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Os alemães não parecem dispostos a ouvir o anti-Merkel

Peer Steinbrück, líder social-democrata alemão, se inspirou nas ideias do presidente francês, François Hollande, para tirar Angela Merkel do poder. O eleitorado, claro, não parece disposto a ouvi-lo

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Peer Steinbrück, expoente do Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD) (Carsten Koall/Getty Images)

Peer Steinbrück, expoente do Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD) (Carsten Koall/Getty Images)

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Verena Fornetti

Publicado em 13 de junho de 2013 às, 07h48.

São Paulo - Para os amigos, Peer Steinbrück, o expoente do Partido Social-Democrata da Alemanha escalado para enfrentar Angela Merkel nas eleições de setembro, tem um senso de humor aguçado.

Para os inimigos, Steinbrück não para de meter os pés pelas mãos. Após o anúncio do resultado da eleição italiana em fevereiro, Steinbrück chamou o ex-comediante Beppe Grillo e Silvio Berlusconi, os líderes de dois dos partidos mais votados, de “palhaços”.

A referência acabou inspirando uma capa da revista britânica The Economist, mas fez o presidente italiano, Giorgio Napolitano, cancelar um encontro com o líder social-democrata. Antes disso, Steinbrück havia se atrapalhado ao tentar explicar o alto índice de popularidade de Merkel — 68% dos alemães afirmam estar muito satisfeitos ou satisfeitos com ela, enquanto apenas 32% dizem o mesmo sobre ele.

Na sua opinião, Merkel teria um “bônus” por ser mulher, uma declaração que foi interpretada como um desrespeito aos méritos da chanceler e uma ofensa a todas as mulheres de sucesso. A autoflagelação eleitoral não parou por aí. O político com fama de esnobe disse que o salário de chanceler, justamente a posição que pretende conquistar, era baixo demais.

Nem Gerhard Schröder, o último social-democrata a ocupar o cargo máximo do executivo alemão, se aguentou: “Qualquer um que ache o salário de um político muito baixo pode procurar outra carreira”.

Para completar, Steinbrück ainda teve de vir a público explicar o 1,6 milhão de dólares que ganhou com palestras nos últimos três anos. Agora que está em campanha, o histórico de frases infelizes transformou-se num passivo. 

Steinbrück foi ministro da Economia de Merkel de 2005 a 2009, período em que durou a coligação entre os democratas cristãos e os sociais-democratas. Em linhas gerais, os dois não divergiram publicamente sobre como conduzir as finanças do país enquanto estiveram juntos.

Hoje, fora do governo, Steinbrück se opõe à condução de Merkel na crise da zona do euro. E isso importa não apenas para os alemães mas para todo o continente.

Nas ruas de várias capitais europeias, cartazes em que a chanceler alemã aparece com um bigode de Hitler se tornaram comuns. Embora criticada no exterior por sua defesa de políticas de austeridade para os países em crise, em casa Merkel está em alta — ainda mais depois de ter imposto medidas duras para o resgate financeiro de Chipre. Por isso, Steinbrück não rejeita a necessidade de responsabilidade fiscal, mas diz que é preciso mais que isso. “Os sociais-democratas querem agregar o crescimento econômico a essa fórmula”, diz Wessels Bernhard, pesquisador sênior do Centro de Pesquisa de Ciências Sociais, de Berlim.


 Considerado um conservador dentro de seu partido, o principal nome da oposição tem tentado se mover mais à esquerda. Para isso, adotou uma plataforma inspirada na que levou François Hollande à Presidência da França no ano passado. Assim como o vizinho socialista, o alemão promete elevar o percentual do imposto de renda para os mais ricos.

Também planeja ampliar a taxação sobre ganhos de capital de 25% para 32% e introduzir um salário mínimo obrigatório de 8,50 euros por hora. As propostas de uma mão mais pesada do Estado são uma tentativa de unir todas as alas do partido.

Mas tem um problema: são essas ideias que estão fazendo a França ser vista com desconfiança crescente no mundo da economia. Hollande, hoje, é o presidente francês mais impopular das últimas  cinco décadas. A Europa é cada vez mais um quintal alemão — para desespero de muitos vizinhos.

Ilha de prosperidade 

O maior dilema dos sociais-democratas é que Merkel continua em alta. De acordo com a última pesquisa do instituto Forschungsgruppe Wahlen, a atual coligação da chanceler, formada pela União Democrata Cristã e pela União Social Cristã, tem 40% das intenções de voto, ante os 29% dos sociais-democratas de Steinbrück.

Para a maior parte do eleitorado, ela é a encarnação da confiança e da modéstia. Mesmo depois de assumir o cargo em 2005, continuou vivendo no mesmo apartamento, no centro de Berlim. Em entrevistas, diz que gosta de cozinhar, ouvir jogos de futebol no rádio e plantar morangos no jardim.

Embora sua imagem seja positiva no eleitorado alemão, o que tem sustentado sua popularidade é a saúde da economia. Ao contrário do que acontece na maior parte da zona do euro, o PIB alemão cresce desde 2010. O desemprego está estável há um ano em 5,4%, menos da metade da média dos países da moeda única.

Para Steinbrück, o pior é que não há sinal de uma deterioração econômica capaz de virar o humor do eleitorado. Por enquanto, a impressão geral é que ele não tem a menor chance de conseguir aquele emprego que paga mal.

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