Acompanhe:
seloRevista Exame

Dupla confusão com o dólar e a inflação

A recente intervenção do governo para tentar conter a queda do dólar e os sinais de tolerância com a inflação solapam as bases do modelo que sustenta a estabilidade da economia desde 1999

Modo escuro

Continua após a publicidade
Cenário incerto: os movimentos da Fazenda, de Guido Mantega, e do BC, de Alexandre Tombini, foram mal recebidos (Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr)

Cenário incerto: os movimentos da Fazenda, de Guido Mantega, e do BC, de Alexandre Tombini, foram mal recebidos (Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr)

A
Alexa Salomão

Publicado em 7 de outubro de 2011 às, 15h56.

São Paulo - Há mais de uma década, o Brasil resiste às tormentas do sistema financeiro internacional e avança durante as bonanças com uma política econômica basea­da em três pilares bem definidos: o câmbio flutuante, o controle da inflação pelo sistema de metas e a formação de superávit primário para o pagamento de juros da dívida.

Uma das vantagens desse modelo é a sua clareza para orientar decisões de investidores e empresas. Desde o ano passado, porém, esse sistema tem sofrido uma gradual deterioração.

Na última semana de julho, o governo deu sinais de que pelo menos duas pernas do tripé estão mais frágeis, a do câmbio flutuante e a das metas inflacionárias.

Na frente cambial é onde o governo tornou mais explícito seu desapego ao tripé macroeconômico. Sua medida mais recente foi a intervenção no mercado futuro de câmbio com a cobrança de 1% de imposto sobre operações financeiras nos negócios com dólar.

Desde outubro, já foi feita uma dúzia de intervenções com o mesmo objetivo — até agora, sem sucesso. “Adotamos nos últimos meses uma espécie de regime cambial semiflexível”, diz Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating. É compreensível que o fortalecimento do real venha preocupando o governo.

Afinal, o real forte virou uma pedra no sapato de milhares de empresas do país, seja pela dificuldade de exportar, seja pela concorrência com o produto internacional.

Mas as medidas foram consideradas inócuas contra as forças que agem sobre o câmbio: o enfraquecimento global da moeda americana, somado à robustez da economia brasileira, que tem atraído uma torrente de investimentos estrangeiros.

“A maior parte do dinheiro que entra hoje é investimento direto de empresas interessadas em ampliar os resultados a partir do Brasil”, diz Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central.

“Não há como nem por que evitar o movimento internacional.” Como resultado da intervenção mais recente, o que se dá como certo apenas é a elevação do custo das operações de proteção cambial das empresas.


Outro efeito provável é a migração de negócios da BM&F Bovespa para a bolsa de Chicago. “É evidente que o câmbio já deixou de flutuar”, diz Celso Toledo, diretor da consultoria LCA. “É uma intervenção em cima da outra.”

A segunda informação preocupante veio na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária. O texto sinalizou que o cumprimento da meta de inflação pode ficar para 2013, e não mais para 2012, como o Banco Central vinha informando ao mercado.

A mudança ocorreu após a presidente Dilma Rousseff dizer que não vai aceitar o combate à inflação à custa do crescimento econômico. Muitos economistas já vinham criticando o fato de a meta de inflação permanecer em 4,5% desde 2005 e passaram a reforçar o prognóstico de que a leniência com a inflação vai aumentar.

Na última semana de julho, o governo também divulgou o resultado do superávit primário, a terceira perna do tripé macroeconômico. No acumulado em 12 meses, o dado está acima da meta, o que poderia sugerir que tudo vai bem neste front.

Mas não é bem assim. O saldo foi obtido basicamente com aumento na arrecadação, não com corte de gastos públicos. “O governo inventou uma nova política econômica baseada em aumento de gastos públicos, inflação e câmbio vigiado”, diz o economista Simão Silber, professor da Universidade de São Paulo. “Não há crescimento que perdure com essa receita.” 

Talvez seja exagero dizer que o governo abandonou por completo o modelo que vigorou na última década. Mais correto é dizer que aumentou a confusão no comando da economia. No momento em que o risco aumenta no mundo, não são mudanças tranquilizadoras.

Últimas Notícias

Ver mais
Remédios mais caros? Preço de medicamentos subirá até 4,5% a partir de domingo
Economia

Remédios mais caros? Preço de medicamentos subirá até 4,5% a partir de domingo

Há 3 horas

Dólar hoje: fecha à R$5 após comentários conservadores de diretor de BC dos EUA
seloMercados

Dólar hoje: fecha à R$5 após comentários conservadores de diretor de BC dos EUA

Há um dia

Banco Central projeta crescimento de 1,9% do PIB e inflação de 3,5% em 2024
Economia

Banco Central projeta crescimento de 1,9% do PIB e inflação de 3,5% em 2024

Há um dia

Galípolo: Resiliência no consumo deve persistir com Bolsa Família e queda da inflação
Economia

Galípolo: Resiliência no consumo deve persistir com Bolsa Família e queda da inflação

Há um dia

Continua após a publicidade
icon

Branded contents

Ver mais

Conteúdos de marca produzidos pelo time de EXAME Solutions

Exame.com

Acompanhe as últimas notícias e atualizações, aqui na Exame.

Leia mais