmo de buscas. Em entrevista exclusiva ao Estado, concedida no refeitório do Centro de Engenharia, ele falou dos últimos projetos que tiveram participação do Brasil, da evolução da tecnologia nos próximos anos e dos entraves para a inovação no País.

Confira trechos da conversa a seguir:

Como a equipe do Google no Brasil tem ajudado a melhorar a experiência do buscador?

Recentemente, nós colocamos no ar um serviço para o Google global que resume informações sobre doenças, o Health Search (Busca de Saúde, em inglês). A pessoa pesquisa o termo 'gripe', por exemplo, e a busca exibe todas as informações básicas e necessárias sobre a doença, como sintomas. A pessoa não precisa entrar em uma página diferente para buscar as informações. As informações aparecem no topo da página, antes de outros resultados de busca.

O novo recurso é uma resposta ao comportamento dos usuários? As pessoas não querem procurar as informações?

Exatamente. O Google e, principalmente a ferramenta de busca, está passando por uma grande transformação. Os nossos usuários mudaram: hoje em dia, mais da metade dos acessos à busca são feitos a partir de celulares.

O que muda quando o acesso acontece no celular?

A pessoa não quer ficar esperando dezenas de segundos para uma informação carregar na tela do celular. Ela quer a resposta no mesmo instante em que surge a dúvida. É por isso que tecnologias como o Health Search vão se popularizar. E o Google está indo nesta direção. Se nosso usuário está mudando, o nosso produto precisa mudar também. Se a experiência móvel do Google for ruim, o usuário vai buscar alternativas.

E o que mais vai mudar? Como você enxerga o mundo nos próximos cinco anos?

Não é fácil prever como as coisas vão evoluir. Tecnologias como aprendizado de máquina estão apresentando um progresso incrível, mas também estamos trabalhando intensamente nas tecnologias individuais, como a busca e o Android. O grande impacto, porém, deve acontecer quando todas as tecnologias funcionarem de maneira integrada.

E qual será o impacto dos assistentes pessoais, como o Google Assistant?

Hoje, nós fazemos a gestão da nossa vida. Temos várias tarefas para executar, temos que gerenciar tudo ao nosso redor. Se um assistente fizer todo esse difícil trabalho de coordenação, isso terá um grande valor.

Na prática, o que vai mudar?

Na área da saúde, por exemplo, hoje temos que voltar ao laboratório para retirar o resultado de um exame, levar ao médico, fazer outros exames. E se esquecemos de pegar o resultado, pode ser fatal no caso de uma doença grave. O ideal seria um assistente pessoal receber o exame de forma digital e compartilhar com o médico. Ele poderia fazer uma análise de acordo com o histórico e passaria orientações ao paciente. A dificuldade está na adaptação das pessoas a essa integração de sistemas.

A crise econômica que o Brasil enfrenta está tendo efeitos negativos na inovação?

Com a economia ruim, começa uma onda de pessimismo, que acarreta em redução de investimentos e dificulta a inovação. No Brasil, é mais uma dificuldade, já que temos alguns limitadores naturais.

Quais são esses limitadores naturais à inovação no Brasil?

Na minha opinião, que é mais minha do que do Google, é a legislação trabalhista. Ela foi criada quando o Brasil era um país rural. Ao longo do tempo, ela sofreu algumas mudanças, mas continua igual em sua essência. Se eu fundar uma empresa, contratar pessoas e ela fechar em dois anos, tenho um problema. Chamei as pessoas para trabalhar comigo, compartilhando meu sonho. Não tive sucesso e ainda sou penalizado. É um peso muito grande para quem quer inovar e, por isso, as pessoas ficam com medo de arriscar.

Dinheiro também é um problema para essas empresas?

Sim. É preciso ser mais fácil obter dinheiro a baixo custo e isso não acontece hoje em dia. O governo brasileiro quer canalizar dinheiro por meio de órgãos governamentais. São vários os programas de estímulo, mas não está dando certo. Não está funcionando bem no contexto de inovação no Brasil. Seria mas interessante se o governo estimulasse as empresas a fazer investimentos.

Depois de mais de dez anos no Google, quem você admira?

Apesar de estar aqui há mais de dez anos, venho trabalhar muito motivado todos os dias. Um dos motivos é que a empresa tem um par de fundadores (Sergey Brin e Larry Page) que, apesar de não serem do meu convívio, tomam decisões de forma honesta em situações extremas. Muitas vezes, temos que tomar decisões duríssimas, como quando tiramos a engenharia da China. Mas eles atacam problemas complexos dirigidos por princípios. É por isso que eu me orgulho de vir trabalhar aqui, todos os dias.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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