Revista Exame

Década perdida?

Os desacertos da política econômica dos últimos anos vão cobrar seu preço em 2015. A dúvida: os problemas vão prejudicar só o ano ou teremos mais dez anos de atraso?

Greve dos bancários (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Greve dos bancários (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 31 de março de 2015 às 15h03.

São Paulo - Para os brasileiros com mais de 40 anos, a expressão “Década Perdida” está associada a tempos de dureza que o Brasil atravessou num passado recente. No início, a tal década se referia aos anos 80. Mas a crise da hiperinflação se arrastou até a metade dos anos 90, somando 15 anos jogados fora.

Parecia que esse fantasma havia sido afugentado definitivamente do país. Aqui e ali, porém, voltamos a ouvir falar nele. Iniciamos o quinto ano consecutivo de desempenho medíocre na economia — e, o pior, com viés de baixa. Do crescimento baixo de 2011 a 2013, caímos para a estagnação do ano passado, e a perspectiva neste é ainda pior.

Até aí, meia década já escorreu pelo buraco. A origem dos problemas que causam essa queda pode ser encontrada no fim de 2008, quando, diante da crise mundial, o governo decidiu que era hora de aumentar o papel do Estado na economia. E o que deveria ter sido pontual terminou por ser empacotado como a “nova matriz econômica”, reforçada em 2011 pela presidente Dilma Rousseff.

Desde então, a série de medidas intervencionistas acabou paulatinamente com a estabilidade e minou a confiança de consumidores e empresários. Chegamos a 2015 sem saber até que ponto vai a deterioração. O intervencionismo ficou para trás? Qual o efeito no produto interno bruto (PIB) da combinação de ajuste fiscal com os desdobramentos da Operação Lava-Jato e os riscos de racionamento de energia e água?

Vamos escapar de uma recessão neste ano? E em 2016? A verdade nua e crua: ninguém sabe ao certo. O que sabemos é que todos os analistas — repita-se: todos — têm revisado continuamente para baixo as projeções do PIB. Se no início do ano as apostas estavam em crescimento zero, hoje é quase consenso que haverá queda forte na atividade econômica.

E também a noção de que os problemas podem custar caro. “Estamos caminhando para ter uma nova década perdida”, diz o economista José Roberto Mendonça de Barros, sócio da consultoria MB Associados.

O provável retrocesso, péssima notícia para um país que ainda precisa fazer muito para alcançar o status dos desenvolvidos, seria o nono ocorrido desde 1981. Isso é o que aponta um levantamento histórico feito pelo Comitê de Datação de Ciclos Econômicos, ligado à Fundação Getulio Vargas — um grupo de economistas que se reúnem para avaliar quando o país entra num ciclo recessivo.

Nos dois trimestres do ano passado, a evolução do PIB foi negativa e algumas projeções dão conta de que 2014 terminou com queda na atividade econômica de 0,1% (o dado oficial deverá ser divulgado no fim de março). Um estudo inédito feito pelo economista Jorge Arbache, da Universidade de Brasília, mostra que o país entrou num ciclo recessivo no ano passado e conclui: só sairemos dele no fim de 2018.

Até lá, veremos taxas negativas na variação anual do PIB per capita. O mais grave: há risco de que parte da maior conquista da década passada, a diminuição da desigualdade de renda, seja perdida. Para chegar a essa conclusão, Arbache, que até o ano passado era assessor da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, analisou os ciclos econômicos desde os anos 60.

E descobriu que o desempenho de indicadores como a distribuição de renda e o número de pessoas em situação de pobreza sofre um efeito perverso: boa parte dos ganhos obtidos durante os períodos de expansão é perdida nos ciclos de queda. O índice de Gini, que mede a desigualdade de renda, avança a uma taxa anual de 1,14% nos bons tempos e piora 1,61% ao ano nos perío­dos de baixa — felizmente, o Brasil teve mais intervalos de crescimento do que de encolhimento no último meio século.

A ameaça do momento é uma volta atrás em relação às conquistas recentes. “O país precisa urgentemente reencontrar o caminho do crescimento se não quiser empobrecer nos próximos anos”, afirma Arbache.

