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Ano novo, problemas novos - para Murilo Ferreira

Rio de Janeiro - Foi, sem dúvida, a mais longa e rocambolesca novela sucessória da nossa história recente. Em maio de 2011, após meses e mais meses de especulação, a Vale, maior empresa privada brasileira, trocou de presidente. Saiu Roger Agnelli, talvez o mais incensado executivo do país, tido como responsável por transformar a Vale num […]

Murilo Ferreira, da Vale: o desafio é enfrentar o menor crescimento da economia chinesa (Eduardo Monteiro/EXAME.com)

Murilo Ferreira, da Vale: o desafio é enfrentar o menor crescimento da economia chinesa (Eduardo Monteiro/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 6 de fevereiro de 2012 às 10h46.

Rio de Janeiro - Foi, sem dúvida, a mais longa e rocambolesca novela sucessória da nossa história recente. Em maio de 2011, após meses e mais meses de especulação, a Vale, maior empresa privada brasileira, trocou de presidente.

Saiu Roger Agnelli, talvez o mais incensado executivo do país, tido como responsável por transformar a Vale num gigante com ambições globais — mas que, por não ter tocado a música conforme a partitura escrita pelo então morador do Palácio do Alvorada, caiu em desgraça no governo federal.

E entrou Murilo Ferreira, um mineiro de 58 anos que, recém-chegado ao topo da companhia, acabou mais conhecido pelo que o antecessor não era. Discreto, pouco vaidoso, conciliador: em suma, uma espécie de anti-Agnelli.

Com uma intromissão governamental tão evidente, logo surgiu no mercado a tese segundo a qual Ferreira seria um presidente disposto a seguir a cartilha de Brasília. Mas, em seus primeiros meses à frente da Vale, ele foi, aos poucos, dirimindo as dúvidas. A retirada dos projetos das siderúrgicas do Pará e do Espírito Santo do plano de investimentos da Vale para 2012 foi um sinal claro.

A construção de siderúrgicas foi um foco de desentendimento entre Agnelli (que era contra) e o governo (que era a favor). Agnelli acabou incluindo as usinas no planejamento da companhia. Agora, sem estardalhaço, Ferreira tirou. 

Ao mesmo tempo que tenta marcar sua independência em relação ao governo, ele começa a impor seu estilo. No final de 2011, reorganizou a cúpula da Vale, demitindo três diretores e promovendo gente de sua confiança. E impôs à comunicação da empresa aquilo que analistas consideram um tom mais sóbrio.

“Ele não fala mais em aumentar a capacidade de produção para 500 milhões de toneladas até 2015, como prometia a administração anterior. Isso passa credibilidade, pois a marca era praticamente impossível de ser atingida”, afirma um analista de mineração.

Daqui para a frente, Ferreira terá de enfrentar um cenário turbulento. A redução da demanda chinesa por minério de ferro é um risco cada vez mais presente, consequência óbvia da crise enfrentada pelos países ricos. O preço do minério pode cair, já que há aço sobrando mundo afora.

Recentemente, a Vale teve de mudar o sistema de reajustes de alguns clientes, o que foi visto como uma vitória das siderúrgicas, que podem obter preços menores. Segundo Ferreira, a situação da empresa ainda é confortável. “A China tem um mercado interno muito mais forte do que há cinco anos”, diz.

Apesar de sua confiança, ninguém duvida que o cenário é repleto de incerteza para a Vale e seus investidores, que já perderam 17% do que investiram em ações da empresa no ano, queda em linha com a do Ibovespa. Como recuperar o valor perdido?

Se 2011 foi o ano em que Murilo Ferreira teve de provar que tinha luz própria, 2012 começa com um tipo de desafio bem mais complexo. Diante das nuvens que pairam sobre a economia mundial, comparações com o antecessor ou o barulho vindo de Brasília serão o menor de seus problemas. 

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