Fortaleza: assumiu a liderança nacional de atratividade no segmento econômico (Julia Jabour/Exame)
Repórter
Publicado em 27 de novembro de 2025 às 06h00.
Última atualização em 27 de novembro de 2025 às 16h46.
Fortaleza não apenas subiu alguns degraus no mercado imobiliário, ela mudou de patamar. A nova edição do Índice de Demanda Imobiliária (IDI) trouxe a confirmação do que o setor já intuía: a capital cearense destronou Curitiba e assumiu a liderança nacional de atratividade no segmento econômico, tornando-se hoje a cidade mais atraente do país para novos projetos.
A virada, porém, é mais profunda do que a troca de posições no ranking. Ela revela uma reconfiguração do mapa imobiliário brasileiro. Fortaleza sempre teve força no segmento de renda familiar entre R$ 2 mil e R$ 12 mil, mas agora atua como motor nacional.
O IDI mostra que a cidade lidera no padrão econômico, impulsionada por maior liquidez e redução da oferta de usados. Menos estoque no mercado secundário significa uma leitura simples de que o que é lançado vende, e rápido. Parte dessa aceleração vem das mudanças no Minha Casa, Minha Vida desde 2023, que tornaram o financiamento mais acessível no Norte e no Nordeste.
José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), uma das entidades responsáveis pelo IDI, observa que' as mudanças recentes facilitaram a aprovação de famílias com menor renda e mais informalidade.
Antes, era comum que os governos da região devolvessem parte do recurso do programa por falta de compradores aptos. "Agora, as pessoas começaram a ter condições de compra, e os recursos são utilizados integralmente. As empresas também começam a crescer mais do que as de outros estados, por terem mais mercado", diz Martins.
Os números do mercado secundário também confirmam uma virada. Segundo o Índice FipeZAP, as vendas de usados aceleram de forma contínua desde 2023 e atingiram em 2025 o melhor desempenho recente, com alta de 13,4%, ante crescimento de 8,4% em 2024 e de 6,8% em 2023. Em sentido inverso, a curva do aluguel despencou após o pico de 28,6% em 2022 para 10,8% neste ano.
O levantamento mostra, ainda, que cresceu o interesse por unidades de até 50 metros quadrados (de 11% para 20%) e por apartamentos de dois quartos (de 29% para 37%), tendência que redesenha o perfil dos futuros lançamentos.
"Fortaleza ganhou destaque nacional no mercado imobiliário, impulsionada por investimentos privados e pelo avanço simultâneo do Minha Casa, Minha Vida, e pelo Entrada Moradia. O programa regional teve início em junho do ano passado e, até outubro deste ano, já somava mais de 6.000 contratos assinados com a Caixa Econômica Federal", afirma Adriana Neves, segunda vice-presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Ceará (Creci-CE).
A executiva projeta que a capital cearense pode encerrar 2025 com um Valor Geral de Vendas (VGV) próximo, ou até acima, de R$ 1 bilhão. "É um dinamismo que se espalha por todos os perfis de moradia."
O IDI também mostrou Fortaleza na quarta posição nacional nos imóveis acima de R$ 811.400, atrás apenas de São Paulo, Goiânia e Recife, um salto que revela um segundo ciclo de expansão ocorrendo em paralelo ao crescimento de moradia econômica.
No alto padrão, a construtora Dasart esperava um 2025 mais lento por causa dos juros altos. Mas o mercado ignorou a previsão, e a incorporadora conseguiu bater sua meta anual ainda no meio do ano.
O portfólio explica parte desse apetite. O Mansão Diogo, lançado recentemente e já em obras, soma VGV estimado em R$ 410 milhões. O Wave Beira Mar, vencedor do prêmio Americas Property Awards, adiciona cerca de R$ 300 milhões. A linha Next, com o Coronel Linhares e o DM210, reforça o avanço dos compactos premium. E o pipeline de 2026 projeta mais três lançamentos que somam R$ 370 milhões.
Os empreendimentos têm sido demandados por diferentes perfis de clientes, incluindo estrangeiros. "Tem o fortalezense em busca de upgrade, compradores de outras capitais e, mais recentemente, europeus — que chegam a 20% das compras em alguns projetos", afirma Vitor Frota, CEO da Dasart.
Segundo os especialistas, o câmbio favorável, a melhora da conectividade aérea, com novos voos que reforçam a proximidade de Fortaleza da Europa, e o apelo do litoral cearense como destino turístico e esportivo ajudam a explicar o fenômeno.
"Fortaleza também oferece uma excelente relação entre preço e qualidade, quando comparada a destinos como Balneário Camboriú e Rio de Janeiro. A revitalização da orla e a infraestrutura turística consolidada, somadas à localização estratégica, tornam a cidade muito atrativa para investidores nacionais e
estrangeiros", diz Peixoto Accyoli, CEO e presidente da rede de franquia imobiliária Re/Max Brasil.
Mas, se o presente é de expansão, o futuro dependerá de como a cidade reorganiza o próprio crescimento. O novo Plano Diretor de Fortaleza, cuja última revisão é de 2009, voltou a ser discutido com atraso de seis anos e pode ser votado ainda em 2025. A proposta prevê alturas que variam de 6 metros em áreas de interesse social até 95 metros em zonas consolidadas, como Aldeota, Meireles e Varjota.
O Creci defende a atualização, mas pede leituras mais técnicas. "O Plano define padrões que afetam diretamente o planejamento administrativo e o futuro da cidade", diz Adriana Neves.