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5G faz mal à saúde? Entenda os riscos e os rumores da tecnologia

Nova geração internet móvel pode movimentar trilhões de dólares, mas é vítima de boatos e já foi até erroneamente relacionada ao novo coronavírus

5G: tecnologia de transmissão de dados em alta velocidade ainda gera debates sobre seus riscos (Bloomberg/Getty Images)
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Rodrigo Loureiro

Publicado em 3 de junho de 2020 às 05h55.

Última atualização em 9 de junho de 2020 às 12h09.

*Atualização: diferentemente do que foi publicado, o deputado Nilso Berlanda (PL/SC) não é autor do PL 0241.5/2019. O deputado foi apenas, inicialmente, um apoiador do projeto de lei. O texto foi corrigido.

O desenvolvimento das redes de internet 5G ainda causa alguns questionamentos em relação a diferentes pontos de tecnologia e real efetividade nos negócios. Mas, nos últimos anos, a nova geração de internet sem fio seria prejudicial à saúde das pessoas. Notícias falsas, inclusive, a relacionavam com o surgimento do novo coronavírus . Desmitificar esses boatos requer alguma pesquisa.

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Antes de mais nada é preciso explicar que as redes 5G, tal como o 4G, o 3G etc., utilizam ondas de rádio para transportarem os sinais de uma antena para o telefone celular ou para outro dispositivo que se deseje conectar à internet. A diferença da quinta geração para as anteriores é que neste caso as frequências utilizadas são maiores.

A faixa de transmissão utilizada na rede 4G, por exemplo, atinge até 2,6 GHz de frequência. No 5G, essa frequência sobe para até 3,5 GHz. Mesmo assim, não há evidenciais científicas que este tipo de radiação cause problemas para a saúde das pessoas. Ao menos, não de forma tão prejudicial.

Em 2014, um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) junto à Agência Internacional de Pesquisa Sobre o Câncer (IARC, na sigla em inglês) classificou a radiação de radiofrequência tão prejudicial para a manifestação de células cancerígenas no organismo como comer legumes em conserva ou usar talco em pó.

Neste ponto é preciso entender o que realmente significa radiação. O termo que é utilizado quase que majoritariamente acompanhado de um aviso intimidador não significa necessariamente algo ruim. A radiação nada mais é do que a propagação de energia de um ponto ao outro. Por exemplo, o calor do Sol ou o calor corporal.

A radiação de radiofrequência não é propagada apenas pelas redes móveis de quinta geração. Esse tipo de energia pode ser emitido também por diversos aparelhos, inclusive smartphones. Neste caso, departamentos de saúde ao redor do mundo devem instruir as fabricantes a manterem um controle de níveis seguros de radiação desses dispositivos.

E isso é feito com certo rigor. No ano passado, a Comissão Federal de Comunicações dos EUA (FCC, na sigla em inglês) chegou a abrir uma investigação contra Apple e Samsung . Testes realizados pelo jornal Chicago Tribune mostravam que alguns aparelhos fabricados por essas duas companhias estariam extrapolando os níveis de radiação permitidos.

Segundo o estudo, a radiação por ondas eletromagnéticas de rádio foi classificada na categoria pelo motivo de que “há evidências que não chegam a ser conclusivas de que a exposição pode causar câncer em seres humanos”. Para efeito de comparação, o consumo de carnes processadas e a ingestão de bebidas alcoólicas é considerado como algo mais prejudicial.

Em um relatório de 2018, a Administração de Drogas e Alimentos dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês) classificou como “aceitáveis” os atuais limites de segurança para a exposição à energia por radiofrequência emitida por celulares. O mesmo vale para o 5G, conforme relatado um porta-voz da agência que faz parte do Departamento de Saúde americano ao Digital Trends.

Sintomas e mentiras

Para Omer van den Bergh, professor psicologia médica da Universidade de Leuven, na Bélgica, é comum que as pessoas busquem atribuir às causas ambientais sintomas como vibrações involuntárias, dificuldades respiratórias e coceiras inexplicáveis. Este tipo de comportamento é caracterizado como intolerância ambiental idiopática ou, simplesmente, doença ambiental.

"Há um grupo de pessoas que tende a atribuir esses sintomas a causas ambientais e isso é o que chamamos de ‘preocupações modernas de saúde’”, disse o especialista ao site Engadget. Segundo ele, a sociedade tende a “assumir que se há um sintoma físico, então com certeza existe uma causa fisiológica por trás”.

Isso não significa, porém, que as pessoas que afirmam que se sentem desconfortáveis por conta de radiações eletromagnéticas devem ser completamente ignoradas já que sintomas psicológicos podem fazer com que a pessoa acredite que equipamentos como torres de transmissão, smartphones e roteadores possam realmente causar desconforto.