Surpresas negativas

Se os cenários mais pessimistas se confirmarem, o Brasil estará mergulhado num dos maiores ciclos recessivos dos últimos 35 anos. Até então, o mais longo durou 11 trimestres, de 1989 a 1992, e foi acentuado pelo confisco da poupança no governo de Fernando Collor de Mello.

O mais severo foi o do começo dos anos 80, quando o PIB encolheu 8,5%, como resultado do calote da dívida externa. Somados todos os períodos desde 1981, o país esteve em recessão durante dez anos — uma década sem crescer nem distribuir riqueza.

Em entrevista recente a EXAME, o economista inglês Jim O’Neill, criador do acrônimo Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), disse que ainda é cedo para uma avaliação segura. “Mas, se não voltar a crescer até 2019, o Brasil não vai merecer mais fazer parte do bloco Bric”, diz O’Neill.

Cada recessão tem sua história. Mas, em comum, em quase todas elas a economia brasileira sofreu com surtos de inflação alta, juros estratosféricos e falta de crédito. Esse quadro parecia uma realidade que tínhamos deixado para trás com o Plano Real, em 1994. Desde então, as baixas na economia passaram a ser mais curtas e menos atrozes.

E, na maioria das vezes, foram causadas por crises internacionais. “Já vivemos recessões de moratória, de crise externa e de hiperinflação”, diz Simão Silber, professor de economia na Universidade de São Paulo. “Agora estamos na ‘recessão Dilma’, a que resulta de uma série de erros cometidos na política econômica.”

Esse raciocínio se embasa na ideia, comum entre economistas, de que os atuais problemas começaram quando a presidente deu carta branca ao então ministro da Fazenda, Guido Mantega, para acentuar a política baseada no intervencionismo. Em vez de promover os investimentos, o consumo e o crescimento, essa orientação provocou inflação, alta de juros, desarranjos na produção e déficit nas contas públicas.

Aos poucos, a taxa de crescimento foi caindo. Outros sinais dos erros foram dados. O mais forte deles foi o rebaixamento da nota da dívida brasileira pela agência de classificação de risco Standard&Poor’s em março de 2014 — mais um rebaixamento e o país perde o selo de grau de investimento, regredindo ao grupo dos que oferecem alto risco aos investidores.

Há poucas semanas, outra agência, a Economist Intelligence Unit (EIU), tirou do Brasil o selo de país seguro para empréstimos. “A situação fiscal brasileira não condiz mais com uma economia dotada de grau de investimento”, disse a EXAME Robert Wood, analista sênior da EIU.

Há tempos se sabia que 2015 seria um “ano de ajustes”, com impacto negativo no PIB. Mas não se esperavam tantas notícias ruins num começo de governo — os indicadores que têm vindo à tona surpreenderam até os mais pessimistas.

O déficit nominal de 6,7% do PIB é bem maior do que o de 4,1% da encrencada Grécia — apenas Japão, Egito e Venezuela têm números piores, segundo um levantamento com 57 paí­ses feito pela EIU.

Independentemente de quem ganhasse as eleições, era certo que os preços de combustíveis, transporte público e eletricidade precisariam subir; que a contabilidade criativa, que culminou com um déficit primário também surpreendente de 32 bilhões de reais — ou 0,6% do PIB —, não poderia se repetir; e que os incentivos via isenção de impostos e créditos subsidiados precisariam ser revistos.

Mal necessário

Todos esses pontos, por si sós, já tinham potencial de abater a economia. O ano começou e, de fato, um “pacote de maldades” — embora necessário para a retomada da estabilidade — foi implementado. Não demorou e setores que contavam com incentivos sentiram o baque. Um deles foi o de caminhões. Após um ano de queda de 11% nas vendas, em janeiro foram licenciados 7 529 veículos, o volume mais baixo desde 2009.

O mau resultado é efeito direto da economia desaquecida e do crédito mais caro. Até o ano passado, o governo financiava 100% da compra do caminhão com juro de 6% ao ano, abaixo da taxa de mercado, como parte do Programa de Sustentação do Investimento. Para o ajuste fiscal, o governo agora elevou o juro a 9,5% e vai financiar até 70% do preço do caminhão.

Com as vendas em baixa, os pátios das montadoras estão lotados. “O ideal seria ter um estoque que correspondesse à venda de 30 dias”, diz Roberto Cortes, presidente da fabricante MAN. “Nosso estoque atual corresponde a vários meses de vendas. Os sinais são de que podemos terminar o ano com queda de produção.”

