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Trabalhador usa saques de contas inativas do FGTS para comprar imóveis

Na análise do BC, foi possível mapear o destino de R$ 13,055 bilhões, representando em torno de 30% dos recursos totais sacados (R$ 44,3 bilhões)

FGTS: maior parte dos recursos sacados por clientes foi destinada para a compra de imóveis e redução do endividamento (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

FGTS: maior parte dos recursos sacados por clientes foi destinada para a compra de imóveis e redução do endividamento (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 29 de março de 2018 às 10h43.

Última atualização em 29 de março de 2018 às 13h45.

Brasília - O saque das contas inativas do FGTS contribuiu para impulsionar o consumo de bens duráveis e não duráveis, bem como para reduzir o endividamento dos beneficiários e regularizar parte do crédito em atraso, diz o Banco Central, que produziu análise sobre o impacto da medida. O resultado consta no Relatório Trimestral de Inflação divulgado nesta quinta-feira, 29.

"Aliados à queda da inflação e melhoria do mercado de trabalho, com consequente aumento da renda real, à queda dos juros e ao aumento da confiança, esses estímulos contribuíram para a retomada da economia brasileira", diz o BC.

A liberação das contas inativas do FGTS injetou aproximadamente R$ 44,3 bilhões na economia brasileira, o equivalente a 0,71% do PIB.

Do volume total de saques, R$28,3 bilhões (ou 63,8%) foram realizados por indivíduos com dívida bancária ativa ou que utilizaram cartão de crédito (compras à vista e/ou parcelado com lojistas) como meio de pagamento. São aproximadamente 12,15 milhões de indivíduos, com saque médio de R$2.358,00. Os demais 13,85 milhões de indivíduos beneficiados pela medida realizaram um saque médio de R$1.155,00, totalizando R$16 bilhões.

Segundo o BC, a maior queda no endividamento ocorreu justamente em torno do mês em que os recursos foram liberados para saque. A instituição estimou queda de aproximadamente R$5 bilhões no endividamento, excluindo os novos financiamentos de veículos e imóveis feitos com esses recursos.

O indicador também aponta redução de aproximadamente R$335 milhões na inadimplência e impacto positivo de R$7,7 bilhões no dispêndio das famílias.

Do valor gasto pelas famílias, R$1,83 bilhão foi direcionado ao consumo realizado por meio de cartões de crédito nas modalidades à vista e parcelado com lojistas, R$590 milhões à entrada para compra de veículos e R$5,3 bilhões gastos em entrada para compra de imóveis.

"Esses números representam uma redução de 2,4% no endividamento total excluindo os novos financiamentos de veículos e imóveis e uma queda de 2,9% nos créditos vencidos para os indivíduos beneficiados pela medida", diz o BC.

Há ainda evidências de que houve adiamento da demanda por crédito diante da expectativa de ingresso de recursos nos meses seguintes.

"Por sua vez, nos meses seguintes ao do saque, há um aumento do endividamento, indicando possível uso dos recursos como entrada para novos financiamentos de bens duráveis, como imóveis e veículos", ressaltou o BC, destacando o aumento no valor total financiado desses bens.

Reformas

Após o governo praticamente ter abandonado as tentativas de aprovação de reformas em 2018, o Relatório Trimestral de Inflação do Banco Central reforça que as projeções apresentadas no documento dependem de considerações sobre a evolução das reformas e ajustes necessários na economia.

Até o documento anterior, de dezembro, ainda existia a expectativa de que a reforma da Previdência pudesse ser votada neste ano.

"As projeções apresentadas embutem o entendimento de que o processo de reformas estruturais, como as fiscais e creditícias, contribui para a redução gradual da taxa de juros estrutural", repete o BC.

"Seus efeitos sobre as projeções são capturados por meio dos preços de ativos, do grau de incerteza, das expectativas apuradas pela pesquisa Focus e através do seu efeito na taxa de juros estrutural da economia", acrescenta o documento.

Box

O Relatório Trimestral de Inflação trouxe um box que detalha os procedimentos utilizados para explicar o desvio da inflação da meta estipulada para 2017, que foram utilizados na justificativa apresentada pelo presidente da autoridade monetária, Ilan Goldfajn, na carta enviada ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, em janeiro.

No ano passado, a inflação medida pelo IPCA encerrou o ano em 2,97%, abaixo do piso da meta, que era de 3%. Quando os preços ficam acima ou abaixo do intervalo estipulado, o presidente do BC tem que enviar uma carta ao ministro da Fazenda explicando os motivos.

O box trazido no RTI apresenta mais detalhes da metodologia de decomposição da taxa de inflação em 2017. "O exercício realizado evidencia que choques de oferta relacionados ao preço de alimentos foram o principal fator para a inflação ter se situado abaixo da meta em 2017", afirma o texto.

Câmbio

O Banco Central fez uma análise sobre como são formadas as expectativas de câmbio no Brasil. Os técnicos observaram três modelos empregados para essas estimativas e avaliaram quais explicam melhor as projeções de analistas.

Segundo o BC, os resultados indicam que, para quase todas as instituições avaliadas, a Paridade Descoberta de Juros é o modelo que pior se adéqua às projeções. Esse modelo supõe que a variação esperada para a taxa de câmbio é determinada pela diferença entre as taxas de juros de dois países.

Já os modelos que explicam melhor as projeções dos analistas são a Paridade do Poder de Compra, que supõe que a variação da taxa de câmbio é dada pela diferença entre as taxas de inflação de dois países, ou o Passeio Aleatório, que supõe que a variação esperada para a taxa de câmbio é identicamente igual a zero - ou seja, espera-se que a taxa de câmbio permaneça, em média, inalterada.

"Considerando a projeção um mês à frente, o modelo de Passeio Aleatório se mostra mais aderente às projeções do Focus do que o modelo de Paridade do Poder de Compra, o que parece natural dada a proximidade com que a taxa de câmbio está sendo observada", diz o BC.

"Para as projeções dois meses à frente, e até onze meses à frente, o modelo da Paridade do Poder de Compra explica as projeções dos analistas melhor do que o Passeio Aleatório", acrescenta a instituição.

A partir da projeção para doze meses à frente, nenhum dos modelos parece estatisticamente superior ao outro para explicar as expectativas de câmbio dos participantes do Focus, segundo o BC.

A instituição ressalta, porém, que todas as avaliações realizadas foram comparações entre pares de modelos. "Logo, não se pode afirmar, em termos absolutos, que a Paridade do Poder de Compra seja o modelo mais adequado para explicar a variação nas expectativas de câmbio. Por fim, a análise também é silenciosa sobre qual a melhor forma de se projetar a taxa de câmbio", diz.

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