8 tecnologias que destruíram negócios
É cada vez mais comum uma empresa ter de fechar as portas, encolher ou mudar de ramo porque um avanço tecnológico tornou seu negócio obsoleto. Veja oito casos
Maurício Grego
Publicado em 28 de outubro de 2011 às 16h48.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 16h30.
São Paulo — Ao longo da história, são muitas as situações em que uma tecnologia chegou e tomou o espaço de outra mais antiga. Há exemplos óbvios no decorrer do tempo, como o fim da navegação comercial a vela depois da invenção do navio a vapor. Mas o processo se acelerou nas últimas décadas. Hoje, é mais frequente uma tecnologia provocar mudanças radicais nos negócios. Empresas especializadas na criação de cenários para o cinema, por exemplo, viram boa parte do seu trabalho ser substituído por paisagens digitais, inteiramente criadas no computador, como aconteceu no filme A Origem, que ganhou o Oscar de melhores efeitos especiais neste ano (imagem ao lado). Veja, nas próximas páginas, outros sete casos de tecnologias que mataram negócios.
Conta-se que Akio Morita, um dos fundadores da Sony , desejava ter uma maneira de ouvir suas óperas prediletas durante as viagens de avião que fazia nos anos 70. Para atendê-lo, o engenheiro Nobutoshi Kihara desenvolveu o primeiro player de música realmente portátil, o Walkman. A Sony vendeu 210 milhões de unidades de seu pequeno aparelho de fita cassete desde 1979 – um dos grandes sucessos na história da companhia. Mas tanto o Walkman como a própria fita cassete passaram a ser vistos como artefatos pré-históricos em 2001, quando surgiu o iPod, da Apple. Os players de MP3 anteriores ao iPod eram pouco práticos e não chegaram a fazer muito sucesso. O iPod , ao contrário, era compacto e fácil de usar e tinha enorme capacidade de armazenamento. Sua primeira versão já comportava cerca de mil músicas, enquanto numa fita cassete cabiam, no máximo, umas 30 faixas. Em uma década, a Apple vendeu mais de 300 milhões de unidades. A marca Walkman ainda é usada em celulares da Sony Ericsson (que, agora, se torna parte da Sony com a saída da Ericsson da sociedade). Mas a fita magnética saiu de cena definitivamente.
No início deste ano, Amazon.com divulgou que suas vendas de livros digitais haviam superado as de obras impressas. Esse marco simbólico mostra que, 40 anos depois da sua invenção, o e-book finalmente ganhou popularidade a ponto de ameaçar a indústria gráfica. Ela não deve morrer tão cedo, mas os livros digitais vão avançar cada vez mais. O primeiro e-book foi criado pelo escritor americano Michael Stern Hart. Em 1971, ele digitou a declaração de independência dos Estados Unidos num mainframe da Universidade de Illinois. Fascinado com aquela maneira de armazenar e difundir conhecimento, Hart deu início ao Projeto Gutenberg, pioneiro acervo de livros digitais que tem, hoje, 36 mil títulos. Durante mais de três décadas, porém, os e-books eram basicamente textos acadêmicos, manuais técnicos e obras literárias de domínio público. Apesar de inúmeras tentativas nos anos 90, esse tipo de livro não tinha sucesso comercial. Isso começou a mudar em 2004, quando a Sony lançou, no Japão, o Librié, primeiro e-reader com tela do tipo e-Ink. Essa mesma tecnologia seria empregada nos e-readers Kindle, que a Amazon.com passou a vender em 2007, e em muitos outros. De repente, tornou-se possível levar uma biblioteca inteira num aparelho com o formato e o peso de uma revista. De 2010 em diante, essa praticidade se estendeu também aos tablets como o iPad e o Kindle Fire (foto ao lado). Era o que faltava para o e-book decolar de vez.
Desde 1888, quando a Kodak lançou a primeira câmera fotográfica fácil de usar, a indústria de filmes prosperou. Há apenas uma década, em qualquer canto do planeta, havia lojas vendendo filmes, laboratórios para revelá-los e gente fotografando com eles. Calcula-se que haja um trilhão de fotos registradas em filmes e papeis fotossensíveis no mundo, o suficiente para cobrir uma área de 10 mil quilômetros quadrados, quase o dobro do tamanho do Distrito Federal. A Kodak foi a marca número um na era do filme. E foi nela que surgiu a invenção que acabaria matando seu próprio negócio. Em 1975, num laboratório da Kodak, o engenheiro Steven Sasson usou um sensor de luz conhecido como CCD (sigla em inglês de dispositivo de cargas acopladas) para construir a primeira máquina fotográfica eletrônica. Mas a câmera de Sasson ficaria confinada ao laboratório. Quem lançou o primeiro modelo comercial foi a Sony. Sua Mavica, que começou a ser vendida em 1981, captava imagens analógicas que eram armazenadas num disquete magnético. Em 1997, a linha Mavica evoluiu para um sistema digital. Nessa época já havia outras concorrentes no mercado. Nos últimos dez anos, com a evolução da tecnologia, as câmeras digitais ficaram mais práticas e passaram a produzir fotos de melhor qualidade (ao lado, a Olympus XZ-1). Isso, junto com o acréscimo de câmeras aos celulares, selou o destino da fotografia química, que ficou restrita a alguns trabalhos artísticos. A Kodak, que já foi sinônimo de fotografia, fechou fábricas e encolheu. E muitas lojinhas que revelavam filmes também tiveram de mudar de ramo.
