Incertezas: conservadores devem buscar investimentos de renda fixa pós-fixados (Thinkstock/alphaspirit/Thinkstock)
Da Redação
Publicado em 17 de março de 2016 às 11h41.
São Paulo - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tomou posse como ministro da Casa Civil nesta quinta-feira (17). A cerimônia ocorreu depois que a Polícia Federal divulgou diversos grampos de ligações de Lula com integrantes do PT e uma em especial com a presidente Dilma Rousseff, que sugere que Dilma ofereceu o cargo ao ex-presidente para eliminar o risco de uma eventual prisão.
Se novas notícias não vierem à tona, mudando todo o cenário mais uma vez, e Lula de fato assumir seus trabalhos como ministro, o país deve passar por mudanças importantes em sua política econômica, e talvez até sofrer uma guinada à esquerda. Diante desse cenário - altamente turbulento, para dizer o mínimo - como o investidor deve orientar suas decisões para se proteger ou até mesmo para ganhar dinheiro com a crise política?
Por mais que os grampos tenham acirrados os ânimos dos brasileiros, André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, acredita que na prática eles não mudam muita coisa. "A não ser que o PMDB desembarque mesmo do governo, o que não parecer ser o caso, um eventual impeachment é um processo político complexo e as vias legais demoram". diz.
Assim, contando com a hipótese de que, ao menos por ora, tudo continua como está, o investidor deve ter em mente um cenário que inclui Dilma Rousseff na presidência e Lula na Casa Civil.
Juros em queda
Ainda que não seja possível cravar quais mudanças podem ser feitas com o ex-presidente de volta à ativa, algumas pistas podem ser encontradas no documento "O futuro está na retomada das mudanças", divulgado pelo PT no fim de fevereiro. Dentre as 22 medidas que sintetizam as ideias do partido para retomar o crescimento do país, a primeira prevê "forte redução da taxa básica de juros".
Perfeito, da Gradual Investimentos, afirma que a curva de juros futuros (que sinaliza as expectativas do mercado para os juros básicos) aponta para uma queda na taxa básica, Selic, tanto no curto, quanto no longo prazo. "Já está dada a queda nos juros e eu acho que o governo pode começar a cortar a taxa em outubro", diz.
O comportamento da taxa básica de juros é fundamental para a tomada de decisão do investidor, já que a maioria dos investimentos de renda fixa do mercado acompanha as flutuações da Selic ou da taxa DI, que fica muito próxima à Selic.
Os títulos de renda fixa possuem basicamente dois tipos de remuneração: prefixada, segundo a qual o investimento paga uma determinada taxa de juro, conhecida no momento da aplicação; e pós-fixada, quando a remuneração da aplicação é atrelada a um indexador, como a taxa Selic ou a taxa DI.
De maneira bem resumida, se a tendência é de queda dos juros, os títulos prefixados se beneficiam, já que eles oferecem hoje uma taxa de juro em linha com a Selic. Assim, se a taxa básica cair, esses títulos serão extremamente vantajosos em relação a outros emitidos a taxas menores - alinhadas ao patamar de uma Selic mais baixa.
Já se a tendência for de alta na Selic, ao investir em um título pós-fixado, o investidor terá em mãos um ativo que acompanhará essa alta dos juros e ainda por cima se livrará do risco que correria com um título prefixado, cujas taxas poderiam ficar desvantajosas em relação a novos títulos, emitidos a taxas superiores - em linha com o patamar mais alto da Selic.
Ricardo Kim, analista-chefe da XP Investimentos, reforça que a probabilidade de queda nos juros é alta, mas ressalta que o cenário ainda é muito volátil. Sendo assim, ele recomenda o investimento em títulos prefixados apenas a investidores que aceitarem correr uma boa dose de risco.
"Para um investidor com perfil conservador, colocar a maior parte do seu patrimônio em títulos prefixados agora não é sensato. Mas, para quem aceita maior risco, faz sentido migrar parte da carteira para títulos pré", opina Kim.
O analista-chefe da XP acrescenta que para o investidor conservador a recomendação é mesmo manter a maior parte dos recursos em investimentos pós-fixados.