Nesse cenário de baixa, ele só vê uma saída: o corte de custos. A principal medida tomada pela MAN atinge o bolso do trabalhador: a jornada de trabalho foi reduzida 10%, com redução equivalente nos salários. “Já negociamos com o sindicato e não vamos reajustar os salários”, diz Cortes. Nas montadoras de carros, o que se vê é igual ou até pior. No último ano, o setor demitiu 13 000 trabalhadores e as greves pipocaram.

O caso das montadoras mostra que os problemas não seriam desprezíveis se o único inibidor do PIB fosse o ajuste fiscal. Mas, no meio do caminho do conserto da economia brasileira, há pelo menos duas grandes pedras — os desdobramentos da Operação Lava-Jato e os possíveis racionamentos de água e energia. O tamanho delas vai determinar quão profunda será a queda do PIB.

A consultoria Tendências estima que um racionamento de energia provocaria diminuição de 10% no consumo. Junto com a falta de água no Sudeste, a restrição energética tira 1,1 ponto percentual da estimativa inicial do desempenho do PIB para este ano, que era de um avanço de 1%.

O corte de 30% nos investimentos da Petrobras, somado à incapacidade de as grandes construtoras envolvidas na Lava-Jato tocarem obras públicas, pode tirar mais 1,9 ponto percentual da variação do PIB — e 75 bilhões de reais da conta dos investimentos do país, que cairia para 848 bilhões de reais neste ano, ante 989 bilhões em 2013. Se tudo isso se confirmar, a economia terminará o ano com queda de 2%.

“Todos esses problemas jogam a confiança do empresário e do consumidor para baixo, o que torna ainda mais difícil o cenário do ano”, diz Juan Jensen, sócio e economista-chefe da Tendências. Por ora, o cenário básico considerado pela consultoria não é o mais drástico, mas já prevê encolhimento de 1,2% no PIB.

Horizonte incerto

O fator confiança no futuro — escassíssimo no momento — certamente responde, ao final, pelas decisões que dão impulso à economia ou a emperram. Uma sondagem feita por EXAME com presidentes de 130 grandes empresas mostra que 60% deles acreditam que o ano terminará com recessão ou, na melhor hipótese, com crescimento zero.

E dois de cada três executivos não creem que o país vai retomar tão logo o ritmo da década passada, quando o PIB avançou a uma média anual próxima de 4%. “O ano tem se mostrado ainda mais complicado do que o previsto, e não há como ficar otimista”, diz Luis Pasquotto, presidente da Cummins, fabricante de motores situada em Guarulhos, na Grande São Paulo, que deverá encerrar o ano com queda de 10% na produção.

“Num panorama como esse, as empresas, mesmo as que não estão diretamente envolvidas nessas questões, ficam mais cautelosas”, diz Hélio Magalhães, presidente do banco Citibank. Resultado: das empresas que responderam à pesquisa, 60% planejam investir menos, e um terço prevê que demitirá neste ano.

Tome-se o exemplo da fabricante de insumos plásticos MVC, uma associção dos grupos gaúchos Marcopolo, do setor automotivo, e Artecola, do ramo químico. Com nove fábricas no Brasil e sede em São José dos Pinhais, no Paraná, a MVC iniciou o ano registrando redução das encomendas.

“Estamos projetando queda de 10% no faturamento em 2015”, afirma Gilmar Lima, diretor-geral da MVC. Para se adaptar à situação, a empresa poderá demitir até 30% dos 1 600 funcionários até o fim de março. Os estragos não param aí. Os planos de investimento foram cortados 60%. “No longo prazo, isso vai significar perda de competitividade”, diz Lima.

Nesse cenário econômico adverso, até a menina dos olhos do governo, o consumo das famílias, poderá terminar o ano em queda. A consultoria Tendências projeta uma baixa de 0,1% em 2015. Parece pouco. Mas, se isso se confirmar, será a primeira vez desde 2003 que o gasto das famílias não contribui para o crescimento — naquele ano, o consumo caiu 0,8%.