Segundo Van den Bergh, esses sintomas realmente existem. Estudos científicos mostram que os pacientes que afirmam sentir desconforto com este tipo de tecnologia realmente ativam partes do cérebro que emitem sinais ao corpo e ao sistema nervoso. Coceira, dor de cabeça e náusea são alguns tipos desses sinais.

Mas este tipo de sintoma não é uma exclusividade das redes 5G ou de mesmo por ondas eletromagnéticas. Pesquisadores afirmam que as pessoas se sentiam desconfortáveis na presença de objetos feitos com vidro durante alguns anos na Idade Média. "As pessoas tendiam a acreditar que se tornariam transparentes", afirma Van Den Bergh.

O problema aqui é que problemas reais como os mencionados pelo pesquisador da Bélgica estão sendo utilizados para auxiliar na disseminação de fake news a respeito do 5G, a nova tecnologia de transmissão de dados pela internet em alta velocidade.

Um exemplo recente veio justamente com o novo coronavírus. Durante as primeiras semanas após o anúncio oficial da OMS sobre o estado de pandemia causado pelo vírus SARS-CoV-2, grupos de pessoas se reuniram para destruírem antenas utilizadas para a transmissão do sinal de internet sem fio de quinta geração em diferentes regiões do planeta.

O rumor de que a covid-19 teria alguma relação com a quinta geração de internet móvel parece ter sido disseminado inicialmente em um texto sem qualquer base científica publicado no dia 20 de janeiro em um site francês de teor conspiratório. O artigo culpava a construção de torres do 5G em Wuhan, na China, pelo surgimento do vírus.

Ao que os conspiradores alegam, o sinal de quinta geração causa uma radiação eletromagnética emitida por esses equipamentos é prejudicial à saúde. Uma radiação de baixa intensidade poderia resultar em quadros com sintomas como dor de cabeça, ansiedade, distúrbios do sono, alterações cardiovasculares, além de problemas no sistema nervoso.

Três meses depois que o texto foi publicado, câmeras de segurança flagraram grupos de pessoas em tentativas de destruir torres de transmissão de sinal de internet sem fio instaladas em diferentes cidades europeias. Mais de 70 incêndios foram registrados na ocasião em países como Inglaterra, Holanda, Irlanda, Bélgica e Chipre.

No Brasil os boatos ganharam força após a divulgação de um projeto de lei criado ainda durante 2019 e que proibia os testes e a instalação da tecnologia 5G no estado de Santa Catarina. De autoria do deputado estadual Marcius Machado (PL), o PL 0241.5/2019 foi proposto ainda em julho do ano passado. Meses depois, teve parecer rejeitado e foi arquivado.

A justificativa da proposta era baseada no argumento de que a mídia evidenciava apenas os benefícios da tecnologia. O texto também citava uma notícia falsa que se tornou popular na internet ainda em 2018 e que dizia que centenas de pássaros haviam morrido por conta dos efeitos radioativos da instalação de torres na Holanda.

5G: houve uma série de protestos contra o uso da tecnologia no Reino Unido em 2019 (Matthew Horwood/Getty Images)

Aposta alta

O desenvolvimento de redes 5G poderá gerar um impacto agressivo na economia global. Somente em 2020, este mercado pode movimentar 31 bilhões de dólares e  previsão é de este número suba para 11 trilhões de dólares em 2026, segundo a empresa de pesquisas ReportsnReports. Até lá, conforme dados da GSMA, organização que representa os interesses de operadoras, mais de 1,8 bilhão de conexões já terão sido realizadas.

No Brasil, somente as operadoras de telecomunicações que operarem com a tecnologia podem ganhar mais de 330 bilhões de reais nos próximos dez anos conforme cálculos da Ericsson. Os cálculos ainda mostram que o 5G será responsável por 36% das receitas das operadoras. A maior parcela virá do desenvolvimento de cidades inteligentes e conectadas através de uma rede de internet móvel sem fio que permitirá otimizar serviços públicos e privados.

Por ora o leilão do 5G no Brasil segue indefinido e a previsão é de que  disputa ocorra durante o segundo semestre deste ano ou, no mais tardar, em algum momento de 2021. A previsão é de que a arrecadação seja superior a 20 bilhões de reais. Empresas interessadas já classificaram o leilão brasileiro como o maior do mundo.

Por esses fatores, do ponto de vista mercadológico, é preciso considerar o risco que empresas gigantes como Huawei, ZTE, Nokia, Ericsson, Qualcomm, entre outras, poderiam correr caso apostassem em uma tecnologia com risco de matar milhões de pessoas. Seria uma aposta alta demais, até mesmo para o mercado de tecnologia.

 

 

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