Revista Exame

O sonho de enfrentar Gates

O site de busca Google e o novo browser Firefox tentam invadir o território da Microsoft

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Da Redação

Publicado em 10 de março de 2011 às 13h17.

Bill Gates já afirmou que qualquer garoto numa garagem é uma ameaça potencial a seu negócio. Isso é certamente um exagero. Afinal, a Microsoft fatura 37 bilhões de dólares por ano e detém um virtual monopólio sobre o universo da computação pessoal. Simplesmente não há como um bando de nerds ameaçar a solidez da maior empresa de software do planeta.

Mas, sempre que surgem pretensos rivais da Microsoft, há quem teime em ver Gates como uma espécie de demônio digital e torça para que ele perca. Gates normalmente vence, e a lista dos que sonham enfrentá-lo só faz crescer.

Depois de vitórias sobre IBM, Borland,VisiCalc, Apple e Netscape, entre dezenas de outras empresas, dois novos nomes surgiram no radar da Microsoft nos últimos meses. O primeiro é o Google, o maior mecanismo de busca da internet, que lançou recentemente uma versão para uso pessoal em micros. O segundo é um novo navegador chamado Firefox, que não pertence a nenhuma empresa e é mantido por uma rede de colaboradores reunidos na Fundação Mozilla.

O Google protagonizou a oferta pública de ações mais esperada desde o estouro da bolha da internet. Seus papéis valorizaram mais de 100% e hoje a empresa está avaliada em 45 bilhões de dólares. Já o Firefox, lançado no último dia 9 de novembro, alcançou a marca dos 5 milhões de downloads em apenas duas semanas e, pela primeira vez, o Explorer, da Microsoft, viu sua participação reduzida a menos de 90% dos PCs.

Mas, convenhamos, ainda são 90%, diante de uma fatia de 7,4% para toda a família de navegadores Mozilla (não só o Firefox). A Microsoft vale 290 bilhões de dólares, tem mantido seu crescimento há anos e continua sendo uma das ações mais sólidas do mercado financeiro.

Se é bem verdade que Gates não tem muito com o que se preocupar, a novida de é que seus concorrentes tentam agora fincar pé naquilo que ele sempre fez questão de resguardar como território inexpugnável: a tela do PC. A versão para uso pessoal do Google promete trazer para o dia-a-dia do micro a facilidade de uso e o acesso às informações que o buscador trouxe para a navegação na web.

Graças à sua interface simples e a um sofisticado sistema de classificação, desenvolvido pelos fundadores, Larry Page e Sergey Brin, quando estudavam na Universidade de Stanford, na Califórnia, o Google transformou para sempre a busca entre os bilhões de páginas da rede.


No micro, a situação hoje é semelhante. Acumulam-se centenas de arquivos de imagens, sons, vídeos e textos sem que o usuário saiba direito onde guardou o quê. A versão pessoal do Google surge como uma caixinha de busca embaixo da tela, é capaz de lidar com vários formatos de arquivos e ainda monitora o comportamento do usuário durante o uso da internet, para facilitar também as pesquisas na rede.

Outro serviço do Google é o Gmail, o primeiro sistema de e-mail gratuito com ampla capacidade de armazenamento. As receitas da empresa vêm de anúncios direcionados, vendidos de acordo com os termos das buscas ou o comportamento do usuário. A idéia do Google é oferecer os principais serviços usados no dia-a-dia para se tornar a mais popular porta de entrada não só para a internet, mas também para o micro. Facilitar a vida de quem usa computador sempre foi a chave do sucesso da Microsoft.

Não é à toa que ela já reagiu. No início do próximo ano, a empresa lançará o MSN Search, um concorrente do Google -- a versão de testes já está em funcionamento (http://beta.search.msn.com) e dá uma boa idéia do produto. A página de acesso é simples e há alguns serviços extras. A função "Procure perto de mim" ("Search near me") identifica a localidade do usuário e oferece resultados nas redondezas.

Também é possível definir a pesquisa pelo grau de popularidade dos sites ou priorizar os que tiveram atualizações recentes. "Nossos levantamentos mostraram que grande parte das buscas na internet ainda não traz o resultado esperado pelo internauta", diz Osvaldo Barbosa de Oliveira, diretor da MSN para o Brasil e para a América do Sul.

Quando a Microsoft divulgou que sua ferramenta fazia buscas em 5 bilhões de páginas na web, o Google logo anunciou um aumento no número de páginas indexadas, de 4,7 bilhões para 8 bilhões. Está em jogo a também bilionária verba de publicidade associada aos resultados das pesquisas -- só o Google fatura quase 1 bilhão de dólares por ano com anúncios. Nos Estados Unidos, publicidade na internet já representa 5% do total das mídias, diante de pouco mais de 1% no Brasil.

No caso do Firefox, lançado no último dia 9 de novembro, o que está em jogo não é dinheiro. Tudo o que a Fundação Mozilla ganhou com o lançamento foram 250 000 dólares em doações para pagar anúncios de página inteira no The New York Times apresentando o projeto. O ob jetivo é provar que os métodos abertos de desenvolvimento de software geram produtos melhores e mais duradouros.

O criador do Firefox, Blake Ross, já fazia parte da equipe da Netscape quando era um garoto de 14 anos. Outros pioneiros dos browsers também aderiram ao produto. O resultado é um navegador mais rápido e mais seguro que, como o Netscape no passado, também se propõe a ser uma nova porta de entrada para o micro para o acesso a centenas de serviços.

O Firefox bloqueia as janelas automáticas de publicidade (pop-ups), permite abrir várias páginas na mesma janela, simplifica os mecanismos de privacidade e dá um pouco mais de espaço de tela aos sites. Sem falar, é claro, no Google como sistema de busca associado. Segundo analistas, o que mais beneficiou o Firefox foram as falhas de segurança do Explorer -- o navegador mais usado, portanto o mais atacado por vírus e hackers. A Microsoft já resolveu vários problemas, mas só o tempo dirá se o Firefox não passa de mais um sonho.


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