De aviso-prévio: frente à recessão certa, a tarefa número 1 das empresas é faturar o que for possível — e fechar com lucro (Mauricio Lima/AFP)
Da Redação
Publicado em 8 de abril de 2015 às 18h08.
São Paulo -- Uma das poucas vantagens das recessões é que, ao contrário de Terremotos, desastres de avião e derrotas no futebol, nunca chegam de repente. Educadamente, avisam com antecedência a que horas chegarão para a visita, e com isso sempre é possível preparar-se para lhes fazer as honras da casa e conviver com elas, bem ou mal, até que decidam levantar-se para ir embora.
É uma pena que não anunciem, também, a hora precisa de sua partida, mas a vida tem mesmo essas incertezas; mais vale aproveitar o que já temos, e que no caso é esse seguro contra surpresas, do que ficar sentindo falta das coisas que não temos. Muito bem — todo mundo já está devidamente notificado de que haverá recessão em 2015, mesmo porque ela está aí.
Menos 1% de crescimento? Menos 2%? Pior ainda que isso? A ver. A informação exata estará disponível no fim no ano; por enquanto, basta saber que o tempo fechou e que é preciso atravessar um temporal de bom tamanho. O ano de 2016, aparentemente, também já está com sua sorte encaminhada. Vai ser ruim, até porque muito de seu desempenho conecta-se com a recessão de 2015.
Enfim, recebido o aviso-prévio informando que nestes próximos dois anos as vacas podem ou não tossir, mas com certeza vão ser magras, as prioridades se concentram em escolher um manual de sobrevivência eficaz — e executar direito suas recomendações.
Como é bem sabido, não há muita filosofia nessas horas. A tarefa número 1 é faturar o que for possível, num mercado em que consumidores e clientes não querem ou não podem gastar.
A segunda tarefa número 1 é fechar o balanço do ano com lucro — proeza que se pode obter com corte de custos, ganho de produtividade, melhorias de gestão, boas ideias e outros recursos conhecidos há muito tempo, mas que dependem do andamento, pelo menos razoável, da primeira tarefa, pois, sem vender, ninguém vai a lugar nenhum.
O problema, como em qualquer travessia de deserto, é livrar-se da bagagem desnecessária sem, ao fazer isso, jogar fora a água. Muitas empresas brasileiras, com a experiência de outras recessões, sabem como fazer essas coisas — tanto que continuam vivas. As outras terão de aprender.
Há ainda, diante das realidades do momento, uma oportunidade que merece atenção. Um ano de 2015 ruim, seguido de um 2016 parecido, leva obrigatoriamente a 2017, ou até mais adiante; estamos, aí, em pleno “longo prazo”, esse longo prazo do qual as empresas gostam tanto de falar, e tão pouco de levar a sério, quando os confortos do presente deixam em segundo lugar as necessidades do futuro.
A recessão que ora se abre à frente é um excelente momento para testar a capacidade do mundo dos negócios brasileiro trabalhar efetivamente em termos de longo prazo. É a hora de pensar em estratégia e planejar qual empresa se quer ter depois que a fase negativa for embora.
Todo mundo sabe das complicações extremas que existem no Brasil quando alguém tenta fazer planejamento de longo prazo; isso é verdade em qualquer lugar do mundo, pois as expectativas costumam ter vida própria, mas aqui tudo é mais difícil por princípio. Mas vale a pena, com certeza, colocar bons esforços na tarefa de pensar no Brasil que estará aí daqui a três, ou quatro, ou cinco anos.
O país vai muito mal no momento, sem dúvida, porque tem um governo prodigiosamente ruim. Mas já esteve em situações parecidas, ou até piores, no passado e sempre acabou saindo dos buracos em que caiu; só desapareceu, nessas ocasiões, quem cedeu ao pânico.
Não se pode esquecer que o Brasil, ao contrário de tantas outras nações, é um país que conserta rápido — e, mais ainda, que tem uma longa experiência em sobreviver a governos ineptos, estúpidos ou mal-intencionados.
Até agora, esses governos sempre acabaram antes que conseguissem acabar com o Brasil. É claro que há uma primeira vez para tudo, ou quase tudo, mas já estão no ar diversos sinais indicando que o país não deve ficar sob a mesma gerência por muito mais tempo. O segredo é aguentar vivo até lá.