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Conheça Hugo Ladeira, o CEO da Owens-Illinois com heavy metal nas veias

Hugo Ladeira, presidente para a América do Sul da Owens-Illinois, a maior produtora de garrafas de vidro do mundo, descansa ouvindo heavy metal

Hugo Ladeira em um festival na Suécia: 819 shows registrados  (Divulgação/Divulgação)

Hugo Ladeira em um festival na Suécia: 819 shows registrados (Divulgação/Divulgação)

Ivan Padilla
Ivan Padilla

Editor de Casual e Especiais

Publicado em 20 de janeiro de 2022 às 05h07.

Última atualização em 23 de agosto de 2024 às 17h21.

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No HD de seu computador Dell o executivo Hugo Ladeira guarda um arquivo de Excel intitulado ­Lista­ShowsHugo. Lá estão catalogados todos os 819 shows de heavy metal que ele já presenciou, no Brasil e no exterior, com o nome da banda, a data e o local do concerto. O ano em que Ladeira mais viu apresentações foi 2019, logo antes da pandemia, 91 no total. A banda que ele mais viu tocar ao vivo foi o Kiss, 12 vezes. Logo em seguida vem seu grupo favorito, Iron Maiden, com 11 shows. Considerando, porém, apresentações solo do vocalista Bruce Dickinson e formações com outros músicos da banda, como o British Lion, esse número sobe para 26.

O computador fica no escritório de sua casa, em um condomínio em Indaiatuba, no interior de São Paulo, onde Ladeira mora com a mulher e os três filhos. O apertado cômodo, uma mistura de estúdio de música e home office, fica no terceiro andar, em um espaço projetado inicialmente para abrigar a caixa d’água. Nas paredes do corredor da escada estão pôsteres de festivais a que ele já foi, como o Sweden Rock Festival, na Suécia, o Graspop, na Bélgica, e o Copenhell, na Dinamarca. “Viajo sempre com um amigo, também executivo. É uma espécie de Disneylândia do metal, dá para ver uns dez shows por dia”, conta Ladeira. “A cena do heavy metal é um nicho no Brasil, mas na Europa é muito forte. Mesmo com 30.000 pessoas, os festivais lá fora são muito confortáveis, dá para comer tranquilamente, assistir às apresentações sem empurrões.”

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Ladeira tem 50 anos. Como muitos de sua geração, começou a gostar de heavy metal depois da histórica apresentação do Kiss no estádio do Morumbi, em 1983. Mas sua predileção sempre foi pelo Iron Maiden. Graças à banda inglesa ele conseguiu seu primeiro trabalho remunerado. “Tinha 11, 12 anos, e montei um fã-clube do Iron. Na época eu fazia um fanzine da banda. Comprava revistas americanas e inglesas, traduzia os textos, recortava as fotos, diagramava, colava numa folha e tirava xerox. Um dia mandei uma carta falando do clube para um programa na TV Cultura chamado Som Pop, isso foi para o ar, e começou a chover carta em casa. Existia então um negócio chamado vale-postal: eu recebia o pagamento e mandava a revista. Com o dinheiro, comprava 10, 15 discos por mês.”

O rock pesado ganhou projeção no Brasil nos anos 1980, quando até entrou na programação das rádios. Foi a época das primeiras edições do Rock in Rio e o início das turnês das grandes bandas pelo país. Para quem olha de fora, a impressão é de que o heavy metal definha, preso às rugas dos músicos de grupos icônicos. Ladeira discorda. “Existem bandas excelentes hoje, de estilos variados. Tem o metal sinfônico, com elementos de música clássica, o industrial, mais pesado, bandas que adicionam música regional, como o Angra, tem outra da Tunísia que eu adoro.”

Seu home office conta com forro de espuma para garantir isolamento acústico. Também fica lá sua bateria — Ladeira toca de ouvido, acompanhando algum de seus 3.000 CDs acomodados em uma enorme prateleira. Pelo cômodo estão espalhados souvenirs como toy arts de guitarristas, baquetas e palhetas que ele pede nos festivais e uma garrafa importada da cerveja do Iron Maiden. Ladeira pretende neste ano produzir por aqui uma garrafa de cerveja da banda em parceria com a Bodebrown, que detém os direitos de comercialização da bebida.

Ladeira ocupa há cinco anos a cadeira de presidente para a América do Sul da Owens-Illinois, líder mundial na fabricação de embalagens de vidro. Com sede em Ohio, a empresa emprega globalmente 25.000 pessoas,­ opera 72 fábricas em 20 países e registrou receita de 6,1 bilhões de dólares em 2020. O Brasil conta com cinco plantas, e outras duas já foram anunciadas para 2023, em um investimento de 1 bilhão de reais­. Segundo Ladeira, a Owens vem crescendo acima da economia nos últimos dez anos — e dois dígitos nesses dois períodos de pandemia. Atualmente, 15% da demanda no Brasil é atendida com importação.

Para o executivo, dois motivos explicam esse aumento de procura por garrafas. Um deles é a pressão por produtos mais sustentáveis. “O vidro é 100% reciclável, ao contrário do plástico”, afirma. Outra razão é o crescimento no consumo de produtos premium. O vidro ainda é visto como material mais nobre e mais adequado à conservação de alguns produtos. Ladeira fala com propriedade.  Formado em engenharia química, ele passou por diversas indústrias do setor, como Dow e Rhodia.

Ladeira tem outros hobbies, como basquete, tênis e jardinagem. Mas é com metal em altos decibéis que ele relaxa. Existem pontos em comum entre a música que ouve e o cargo que exerce? “As letras são muito motivacionais. Por exemplo, há uma canção do Rob Rock chamada I’m a Warrior. Que outro gênero tem uma música assim?”, brinca. Depois de um intervalo de dois anos pela pandemia, Ladeira se prepara para voltar aos festivais. Ele estima que em três anos registrará em sua planilha de Excel seu milésimo show visto. Executivos trabalham com metas agressivas — e para Ladeira o heavy metal é, mais do que apenas diversão, um estilo de vida. 

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(Arte/Exame)

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