Revista Exame

O homem que ganhou 40 milhões de reais em dois dias

O gestor Dório Ferman, sócio do Opportunity, ganhou uma pequena fortuna apostando contra a OGX, de Eike Batista

Dório Ferman, do Opportunity: “Somos mais investidores do que especuladores” (Eduardo Zappia/EXAME.com)

Dório Ferman, do Opportunity: “Somos mais investidores do que especuladores” (Eduardo Zappia/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 2 de agosto de 2012 às 14h50.

Rio de Janeiro - Numa crise, enquanto muitos choram prejuízos, alguém sempre sai ganhando, mesmo que seja vendendo lenços. A frase é batida, mas ilustra perfeitamente a situação ocorrida com as ações da empresa de petróleo OGX na última semana de junho.

Enquanto a petroleira, controlada pelo empresário Eike Batista, perdeu 40% de seu valor de mercado em apenas dois dias, um pequeno grupo de investidores — gestores de grandes fundos de ações — ganhou dinheiro apostando que ocorreria justamente isso: a queda do preço dos papéis.

O pernambucano Dório Ferman, fundador do banco Opportunity e um dos mais renomados gestores de recursos do país, foi um dos que mais lucraram. Foram cerca de 40 milhões de reais nos dois dias de queda das ações da OGX, embolsados em operações conhecidas, no jargão do mercado, como short selling ou venda a descoberto.

Ferman não fala em números, mas admite o ganho, que fica mais espetacular quando se observa o valor que havia sido aplicado na operação: cerca de 136 milhões de reais, ou seja, 30% de rendimento sobre o capital investido.

Hoje, o Opportunity, que administra 18 bilhões de reais, sendo 10 bilhões em fundos de ações, voltou a comprar os papéis da OGX. “Achamos que o preço estava abaixo do razoável”, disse Ferman a EXAME, numa de suas raras entrevistas.

EXAME - Por que o senhor estava apostando contra a OGX?

Dório Ferman - Não apostamos contra a empresa, mas contra a percepção do mercado em relação a seu valor na bolsa. Achávamos que a OGX estava um pouco cara. O grau de otimismo do mercado em relação à empresa estava alto demais. Na verdade, já estávamos vendidos há uns dois meses antes de essa desvalorização forte ocorrer.

Mas não esperávamos uma baixa tão brusca. No primeiro dia de queda, quando os papéis perderam 25%, revertemos dois terços de nossa posição vendida — ou seja, compramos para devolver aos locadores as ações que tínhamos vendido.

Achávamos que a queda tinha sido grande demais. Para nossa surpresa, no dia seguinte, o mercado abriu com a ação caindo mais 5%. Aí, compramos o terço restante e zeramos nossa posição.

EXAME - O senhor passou a comprar as ações da OGX em seguida. Por quê?

Dório Ferman - Achamos que o valor da empresa ficou abaixo do razoável depois do evento. Essa mesma lógica nos levou a comprar papéis da OGX em 2009. Julgamos que estava barato, investimos e ganhamos. Naquela época, chegamos a comprar ações a 280 reais (o que significaria 2,80 hoje, depois da divisão das ações). Na média, compramos a 600 reais e vendemos a 1 000 reais. Foi um bom negócio, mas o papel chegou a 2 000 reais.


EXAME - Por que a OGX é a única empresa do grupo de Eike Batista em que o senhor investe?

Dório Ferman - Não há uma razão especial. Temos de escolher. Gostamos de analisar a empresa a fundo e, por isso, não dá para acompanhar todas. Seguimos de perto a mineradora Vale, que é muito simples de ser avaliada porque tem poucos produtos, está num ciclo de vida já maduro e tem uma divulgação muito clara de informações.

Nesse caso, por exemplo, achamos que a empresa tem um potencial maior do que o mercado julga. Também temos feito um grande esforço na análise dos bancos. Achamos que estão baratos, e agora temos de comprovar. A OGX nos interessou porque é a maior do grupo EBX.

Eike Batista soube montar uma equipe capaz e apostamos nisso. Fomos os primeiros a acreditar na OGX, inclusive antes da oferta pública de ações (IPO). Entramos na empresa ainda no pré-IPO, com um fundo de ações, mas numa operação mais parecida com private equity (fundos que compram participação em empresas para depois vendê-las). 

EXAME - E o senhor está vendido em quais ações atualmente?

Dório Ferman - Não podemos falar nada sobre nossas posições por dever fiduciário. Mas, de forma geral, trabalhamos pouco com esse tipo de operação porque elas são arriscadas demais. Nosso foco é procurar empresas que julgamos estar baratas e comprar. Somos mais investidores do que especuladores.

EXAME - Como decidir a hora certa de comprar e de vender?

Dório Ferman - Não existe hora certa. Pensamos sempre no fundamento e no preço da empresa, nunca na hora. Calculamos internamente o valor da empresa, sempre dentro de uma posição fundamentalista, e comparamos com o valor que o mercado está pagando por ela. 

EXAME - O desempenho da bolsa brasileira tem sido um dos piores do mundo. Qual é sua estratégia para ganhar dinheiro num mercado assim?

Dório Ferman - Por pior que esteja o mercado, sempre há oportunidades — para comprar e vender. Não dá para adivinhar o futuro. Quem diz saber atesta que sabe muito pouco. Tudo indica que a crise na Europa será longa. Os problemas são profundos, e têm origem na criação de uma união monetária que não foi acompanhada de uma maior integração das políticas fiscais e de esforços para a ampliação da mobilidade da mão de obra.

Por isso, em diversas economias da região existem problemas de competitividade entrelaçados a dificuldades fiscais graves. Para resolver a questão da competitividade, os países precisam tornar seu mercado de trabalho mais flexível, reduzir o custo de contratação e demissão, de forma a permitir a dolorosa, mas necessária, redução dos salários reais. Também é preciso que a união monetária se faça acompanhar de uma união fiscal.

Os países europeus precisariam renunciar à parte de sua soberania em favor de um poder federativo europeu. A superação da crise exige que se avance em reformas institucionais que envolvem desafios políticos enormes. Mudanças dessa natureza se dão ao longo de anos. Mas uma coisa é certa: não é preciso esperar que as coisas se resolvam para fazer bons investimentos.

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