Revista Exame

Uma receita para acabar com o desperdício nas obras

Ao perseguir a meta de acabar com os resíduos nas obras, a construtora Newinc encontrou um modo de reaproveitar material para beneficiar operários

O fundador, Wenio Pimenta (à esq.), e o presidente, Cláudio Carvalho: certificação pelo selo internacional Sistema B (François Calil/Exame)

O fundador, Wenio Pimenta (à esq.), e o presidente, Cláudio Carvalho: certificação pelo selo internacional Sistema B (François Calil/Exame)

DR

Da Redação

Publicado em 22 de novembro de 2018 às 05h28.

Última atualização em 23 de novembro de 2018 às 13h37.

Desperdício zero. Eis a meta da construtora goiana Newinc, num setor conhecido por gerar toneladas de resíduos todos os anos. Estima-se que o índice de desperdício dos resíduos da construção civil no Brasil chegue a 25%. Ou seja, a cada quatro prédios construídos, o material necessário para construir um é integralmente jogado fora. Os executivos da Newinc desenvolveram uma gestão dos resíduos sólidos que possibilita a eliminação completa do uso de caçambas para a retirada de entulho. A solução é organizar o consumo, a economia de materiais, os recursos naturais e direcionar o descarte do material reciclável.

Uma das técnicas utilizadas é a moagem do entulho de construção, que é reciclado e reutilizado dentro da própria obra. O material serve para produzir blocos de agregado reciclado, que são empregados em determinados pontos do empreendimento em questão. Além do esforço no canteiro para manter obras ambientalmente corretas, existe a determinação de preservar as características sustentáveis do produto final. O cerne conceitual da construção sustentável vem de uma planilha de 74 critérios, alguns extraídos de várias certificações, como a global Leadership in Energy and Environmental Design (Leed, do Green Building Council).

As boas práticas de economia nos canteiros de obras garantem retorno aos operários e conscientização. O dinheiro economizado mensalmente em cada obra é transformado em doação de casas aos trabalhadores por meio do programa Sustente-se, idealizado para construir uma casa para um operário do canteiro de obra a cada 30.000 reais economizados pelos trabalhadores. O lixo da obra vira dinheiro quando encaminhado para reciclagem, como no caso do aço, da brita e do papel. Parte dos blocos usados nas casas doadas é fabricada no canteiro de obras com o concreto que iria para o lixo — em vez disso, ele é triturado e reaproveitado. Há um processo seletivo, que escolhe os dez trabalhadores do canteiro que mais precisam do programa, e estes, por sua vez, se submetem à votação dos colegas de trabalho.

“Indiretamente, a doação impacta positivamente no engajamento dos colaboradores e fortalece a cultura de sustentabilidade de mais de 2.000 funcionários que já passaram pela Newinc desde a criação do programa”, afirma Cláudio Carvalho, presidente da construtora Newinc, que comanda a empresa ao lado do fundador, Wenio Pimenta. Desde 2014, a empresa é certificada pelo Sistema B, que reúne mais de 2.000 companhias em todo o mundo em torno de compromissos de sustentabilidade.


METAS E PRIORIDADES PARA A GESTÃO DA SUSTENTABILIDADE

No ano em que a construtora MRV bateu o recorde com 40.000 residências vendidas, 30% dos empreendimentos foram entregues com geração de energia fotovoltaica. Até 2022, todos serão | Maíra Teixeira

Em 2016, a construtora mineira MRV se tornou signatária do Pacto Global da ONU e se comprometeu a aderir aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Para analisar a aderência das práticas da companhia a cada um dos 17 objetivos estabelecidos pela organização, a MRV estruturou uma consulta tanto ao público interno quanto ao externo. Como parte desse movimento, em março de 2017 os executivos da empresa disponibilizaram um questionário online para todos os cerca de 15.000 funcionários a respeito de como incluir metas em cada área vinculada aos objetivos. “Obtivemos 1 800 respostas”, afirma José Luiz Esteves da Fonseca, gerente executivo de sustentabilidade da MRV.

Em relação ao público externo, a companhia organizou entrevistas com dez stakeholders prioritários, entrevistados a distância nas seguintes categorias: fornecedores, acionistas, associações setoriais, provedores de capital, ONGs e clientes. “O objetivo é aproximar a cada dia o tema da prática dos funcionários e da cultura da empresa”, afirma Fonseca.

O resultado do levantamento ajudou a priorizar iniciativas já existentes, além de criar outras. Ganhou força, por exemplo, a frente que prevê o aumento do uso de dispositivos que permitam a ecoeficiência dos empreendimentos. As obras passaram a ser cada vez mais dotadas de dispositivos como caixas para reaproveitamento de água da chuva, redutores de vazão de água e sensores de presença para o acionamento de lâmpadas em áreas comuns. Em 2017, quando a companhia bateu o recorde com 40.000 unidades residenciais vendidas no país, 30% de todos os projetos da MRV foram lançados com a instalação de dispositivos para a geração de energia fotovoltaica. “Temos a meta de entregar todas as moradias e condomínios com energia fotovoltaica até 2022”, afirma Fonseca.

Outro a receber impulso foi o programa Escola Nota 10. Iniciado em 2011, já formou mais de 4.000 alunos em 180 escolas criadas pela companhia para seus funcionários dentro das obras. Os cursos variam de seis meses a dois anos e podem ser de alfabetização, informática ou profissionalizantes em formações como pintor e eletricista. Os alunos têm entre 18 e 50 anos. A iniciativa integra as metas dos gerentes, que devem ter pelo menos uma escola sob sua gestão por ano. Em 2017, a MRV alcançou um recorde no número de escolas em funcionamento: 23 ativas, com 60 turmas e 921 alunos atendidos. Com investimento total de mais de 3 milhões de reais, o Escola Nota 10 já contribuiu para a redução de 25% da taxa de rotatividade de pessoal nos canteiros.

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