(Coração de Neon/ IHC/Divulgação)
Repórter de POP
Publicado em 10 de março de 2023 às 15h21.
Última atualização em 10 de março de 2023 às 17h41.
Na última quinta-feira, 9, o cinema nacional recebeu um grande incentivo: o Festival de Cinema de Cannes destacou a produção independente de Lucas Estevan Soares, Coração de Neon, como pioneiro do novo cinema popular brasileiro — um passo importante que pode mudar o cenário da categoria no País.
O filme, que tem menos de 2 horas, foi aclamado pela crítica internacional. Recebeu prêmios no Festival de Moscou, no Festival Internacional de Houston e no FestCine Pedra Azul. E não é difícil entender o porquê: além de ser independente — toda a trilha sonora é, inclusive, original —, a narrativa mistura sentimentos conflitantes e a complementa com personagens robustos, cinzas, que seguem um caminho inesperado. E claro, tudo muito envolvo na cultura brasileira, mesmo nas minúcias.
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O enredo envolve tanto uma quebra de expectativas por parte do público quanto uma narrativa musical, tudo isso acompanhado por uma direção de câmera que remete aos cortes das histórias em quadrinhos. Dentro da jornada do longa-metragem, o filme também conta com boas atuações e uma fotografia digna de grandes prêmios.
A EXAME Pop assistiu ao filme e te traz uma visão de público comum para saber se vale a pena ou não investir na bilheteria. Confira:
A história gira em torno de um carro de mensagens, o Coração de Neon, operado a quatro mãos por pai e filho, Lau e Fernando, que sonham em levar o velho Corcel – batizado de Boquelove – para os Estados Unidos. Em uma das mensagens, porém, a situação não se desenrola como o esperado, desencadeando uma série de acontecimentos trágicos e surpreendentes.
O filme surpreende pela qualidade, ainda que tenha conseguido um baixo orçamento. O investimento total foi de R$ 1,5 milhão, angariado pela International House of Cinema (IHC, que é brasileira), produtora liderada por Soares e sua sócia, Rhaissa Gonçalves, sem usar leis de incentivo.
Por anos o cinema nacional luta com um dos maiores clichês da categoria: a apresentação dos personagens "preto e brancos", sem muita profundidade e com a moral bem estabelecida já na primeira vez em que aparecem em cena. Foi assim em algumas das maiores produções do país — especialmente nos filmes de comédia —, um reflexo, talvez, das novelas brasileiras.
Essa quebra de paradigma é o primeiro ponto que chama a atenção na narrativa de Coração de Neon. Se no início do filme, a trajetória parece confortável, já nos primeiros 15 minutos tudo muda de figura. O longa-metragem trabalha muito bem seus personagens para quebrar o estereótipo do personagem todo bom ou todo ruim: são nuances, momentos de perda, momentos de recuperação. O roteiro, assim, trabalha até o final com personagens que o público demora a entender se gosta ou se é indiferente. E, ao mesmo tempo, se compadece das jornadas deles.
Outro ponto que chama muita atenção no filme é a fotografia. Seja nas cores do carro, nos takes no escuro ou até durante o pôr do sol, tudo parece bastante vivo. É uma terceira vertente de um filme com três narrativas: a do próprio roteiro, a direção de câmera e o enredo musical que, juntos, se constroem e complementam.
No ponto específico da câmera, dois detalhes se sobressaem: as cores do filme se misturam às emoções dos personagens e o enquadramento deixa, de propósito, muito de fora. Em momentos no qual Fernando (Lucas Estevan Soares) chora, ou inicia alguma ação, são frequentes os cortes de câmera em seu rosto, as mãos que ficam de fora, os demais elementos da cena. Essa é uma estratégia interessante para aguçar a curiosidade do público, que vai processando toda a história aos poucos.
A escolha das lentes também conta uma história à parte. Toda a produção inclusive parece inspirada nas histórias em quadrinhos, posto que as cenas focam bastante nas expressões faciais, nas planos em primeira pessoa — especialmente no que tange o policial militar, personagem que detém boa parte das cenas mais violentas.
O que mais cativa, no entanto, não é só a fotografia, como o próprio enredo do filme. Diante de muitos aspectos culturais de Curitiba (e do Brasil, em geral), Coração de Neon conquista pela história dos personagens, seus anseios, dificuldades, superações e sonhos. E pode guiar as próximas produções brasileiras na nova forma de fazer filmes nacionais.
O filme é surpreendentemente profundo, sobretudo aos olhos da produção independente e de baixíssimo orçamento. A história envolve, os atores entregam bons sentimentos e, ao final, há um mix de reflexões.
A EXAME Pop recomenda a bilheteria de Coração de Neon, não só para homenagear o cinema brasileiro, mas também para vivê-lo em seu mais novo momento.
O filme estreou nesta quinta-feira, 9, no cinema nacional, em 150 salas de exibição de redes como Cinemark, Cinépolis e UCI.