Incertezas na política e na economia afetam os ativos de renda fixa por meio da marcação a mercado (Jonathan Kitchen/Getty Images)
Juliana Elias
Publicado em 20 de janeiro de 2020 às 05h00.
Última atualização em 20 de janeiro de 2020 às 06h00.
São Paulo - Em meio às expectativas de que os juros, hoje na mínima histórica, continuem baixos neste e nos próximos anos, a exposição à renda fixa fica menos ligada ao aumento do patrimônio, como já foi no passado, e mais à proteção e à necessidade de liquidez, isto é, de ter uma parte do dinheiro à mão para sacar a qualquer hora e sem prejuízo.
Quem quiser ver o capital crescer nos próximos anos vai ter que diversificar. É este o tom das indicações dadas por cinco casas de análises consultadas pela edição desta quinzena da revista EXAME, para o guia Onde Investir 2020. A matéria completa, disponível para assinantes, pode ser vista aqui.
A proporção de quanto ter de cada coisa varia de acordo com o perfil da pessoa e o seu nível de tolerância ao risco – quanto mais conservador, maior será a parcela da renda fixa e de produtos tradicionais e seguros como títulos públicos e CDBs. Mas mesmo estes investidores podem e devem ter pequenas porções de seus investimentos em outras opções como fundos multimercado ou ações, por exemplo.
Não significa também que, para os mais arrojados, a renda fixa vai sumir da carteira. Os títulos e fundos de renda fixa são o pedaço do portfólio responsável por proteger o dinheiro já conquistado e, principalmente, por comportar a parte do capital que precisa estar à mão e inteiro para emergências. A indicação é que ao menos uma faixa de 30% a 40% dos investimentos continue alocada nesses tipos de ativos.
O restante deve ser dividido entre opções que tenham a possibilidade de rendimentos maiores. EXAME consultou as gestoras de patrimônio Azimut Brazil Wealth Management, Claritas e Taler e as corretoras Genial e Planner para saber como investir em 2020. Veja as categorias que mais ganharam espaço nas carteiras recomendadas por elas e que são as principais apostas para turbinar os ganhos em um ano que será inteiro de juros baixos.
São títulos emitidos por empresas para financiarem seus negócios. Podem ser debêntures, certificados de recebíveis (CRIs e CRAs) ou fundos de direitos creditórios (FIDCs).
São também renda fixa, mas, como não têm garantias como a do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que devolve até 250 mil reais para os investidores de bancos que quebram, são considerados um pouco mais arriscados.
Além disso, estão diretamente ligadas ao desempenho do negócio daquela empresa, que pode não sair como o esperado, e isso também aumenta o risco de o investidor não receber seu pagamento ao final.
O crédito privado é, por outro lado, um nicho que oferece remunerações geralmente mais altas dentro da renda fixa, e, por isso, é um dos que mais ganha espaço dentro das recomendações.
“São títulos que estão no meio do caminho entre a renda fixa e a renda variável”, disse Pedro Padilha, sócio da Genial Investimentos responsável pela área de fundos. “É como se os títulos públicos fossem a defesa, o ataque estivesse com as ações e com a renda variável, e o crédito privado fosse o meio de campo.”
Para suavizar os riscos, os gestores indicam comprar títulos emitidos por empresas sólidas e bem avaliadas pelas agências de risco, além de ter papéis de várias companhias, e não apenas de uma.
Muitos recomendem o investimento em crédito privado por meio de fundos. Isso permite ter papéis de várias empresas ao mesmo tempo, flexibiliza os resgates e ajuda a diluir os riscos de calote.
São fundos que podem investir em uma gama grande de opções, o que vai da renda fixa até ações, câmbio e commodities, no Brasil e no exterior.
Podem também trabalhar com estratégias que permitem apostar tanto na alta quanto na queda de mercados como o de ações ou de juros, o que dá a possibilidade de ganhos (e perdas) independentemente de qual seja o rumo da bolsa de valores ou da economia.
“Os gestores dos fundos multimercados se aproveitam da volatilidade para ganhar com sua capacidade de comprar ou vender ativos, e se tem uma certeza do que vai acontecer neste ano é que haverá bastante volatilidade”, disse Ernesto Leme, diretor comercial da Claritas.
Mesmo depois de quatro anos seguidos de avanço forte, a bolsa de valores continua sendo uma grande aposta para 2020. Em 2018 o Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, já subiu 15% e, em 2019, encerrou o ano com alta de mais 31,6%.
O otimismo vem do fato de que os juros devem continuar em níveis baixos ainda por algum tempo, o que estimula a migração dos investidores para ativos de maior risco e impulsiona a bolsa de valores.
Isso, aliado ao crescimento gradual da economia e, com ele, dos negócios das empresas, sustenta as perspectivas de mais um ano de bom desempenho para as ações e de boas possibilidades de ganhos no médio e no longo prazo.
“Não consigo defender nenhuma outra tese além da bolsa em alta em 2020, com todas as estratégias se beneficiando disso”, disse a estrategista da Azimut Brasil Wealth Management, Helena Veronese, mencionando opções como as ações pagadoras de dividendos, as small caps e os diferentes tipos de fundos de ações.
Empresas ligadas à economia doméstica, de setores como varejo, serviços e construção, estão entre as principais recomendações para o ano, já que a expectativa é de uma taxa de crescimento ligeiramente maior a partir deste ano.
Para os investidores iniciantes, muitos indicam entrar na bolsa de valores por meio de fundos de ações, em lugar de comprar ações diretamente. “A compra de ações exige conhecimento e dedicação de muito tempo no processo de análise”, disse Otávio Vieira, sócio e gesto da Taler.