Márcio Cardoso, sócio da Easynvest, afirma que diante de tantas incertezas no campo político e econômico, o investidor que busca proteção deve priorizar investimentos de renda fixa e se afastar de aplicações de renda variável, como as ações.
Com a taxa básica em um patamar atraente - a Selic está nos 14,25% ao ano -, Cardoso destaca que os investimentos de renda fixa estão oferecendo boas remunerações, tornando injustificável a tomada de risco na renda variável. "Passamos por um período muito conturbado, o mercado está mudando a cada segundo. A melhor coisa que o investidor conservador deve fazer agora é não se expor a essa volatilidade, senão é como tentar acertar a mosca voando", diz.
Assim, Cardoso orienta que o investidor aplique em títulos pós-fixados caso seu objetivo seja investir dentro dos próximos dois anos. Já se o investidor puder investir em um prazo maior, superior a dois anos, ele pode buscar títulos prefixados, mas sempre lembrando que esses títulos apresentam risco de prejuízo se forem vendidos antes do vencimento.
"Se o investidor está pensando em períodos mais longos prazo, hoje temos opções de títulos com taxas muito atraentes, como o título público Tesouro IPCA, com vencimento em 2019, 2020, que paga a variação do IPCA mais juros. É um bom negócio porque além de proteger da inflação, ele está pagando taxas de 6% ao ano ou mais", afirma o sócio da Easynvest.
Além do Tesouro IPCA, existem outros títulos públicos, vendidos pelo Tesouro Direto, que permitem ao investidor seguir as mais diferentes estratégias. Além de possuir prazos de vencimentos diferentes, esses títulos podem ser prefixados, como o Tesouro Prefixado, pós-fixados e atrelados à Selic, como o Tesouro Selic e pós e prefixados, como o Tesouro IPCA.
Títulos emitidos por bancos, como CDBs, LCIs e LCAs também podem ter remunerações prefixadas ou pós-fixadas (normalmente atreladas à taxa DI). Ainda que o risco seja maior do que o dos títulos públicos, eles podem oferecer remunerações mais atraentes. Conheça mais detalhes sobre essas e outras opções de investimentos.
Kim, analista-chefe da XP, afirma que o mercado ainda acredita fortemente em uma eventual saída da presidente Dilma Rousseff, mesmo com a nomeação de Lula como ministro. Assim, em sua opinião, a volatilidade tende a se manter. "Talvez algumas questões se alinhem mais, como a taxa de juros, que pode cair, e a inflação que tende a arrefecer, mas a expectativa sobre a alternância de poder continua movimentando o mercado", diz.
Márcio Cardoso, da Easynvest, diz que diante de tanta incerteza a bolsa deve ser uma opção apenas para especuladores, que buscam ganhar dinheiro com oscilações no curtíssimo prazo. "A Petrobras fechou nesta quarta-feira aos 7,23 reais e nesta quinta abriu o pregão aos 8,15 reais, uma alta de quase 13%, que é uma taxa imensa para um dia só, mas esse tipo de movimento é altamente especulativo", diz.
Outro ativo que tem oscilado bastante é o dólar. Nesta quarta-feira (16) a moeda caiu 0,64% e por volta das 11h15 desta quinta-feira (17) apresentava queda de 2,25% aos 3,66 reais.
André Perfeito afirma que as quedas são reflexos da manutenção dos juros básicos nos Estados Unidos, anunciada pelo Fed, o banco central americano. No entanto, ele acredita que o Banco Central do Brasil não tem interesse em manter o dólar desvalorizado, já que se a moeda cair muito as exportações brasileiras também podem ir por água abaixo. "O dólar tende a se enfraquecer, mas não tanto", diz.
Mesmo com um cenário totalmente imprevisível, o consenso entre os especialistas é que os ativos de renda variável devem continuar sofrendo altas e baixas na esteira da crise política. Assim sendo, para quem não tem sangue frio, não restam dúvidas: é hora de ficar na renda fixa, deixando a maior parte dos recursos em investimentos pós-fixados.
Veja, no vídeo a seguir, qual é a remuneração oferecida por um bom investimento de renda fixa e pela poupança:
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