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Carta de EXAME – A construção da democracia

Os dois grupos políticos que vão disputar o segundo turno não demonstram muito apreço pela democracia. Mas talvez o medo de um retrocesso esteja exagerado

Votação em 7 de outubro: quem quer que ganhe as eleições, a democracia deve ser preservada | Lucas Lacaz Ruiz/Estadão Conteúdo /

Votação em 7 de outubro: quem quer que ganhe as eleições, a democracia deve ser preservada | Lucas Lacaz Ruiz/Estadão Conteúdo /

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Da Redação

Publicado em 11 de outubro de 2018 às 05h26.

Última atualização em 11 de outubro de 2018 às 05h26.

Não faltam motivos para preocupação com os resultados das eleições de 7 de outubro. Os candidatos Jair Bolsonaro (PSL), com 46% dos votos válidos, e Fernando Haddad (PT), com 29%, foram confirmados para o tira-teima de 28 de outubro, quando ocorrerá o segundo turno de votação. Quem quer que seja escolhido para governar o Brasil nos próximos quatro anos terá dificuldade para unir o país. De acordo com as últimas pesquisas divulgadas antes do primeiro turno, tanto Bolsonaro quanto Haddad eram rejeitados por mais de 40% dos eleitores — a soma das taxas de rejeição dos dois candidatos superava a soma das intenções de voto, algo inédito no país.

Esses números refletem o alto grau de polarização nestas eleições, que marcam o fim do ciclo de duas décadas de PSDB-PT no poder. Desde 1994, apenas candidatos desses dois partidos ganharam eleições presidenciais. Agora, a oposição branda entre o PSDB e o PT dá lugar a uma polarização mais radical entre petistas e antipetistas.

É preocupante que nenhum dos dois lados pareça ter muito apreço pela democracia. Bolsonaro não esconde sua admiração pela ditadura militar e seu desprezo aos direitos das minorias. Nos últimos dias, circularam pelas redes sociais fotos e vídeos lançando dúvidas sobre as urnas eletrônicas — nenhuma fraude foi comprovada.

O PT não fica atrás. O ex-ministro José Dirceu disse em uma entrevista que a tomada do poder pelos petistas “é uma questão de tempo”, independentemente das eleições. Infelizmente, essa tentativa de deslegitimação da democracia não é um fenômeno brasileiro, como vêm mostrando líderes como Donald Trump, nos Estados Unidos, e Recep Tayyip Erdogan, na Turquia. Um estudo da consultoria Economist Intelligence Unit mostra que apenas 4,5% da população global vive atualmente em uma “democracia plena”.

Mas talvez o medo de um retrocesso democrático esteja exagerado. Afinal, temos alguns pontos a comemorar. O atentado contra Bolsonaro em setembro foi um fato isolado, e as eleições transcorreram na mais perfeita ordem. Apesar da complexidade da votação, pois os eleitores tiveram de digitar os números de seis candidatos nas urnas, os índices de votos nulos e brancos ficaram abaixo dos registrados nas últimas eleições. Outro ponto positivo é que o apoio à democracia nunca esteve tão alto no país. Uma pesquisa do Datafolha, divulgada às vésperas das eleições, mostrou que 69% dos eleitores consideram a democracia a melhor forma de governo para o Brasil. Apenas 12% acreditam que uma ditadura seria melhor.

Além disso, finalmente vemos surgir uma direita sem medo de dizer seu nome — embora ainda seja preciso maior clareza de ideias em muitos de seus adeptos. É uma notícia fantástica ante o ambiente político e econômico conturbado em que vivemos. Com todas as dificuldades, o país dá mais um passo para consolidar sua jovem democracia — uma obra que exige vigilância permanente, pois nunca termina.

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