Revista Exame

O novo mapa do dinheiro dos brasileiros

Por que mais brasileiros estão investindo parte do patrimônio em ações, moedas e títulos de renda fixa de outros países — e como fazer isso sem tirar dinheiro do Brasil


	Fábrica da Weg: gestores que acham que as empresas brasileiras ficaram caras têm aplicado em ações de concorrentes estrangeiras .
 (Germano Lüders/EXAME.com)

Fábrica da Weg: gestores que acham que as empresas brasileiras ficaram caras têm aplicado em ações de concorrentes estrangeiras . (Germano Lüders/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 28 de fevereiro de 2013 às 13h44.

São Paulo - Os investidores que mais ganharam dinheiro na Bovespa nos últimos meses compraram ações de empresas voltadas para o mercado interno. Mas uma turma que fez apostas radicalmente diferentes também tem se dado muito bem — são os investidores que compraram papéis de companhias estrangeiras listadas na bolsa brasileira, os BDRs.

Esses papéis acompanham as cotações de cada uma dessas companhias em suas bolsas de origem. Assim, quem comprou BDRs do site de comércio eletrônico Amazon, por exemplo, ganhou 80% em um ano. O índice que reúne os BDRs negociados no mercado brasileiro subiu 35% em 12 meses — só perdeu para a alta média das ações de empresas de consumo, que foi de 39%. No mesmo período, o Ibovespa caiu 2%.

Os BDRs não são o único investimento internacional acessível para os brasileiros que deu bons retornos recentemente. Fundos que compram ações mexicanas, como um que foi lançado pelo banco Itaú no fim do ano passado, ganharam com a valorização de 22% da bolsa do México nos últimos 12 meses.

Foi uma das maiores altas entre os principais mercados de ações do mundo. Alguns dos fundos multimercados mais rentáveis de 2012 aplicam parte do patrimônio no exterior — é o caso das carteiras da gestora Advis, que tiveram retornos de até 23%. 

O marasmo da bolsa e a queda dos juros fazem com que, pela primeira vez na história, gestores recomendem a seus clientes que apliquem fora do Brasil. A ideia não é proteger o patrimônio de alguma crise local — como pode ter ocorrido nos anos 80 e 90 —, mas tentar conseguir retornos maiores.

Há algum otimismo com os sinais de recuperação da economia mundial — puxada, principalmente, por Estados Unidos e China —, ao mesmo tempo que parece cada vez mais difícil achar oportunidades interessantes no Brasil.


"Os setores que continuam aquecidos, caso de varejo e de pequenas empresas voltadas para o mercado interno, estão caros na bolsa. A previsão é de um crescimento econômico mediano. É um empurrão para o exterior", diz Mário Felisberto, diretor de investimentos da gestora do banco HSBC. 

Não é preciso mandar dinheiro para fora do país para aplicar no exterior. Hoje, praticamente todos os mais de 8 000 fundos multimercados e de ações podem investir parte do patrimônio no mercado internacional — e 155 deles têm 15 bilhões de reais lá fora, segundo um levantamento da consultoria Economática.

O banco Citi lançou até um fundo de ações com capital protegido para aplicar em papéis americanos (que, aliás, estão entre as principais apostas dos gestores para este ano). Nesse tipo de fundo, o cotista não perde dinheiro mesmo quando a bolsa cai, graças a proteções feitas no mercado de derivativos.

Apesar de ter subido 13% em 2012 e ter superado seu recorde histórico, a bolsa de Nova York, de forma geral, continua barata, na opinião da maioria dos analistas — o preço médio dos papéis que fazem parte do índice S&P 500 está 12% abaixo da média das últimas décadas.

"Com o custo da mão de obra aumentando na China e a forte queda do preço da energia nos Estados Unidos, o país ganhou competitividade, e isso vai se refletir no desempenho das empresas", diz Ennio Moraes, diretor de investimentos do Citi no Brasil. No ano passado, a fabricante de eletrodomésticos Whirlpool, por exemplo, levou uma linha de produção da China para os Estados Unidos. 

Se as previsões se confirmarem e os Estados Unidos forem bem, o México deve ser um dos maiores beneficiados — 80% de suas exportações vão para o vizinho do norte, e mais de 18.000 empresas americanas têm operações ali. Isso tem se refletido na bolsa. Quatro das seis grandes ofertas de ações de empresas da América Latina previstas para sair até meados de fevereiro são de companhias mexicanas.


O país­ está na mira dos gestores de fundos, mas a maioria não está mais aplicando na bolsa local — a avaliação é que boa parte das ações ficou cara depois da alta de 22%. As apostas são na valorização do peso mexicano, em razão do aumento das exportações e dos investimentos estrangeiros.

Outro grupo de gestores pretende ganhar dinheiro neste ano sendo pessimista. Para a Advis, a situação na Europa não vai melhorar tão cedo, o que deve fazer o euro continuar em baixa em relação ao dólar. A gestora também vem comprando títulos públicos da França, por acreditar que o governo vai subir os juros desses papéis para conseguir rolar sua dívida. 

Nem todas as gestoras têm definido países que parecem mais promissores para investir. A estratégia da carioca Dynamo, que tem uma equipe de seis pessoas em Londres, é ganhar na diferença: comprar ações de multinacionais que têm boa parte de suas receitas vindas de países emergentes, mas são listadas em bolsas americanas ou europeias.

Em geral, suas ações estão mais baratas do que as de companhias semelhantes listadas em bolsas emergentes. Levantamentos feitos pelo Citi e pela consultoria MSCI mostram que as empresas brasileiras de alimentos e higiene pessoal são quase 50% mais caras, em média, do que suas concorrentes na Europa e nos Estados Unidos. As de saúde valem 90% mais, e as de bens de capital, como a Weg, custam 21% mais.

Hoje, um dos principais investimentos da Dynamo é a fabricante suíça de elevadores e escadas rolantes Schindler, dona da marca Atlas no Brasil, que, mesmo com a crise na Europa, conseguiu aumentar as receitas e a margem de lucro em 2012. Suas ações valorizaram 34% em pouco mais de um ano e estão no pico histórico. É um jeito de ganhar com o mercado doméstico brasileiro, mas fora do Brasil.

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