Revista Exame

Como estabelecer uma economia mais sustentável, resiliente e inclusiva

Empresas, governos e sociedade civil precisam trabalhar em conjunto para garantir distribuição de riqueza

Linha de produção: repensar a colocação de profissionais no mercado de trabalho é papel de empresas e governos (Zheng Jiayu/VCG/Getty Images)

Linha de produção: repensar a colocação de profissionais no mercado de trabalho é papel de empresas e governos (Zheng Jiayu/VCG/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 19 de novembro de 2021 às 06h00.

A covid-19 está ampliando o foco em muitos desafios com os quais o mundo há tempos tem lutado, como o aumento da desigualdade, o acesso insuficiente à saúde e à educação adequadas e as mudanças climáticas. Antes da pandemia, as pessoas já faziam perguntas difíceis sobre globalização e progresso tecnológico. Mesmo com a criação de riqueza e a redução da pobreza das últimas décadas, as oportunidades econômicas são ilusórias para muitas pessoas, independentemente de suas habilidades. A resultante fragmentação da sociedade representa uma grave ameaça à saúde de longo prazo de empresas, cidadãos e economias.

É uma chance rara de pensar grande. Na crise está a oportunidade de estabelecer novas bases para uma economia mais sustentável, resiliente e inclusiva. Mas que cara teria essa economia — e essa sociedade — resiliente? Que princípios devem guiar as escolhas difíceis que teremos de fazer? Como podemos garantir que todos estejam a bordo?

A Business for Inclusive Growth (B4IG), parceria estratégica entre a OCDE e 35 grandes empresas globais, é uma grande iniciativa que visa mudar o modo como os negócios são feitos. Ela reúne entidades dos setores público e privado para apoiar o desenvolvimento de modelos de negócios mais inclusivos, que por sua vez são os blocos de construção de um modelo econômico de longo prazo mais sustentável.

Aqui inclusão significa oferecer maior igualdade de acesso a bons empregos e oportunidades de treinamento, bem como comprometer-se com a diversidade, o equilíbrio de gênero e os direitos humanos, que podem levar a mais confiança e engajamento em relação a funcionários, clientes e outras partes interessadas.

Uma das principais prioridades da B4IG é repensar como se mede o desempenho das empresas. Em diálogo com o Centro de Bem-Estar, Inclusão, Sustentabilidade e Igualdade de Oportunidades da OCDE, a coalizão tem explorado como indicadores de desempenho não financeiros — como o bem-estar dos investidores e as pegadas ambientais — podem ser incorporados em modelos de negócios. Eles abrangem desde habitação e saúde até conhecimentos e habilidades, e se aplicam não só a funcionários e consumidores mas a fornecedores e à sociedade.

Mais de 30 trilhões de dólares de ativos no mundo atendem hoje a algum tipo de critério ambiental, social e de governança, o equivalente a uma alta de mais de 30% em relação a 2016. A ascensão dos investimentos guiados por ESG ressalta o papel vital que as finanças têm desempenhado na incorporação de métricas não financeiras na alocação de capital.

As parcerias público-privadas são essenciais para uma recuperação forte e inclusiva e para enfrentar os desafios que temos pela frente. Os problemas globais de hoje exigem um novo pensamento sobre os papéis de empresas, governos e sociedade civil, e uma reflexão sobre como eles podem funcionar melhor juntos.

Não é suficiente para os governos simplesmente arbitrar o mercado e “sair do caminho”. Governos são necessários para moldar e criar mercados, incentivando e eliminando ou reduzindo o risco de certos investimentos, além de estabelecer estruturas regulatórias e de apoio direcionadas. A inovação do setor privado em tecnologia e saúde muitas vezes não poderia ter acontecido sem apoio público. Podemos agradecer aos governos pela pesquisa que resultou na internet, na energia limpa e nas vacinas.

Administrar as transições verde e digital — incluindo a tendência de automação em substituição à mão de obra — exigirá um grande esforço na requalificação de trabalhadores. Na União Europeia, 75% das empresas com mais de dez funcionários já fornecem, ou financiam parcialmente, treinamento para suas equipes. Mais empresas e governos devem seguir o exemplo para estender o acesso àqueles que mais precisam.

Governos e empregadores precisam se unir para ajudar alunos a se beneficiarem do aprendizado baseado no trabalho, criando arranjos mais flexíveis e desenvolvendo parcerias locais entre escolas e empresas.

Empregadores também devem se envolver ativamente na orientação profissional para preparar os jovens para o mundo do trabalho. E as empresas devem atuar no combate à desigualdade de gênero, com licença parental remunerada e creche, regras de transparência salarial e criação de anúncios de emprego imparciais.

Sobre esses fundamentos, podemos começar a construir novas bases para a prosperidade econômica de longo prazo para além da covid-19. A escala dos desafios que enfrentamos é inédita. Devemos discuti-los e solucioná-los por meio de fóruns globais, como o ­Fórum da Paz de Paris. Muitos estão adotando o slogan “reconstruir melhor”. Mas não podemos resolver os problemas do mundo de hoje voltando às soluções de ontem. Precisamos reconstruir melhor à frente.

(Arte/Exame)

 

 

 

 

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