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Todos aos seus lugares em Londres

Em Londres, está quase tudo pronto para os Jogos Olímpicos — o que não tem fim é o debate sobre o seu legado

Disputa nos jogos de Pequim: os chineses bateram todos os recordes de gastos (Ding Xu/Latin Stock/Getty Images)

Disputa nos jogos de Pequim: os chineses bateram todos os recordes de gastos (Ding Xu/Latin Stock/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 6 de fevereiro de 2012 às 12h44.

São Paulo - Aabertura dos Jogos Olímpicos de Londres está marcada para o dia 27 de julho, mas a cidade já está envolta na atmosfera dos Jogos. No aeroporto de Heathrow, há cartazes com o símbolo da Olimpíada por todos os lados. Nas laterais dos tradicionais táxis pretos, adesivos chamam a atenção para o evento.

Na Trafalgar Square, um relógio faz a contagem regressiva. Como as principais arenas esportivas ficaram prontas há meses, algumas competições preparatórias estão sendo organizadas, até como forma de teste para a realização dos Jogos — os últimos antes do evento que será realizado no Rio de Janeiro em 2016.

As obras que ainda faltam seguem num ritmo calmo. O que ainda não amainou foi o debate sobre os custos e, principalmente, sobre o legado da Olimpíada para a cidade e para o país.

Em 2003, quando a ministra Tessa Jowell anunciou que a cidade organizaria a Olimpíada de 2012, o orçamento de Londres era estimado em 5 bilhões de dólares. Depois de várias revisões do projeto, o valor chegou a 15,5 bilhões de dólares, segundo o último balanço feito em meados de 2011.

Embora não haja até agora denúncias de grandes desperdícios e de casos escabrosos de corrupção, o recente anúncio de que a conta poderia ficar ainda mais cara causou polêmica. Pela última estimativa, serão necessários mais 500 milhões de dólares para o setor de segurança.

Com gastos que parecem não ter fim, parte da população começa a perder o espírito esportivo. “A maior preocupação é se o investimento terá retorno”, diz Stephen Dunham, presidente da Dunham Consulting, consultoria inglesa especializada em gestão esportiva.

A meta é perseguir o sucesso de Barcelona, que ganhou um novo status em 1992, e evitar a qualquer custo o fracasso de Montreal, cidade que demorou cerca de 30 anos para pagar as extravagâncias de 1976.

Até os anos 70, a Olimpíada era um evento de menor porte, financiado pela receita de loterias. Desde então, os orçamentos aumentaram na mesma proporção da atenção despertada pela competição em todo o mundo. Com a Grécia (organizadora dos Jogos de 2004) quase quebrada e a China (sede da Olimpíada de 2008) desacelerando, ganha força a discussão sobre o custo-benefício do evento.


Para a maioria dos economistas que se debruçaram sobre esse tema, as vantagens tangíveis são transitórias e relativamente pequenas para o restante da economia. Há dois anos, o Itaú Unibanco fez uma análise do impacto econômico das oito Olimpíadas realizadas entre 1980 e 2008.

A conclusão foi que os países acrescentaram, em média, 0,7 ponto percentual na taxa de crescimento nos três anos anteriores e no ano dos Jogos. Nos anos seguintes, não foi possível avaliar se houve ou não impacto. O estudo não deixa dúvida de que o aumento está ligado aos investimentos feitos em infraestrutura.

Adam Blake, professor de economia da Universidade de Nottingham, chegou a conclusões parecidas. Segundo Blake, não há padrão no período posterior ao evento. Na Austrália, por exemplo, o PIB cresceu nos dois anos anteriores e no ano dos Jogos, mas caiu nos anos seguintes.

Uma área que os próprios economistas admitem que ainda precisa ser estudada mais a fundo são os benefícios intangíveis, como o aumento da autoestima da população. Essa mudança de astral fica clara no caso do Rio de Janeiro — que parece ter renascido após décadas de um pessimismo generalizado.

A pouco mais de quatro anos e meio do início da Olimpíada de 2016, o cronograma está relativamente em dia, com algumas obras já em execução. O orçamento inicial é de 28 bilhões de reais — uma revisão está prevista para 2012. O Porto Maravilha, onde serão rea­lizadas as regatas, está sendo revitalizado sem utilizar dinheiro público.

A ideia é repetir a bem-sucedida mudança no Wentworth­ Point, em Sydney, uma região degradada transformada em bairro residencial. “Queremos aprender com as experiências de outras cidades”, diz Maria Silvia Bastos Marques, presidente da Empresa Olímpica Municipal. Incompetência nas três esferas do governo e escassez de mão de obra são dois fatores que podem atrapalhar os planos.

“O risco do Brasil é não cumprir o planejamento”, diz Maurício Girardello, sócio da PricewaterhouseCoopers. Os envolvidos no projeto dos Jogos Olímpicos de 2016, obviamente, negam qualquer risco. Dizem ter um planejamento semelhante ao de Barcelona. Para evitar o excesso de otimismo, é bom todos eles ficarem com o fiasco dos Jogos Panamericanos, realizados no Rio em 2007, bem vivo na memória. 

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