“O mercado de trabalho desaquecido, a inflação e os juros em alta minam a confiança do consumidor”, diz Fabio Bentes, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio. A taxa média de juro ao consumidor, que foi de quase 44% ao ano em 2014, deverá subir para mais de 46% em 2015, nas projeções da CNC.

“Vamos ver o estrangulamento do orçamento familiar neste ano”, afirma Bentes. Nas suas contas, o varejo deverá terminar o ano em alta de 1,5%, o que seria o pior desempenho do comércio desde 2003. “E não descartamos a possibilidade de um resultado negativo.” Na comercialização de casas, apartamentos e escritórios, a Brasil Brokers, empresa que reú­ne 25 imobiliárias em 12 estados, vem anotando uma dificuldade crescente para desovar o estoque.

No começo do ano passado, vendia 70% dos imóveis em até quatro meses após o lançamento. Hoje, a velocidade caiu pela metade. A saída encontrada é dar descontos de até 20% nas unidades. “Com a economia desaquecida, não esperamos melhora em breve”, diz Plínio Serpa Pinto, presidente da Brasil Brokers.

A perspectiva ruim não significa que as empresas tenham jogado a toalha. De acordo com a pesquisa realizada por ­EXAME, 70% das que integram a elite corporativa do país preveem que conseguirão elevar as receitas — 17% apostam em avançar mais de 10%.

Como farão isso? Um estudo feito em janeiro pela Fundação Dom Cabral com 100 executivos que comandam negócios de médio e grande porte mostra que a principal resposta é batalhar para aumentar a participação nos mercados em que já atuam. Ou seja, roubar espaço da concorrência. Essa é a pretensão da transportadora de cargas TNT Express.

“É verdade que setores em que atuamos, como automotivo, tecnologia e confecções, estão vendendo menos do que em anos anteriores”, diz Cristiano Koga, diretor corporativo da TNT. “Mas estamos ganhando clientes novos e, com isso, deveremos crescer a uma taxa de dois dígitos em 2015.”

A segunda estratégia mais comum em tempos de crise é buscar fazer mais com menos — o que pode significar redução de investimento e de quadro de pessoal. A Gula Gula, rede com 17 restaurantes no Rio de Janeiro, cancelou os planos de abrir uma unidade em São Paulo, para concentrar os esforços nas unidades cariocas.

“Vamos focar a atenção na produtividade das lojas”, diz Pedro de Lamare, um dos três sócios da rede. A empresa contratou uma consultoria para dar treinamento aos gerentes. O objetivo é melhorar os processos. Com isso, De Lamare espera conseguir cortar 15% dos cerca de 1 000 funcionários. “Nossa média de 60 funcionários por restaurante é alta”, diz. “Com melhor treinamento, podemos obter mais eficiência e redução de gastos.”

Fogo amigo

Os problemas citados até aqui, ao mesmo tempo que podem minguar o PIB em 2015, escondem os males profundos da economia brasileira. Podem passar a impressão de que basta fazer um ajuste fiscal crível, esperar o fim dos efeitos da Operação Lava-Jato e que volte a chover para que o país retome o rumo do crescimento.

A verdade passa longe disso. Antes de tudo, é prudente questionar se a equipe econômica conseguirá, de fato, promover o ajuste fiscal de que o país necessita com urgência. O excelente currículo do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, não é garantia de sucesso. Na tarefa de recolocar as contas públicas em ordem, Levy tem de enfrentar um Congresso em polvorosa e o fogo amigo de integrantes do PT insatisfeitos com a presença de um “banqueiro” no “governo do povo”, que estaria pondo em prática a agenda de governo dos tucanos derrotados.

A resistência ao pacote de redução de gastos que prevê regras mais duras para o seguro-desemprego e a pensão por morte é um exemplo. Mas nem se, de uma hora para a outra, todo o PT passar a aceitar a política fiscal contracionista, a tarefa do ministro da Fazenda será fácil.

Nas contas do economista Mansueto Almeida, transformar o déficit primário de 0,6% do PIB, em 2014, em superávit de 1,2%, em 2015, exigirá um esforço de contenção de 126 bilhões de reais, ou 2,3% do PIB. Isso dificilmente será atingido neste ano. “Desfazer os erros do primeiro mandato de Dilma poderá levar dois anos”, diz o economista Renato Fragelli Cardoso, da Fundação Getulio Vargas.

