Marcelo Bueno em ação: o sonho de infância era praticar uma luta marcial “com saia e espadas” (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter de Casual
Publicado em 22 de março de 2023 às 06h00.
Última atualização em 22 de março de 2023 às 09h28.
"Foi como uma visão”, conta Marcelo Bueno sobre o início do aiquidô em sua vida, há mais de 30 anos. Ainda criança, o CEO da Ânima Educação tentou descrever para a mãe o esporte que gostaria de praticar: uma arte marcial de samurais com saia e espadas. A matrícula foi feita, mas não exatamente no que havia sido pedido, e sim em aulas de judô. Porém, nas voltas que a vida dá, anos mais tarde Bueno descobriu que aquela visão da prática realmente existia. Era o aiquidô. “Hoje vejo que houve um chamado quando eu era pequenininho, um caminho que só encontrei na adolescência”, conta Bueno. “Em japonês, ai significa ‘harmonia’, ki, ‘energia’, e do, ‘caminho’. Aikido é um caminho de vida.”
A arte marcial foi criada pelo sensei Morihei Ueshiba entre as décadas de 1930 e 1960 no Japão. “É uma arte marcial que não tem competição, o objetivo não é destruir ou vencer uma pessoa, mas crescer praticando com alguém. Isso faz toda a diferença”, explica o CEO.
Provavelmente o judô, o jiu-jítsu, o caratê e o muay thai sejam artes marciais mais conhecidas do que o aiquidô. Alguns pontos diferem o aiquidô das outras modalidades. Em primeiro lugar, trata-se de uma luta “benéfica”, por alguns pontos. “A força do inimigo é usada contra ele próprio”, explica Bueno. Ou seja, quanto mais forte for seu adversário, mais eficiente e violento será o movimento contra ele. “Com isso, muitas mulheres e idosos praticam”, diz. “É uma arte marcial que envolve meditação em movimento e união de espírito e energia.” Não há socos ou chutes na prática, mas torções feitas em pontos de acupuntura ou de forma que não são feitas no dia a dia. “E é justamente nesses pontos que as toxinas ficam. Então, ao praticar, são aplicados movimentos que vão beneficiar a saúde de quem está atacando.”
Outro ponto importante da prática são os ukemis, ou “rolamentos”, chamados por Bueno de “a arte de harmonizar com o chão”. “Não estamos acostumados a cair e levantar. No rolamento você pratica até o momento em que começa a achar no chão um suporte, um apoio, para que você possa se levantar de novo. Isso é algo que você leva para a vida”, compara.
As dicas do executivo para quem quer começar a praticar
→ Todos no dojô
“Não há idade, gênero ou limitações, é uma arte em que não existe competição”
→ Meditação em movimento
“A prática trabalha a respiração, o condicionamento físico e espiritual”
→ Companhia
“No dojô você sempre pratica com outra pessoa, o que traz bastante empatia e harmonia”
→ Ataque do bem
“As defesas são feitas em pontos de acupuntura e beneficiam tanto a saúde de quem ataca quanto a de quem se defende”
→ Pós-treino
“O treinamento começa horas antes, quando você começa a preparar o chá que vai levar para beber após o treino. É uma etiqueta japonesa antiga”
Quanto mais rolamentos e momentos no chão, sujando a faixa, maior a graduação do praticante. No Oriente, é assim que se sabe o nível em que o praticante está. “A faixa é branca, mas quando a peça fica encardida você vira faixa preta, de tanto que treinou. Mas ao longo do tempo a faixa vai clareando até voltar a ser branca”, diz. “Por exemplo, o mestre em sétimo ou oitavo grau usa uma faixa branca. Isso é como a nossa vida. Você nasce e se desenvolve de criança para adulto, e volta a ser criança quando muito velhinho. Você fica no auge da sua forma, depois a vida fica simples novamente. Quanto mais desenvolvido for o mestre, mais simples será a reação dele.”
Já no Ocidente existem outros níveis de graduação. Com a faixa preta, o praticante também passa a usar o hakama, uma espécie de saia que, segundo Bueno, auxilia na execução dos movimentos ao mudar o centro de gravidade. Ele é faixa preta segundo grau. “Até a faixa preta você está aprendendo os principais movimentos do aiquidô: as imobilizações, as esquivas, os rolamentos. A partir da faixa preta é que o aiquidô começa e você passa a praticar de forma mais inconsciente e a se preocupar com o que realmente importa: a respiração, tirar a força do adversário, estar presente na prática.”
O dojô do CEO, ou lugar onde ele treina, é o Learning Village, no bairro da Vila Madalena, em São Paulo. Com a pandemia, a Ânima Educação passou a disponibilizar atendimentos de telemedicina como psicólogos e aulas online de ioga, meditação e aiquidô para professores, funcionários e alunos. Nesse período, Bueno passou a dar aulas online da arte marcial. “Nos voltamos para o cuidado com a saúde mental, que acabou virando uma unidade da Ânima chamada Flow School. Nesse espaço também construímos um dojô”, conta. Entre as atividades disponíveis também estão aulas de ioga, caratê e tai chi chuan.
A Ânima é uma das maiores organizações de educação privada do país, com 390.000 estudantes e 18.000 educadores e colaboradores em 28 unidades pelo país. “Oferecemos um cardápio para que as pessoas possam escolher o que for mais conveniente para cuidar da saúde física, mental e espiritual. A maior inovação da educação vai ser justamente o cuidado dos jovens com a saúde mental”, pontua. O CEO vê no aiquidô muito mais do que um hobby. “É algo que você nunca vai parar de fazer, de evoluir. É uma coisa em que você vai crescendo, construindo. É um caminho de vida mesmo.”