Veteranos da indústria do disco devem sentir saudade dos anos 70 e 80. Naquela época, artistas de sucesso geravam montanhas de dinheiro para as gravadoras, os empresários e eles próprios. O álbum mais vendido da história, Thriller, gravado por Michael Jackson em 1982, passou de 110 milhões de cópias. No início dos anos 90, o CD tomou o lugar do disco de vinil, mas seu reinado foi curto. Em 1993, Karlheinz Brandenburg, engenheiro da empresa alemã Fraunhofer, desenvolveu a tecnologia que daria um golpe quase mortal na indústria do disco. Brandenburg criou o MP3, formato de áudio digital que emprega técnicas avançadas de compressão. Com ele, tornou-se possível gravar o conteúdo de dez CDs onde antes cabia apenas um. Na metade dos anos 90, os compactos arquivos MP3 passaram a circular pela internet. Era o começo de tudo que viria depois – do pioneiro serviço de troca de músicas Napster à loja iTunes, da Apple , inaugurada em 2003. A cada novo avanço, ficava mais conveniente obter músicas na internet e o interesse do público pelos CDs diminuía. As lojas de discos foram sendo fechadas e recordes de vendas como os do álbum Thriller tornaram-se coisa do passado.
Para os mais jovens, pode ser difícil imaginar que, há menos de 20 anos, enviar uma mensagem a alguém quase sempre significava escrevê-la num papel, colocá-la num envelope, colar um selo e depositar a carta numa caixa de correio. Depois, era só aguardar vários dias até que chegasse a resposta. Ainda que inúmeras formas de comunicação tenham aparecido nas últimas décadas, aquela que teve maior impacto no correio tradicional foi o e-mail. O correio eletrônico ganhou seu formato atual 40 anos atrás. Em 1971, o programador americano Ray Tomlinson implementou um sistema para a troca de mensagens entre os usuários da Arpanet, a rede que daria origem à internet. Foi ele quem primeiro usou o sinal arroba para separar o nome da pessoa do endereço. O sistema de Tomlinson foi rapidamente adotado em toda a Arpanet e, numa etapa posterior, na internet . O impacto do e-mail (na imagem ao lado, o Yahoo! Mail) no correio tradicional demorou a aparecer. Nos Estados Unidos, o volume de correspondência entregue manteve-se mais ou menos estável até 2007, quando passou a declinar rapidamente. A tendência é que isso aconteça também no Brasil e no resto do mundo.
Em setembro de 2010, 25 anos depois da sua fundação, a Blockbuster, rede global de locadoras de vídeo, faliu nos Estados Unidos. A empresa tinha mais de 3 mil lojas só naquele país. O fato marcou o fim de uma era em que alugar fitas de videocassete e, depois, DVDs, fez parte do cotidiano de milhões de pessoas. Era o que a maioria dos consumidores fazia quando queria assistir a um filme em casa. A Blockbuster e as outras locadoras foram mortas por um conjunto de tecnologias. Primeiro, as redes de TV a cabo espalharam-se pelo planeta e quem recebia meia dúzia de canais passou a ter acesso a dezenas deles. Em seguida, serviços de filmes sob demanda e gravadores digitais de vídeo permitiram que as pessoas assistissem aos programas no horário mais conveniente. Não havia mais necessidade de ira à locadora e alugar um DVD para isso. Nos Estados Unidos, a fundação da Netflix, em 1997, tornou o próprio ato de alugar um DVD bastante mais cômodo. As pessoas passaram a pagar uma assinatura mensal e a receber os filmes em casa. A etapa seguinte veio com o acesso à internet em banda larga, que facilitou o compartilhamento de filmes entre os usuários, além de possibilitar o aparecimento de sites de streaming como o YouTube. Depois, a Netflix e outras empresas passaram a distribuir filmes por streaming cobrando uma assinatura mensal. Embora a Netflix esteja num mau momento, ninguém questiona que o vídeo sob demanda deve continuar se expandindo. E a Blockbuster, definitivamente, ficou no passado. No Brasil, sua rede foi vendida às lojas Americanas, que transformaram as locadoras em lojas de conveniência.
Trinta anos atrás, não havia escritório sem máquinas de escrever. O clique claque dos tipos batendo contra o papel era um som constante e universalmente reconhecido. Nas primeiras oito décadas do século XX, milhões dessas máquinas foram fabricadas por empresas como IBM, Olivetti e Remington. Em 1958, 8% da receita da IBM vinha delas. Mas a barulhenta máquina de escrever começou a morrer assim que o computador pessoal foi inventado. Em 1976, o cineasta e programador Michael Shrayer criou o Electric Pencil, aplicativo que permitia escrever textos formatados no pioneiro microcomputador Altair. Muitos programas desse tipo viriam depois dele. Só o pacote Office, da Microsoft, que inclui o processador de textos Word (imagem ao lado), já passou de 500 milhões de cópias vendidas. E hoje, esses programas convivem com aplicativos gratuitos na web, como o Google Docs. Em abril deste ano, o jornal India Business Standard noticiou que a última fábrica de máquinas de escrever manuais do mundo estava encerrando a produção. A indiana Godrej & Boyce tinha apenas 500 unidades em estoque e não fabricaria mais nenhuma. Era o fim de uma era. Mas ainda resta pelo menos um fabricante de máquinas de escrever elétricas. A americana Swintec fornece esses equipamentos para presídios onde os detentos são proibidos de usar computadores.