Se, no fim do perío­do, a tarefa for bem-sucedida, ainda assim os problemas continuarão. Eis uma verdade: a rigor, a retomada da estabilidade não pode ser vista como um avanço institucional do país nem como a virada definitiva da página da estagnação.

“Quando o Brasil concluir o ajuste fiscal, voltará à situação de normalidade que tinha há alguns anos, antes que o atual governo promovesse a desordem que promoveu”, diz Marcos Troyjo, diretor do BRICLab, um centro de estudos da Universidade Colúmbia, nos Estados Unidos. Melhor dizendo: o tempo gasto no ajuste fiscal nada mais é do que um atraso no desenvolvimento do país. Serão anos, ou talvez a tal década, perdidos.

O lamentável é que, em vez de tapar buracos do passado, o Brasil deveria estar atuando na agenda da competitividade — a saída apontada por especialistas ouvidos por EXAME para que o país entre num ciclo de crescimento sustentado. Não se trata de tarefa simples. Parte das medidas necessárias inclui a revisão de benefícios setoriais e reservas de mercado.

No comércio exterior, o Brasil é um dos países mais fechados do mundo. De 1993 a 2012, de acordo com levantamento do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento, uma consultoria do Rio de Janeiro, o país editou 596 portarias de incentivos à produção local via exigências de conteúdo nacional em várias áreas. “Com o discurso de preservar o emprego, o país protege setores pouco produtivos”, diz Marcos Lisboa, vice-presidente da escola de negócios Insper.

Como desarmar o arcabouço protecionista? Uma vez que diversos setores responderam aos incentivos construindo fábricas, e trabalhadores se especializaram, o que fazer com eles? “Trata-se de uma transição complicada, que poderá levar anos até ser concluí­da”, afirma Lisboa.

A economia integrada ao comércio exterior é uma característica em comum dos países que conseguiram fugir da chamada “armadilha da renda média” — a incapacidade de emergentes darem um salto de produtividade que os leve à condição de nações ricas. Segundo um estudo do Banco Mundial, de um grupo de 101 países de renda média, só 13 conseguiram alçar o patamar desenvolvido até 2008.

Entre os bem-sucedidos estão Portugal, Israel, Irlanda, Japão e Coreia do Sul. “Integrar o setor produtivo à economia global induz ganhos de inovação, que tornam toda a economia mais produtiva e competitiva”, diz o economista Otaviano Canuto, conselheiro sênior do Banco Mundial para países em desenvolvimento.

Outra característica em comum aos países que subiram de status é que todos eles adaptaram a economia para a transição — quer dizer, não repetiram políticas que tiveram êxito, mas se tornaram velhas. O Brasil, ao insistir no protecionismo, parece querer reviver a antiga política de substituição de importações, usada na industrialização no século 20, e a resposta dada pelo presidente Ernesto Geisel à crise do petróleo nos anos 70, que foi aumentar os gastos públicos e a concessão de crédito para estimular a demanda.

Importante destacar: algumas mudanças não dependem de megarreformas que demandariam anos de negociação com o Congresso, como é o caso da trabalhista e da tributária. Um exemplo é a má alocação de recursos, como subsídios a empresas escolhidas, que pode estar impedindo o crescimento de empresas médias mais produtivas.

Um estudo do professor de economia Cláudio Ferraz, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, indica que, se o problema da alocação de recursos fosse atenuado, a produtividade brasileira aumentaria pelo menos 10%. “A revisão dessas políticas independe de negociações com o Congresso e teria um efeito benéfico amplo”, diz Ferraz.

Enquanto não toma essas decisões, o Brasil corre o risco de exacerbar um processo de empobrecimento já em curso nos últimos três anos. Em valores corrigidos, o PIB per capita, que alcançou o pico de 12 530 dólares em 2011, deve ter caído para 10 763 dólares no ano passado.

Nos dois próximos anos, com a tendência à recessão ou ao crescimento inferior à taxa de expansão demográfica — inferior a 1%, nível de país europeu —, é possível fechar 2016 com riqueza per capita abaixo de 9 700 dólares.

Os brasileiros estão pagando caro pelos erros dos últimos anos. O que se espera é que as medidas acertadas cheguem quanto antes para que a conta não fique ainda maior. Meia década já se foi. Que tal salvar a outra metade?

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