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HRTechs do Brasil correm para se tornar ecossistemas

Com os aportes milionários recebidos pela Gupy e Sólides, o ano das HRTechs só começou e a tendência é trazer soluções completas ao RH

Guilherme Dias, da Gupy: “É uma dor do RH ter várias soluções pequenas que não se falam" (Reinaldo Canato/Ricardo Yoithi Matsukawa-ME/Sebrae - SP/Divulgação)

Luísa Granato

Publicado em 23 de fevereiro de 2022 às 06h00.

Com 500 milhões de reais no bolso, a Gupy, plataforma de recrutamento e seleção, comprou sua principal concorrente, a Kenoby. Pouco depois, foi a vez da Sólides, a HRtech das PMEs, de embolsar 530 milhões de reais.

E agora, já fica a expectativa para mais aquisições e movimentações. Mas é certo que o ano para as HRTechs começou animado e tudo indica que deve continuar assim. Afinal, todas estão de olho em um grande sonho: se tornarem ecossistemas para que o cliente, o RH, receba todas as soluções da jornada do funcionário da empresa.

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“É uma dor do RH ter várias soluções pequenas que não se falam. Um indicador não aprende com o outro. Soluções inovadoras e integradas vão ajudar com isso, tornando a jornada mais fluida”, diz Guilherme Dias, co-fundador da Gupy.

Ao invés de buscar fornecedores para cada inovação que quiser trazer para a empresa, o executivo de recursos humanos poderia contratar um combo de soluções. A evolução ajudaria as diversas soluções, da contratação ao desligamento dos funcionários, a conversarem e gerarem dados que se relacionam para a área de RH.

Para concretizar essa visão, o investimento de 500 milhões de reais da Gupy foram destinados em parte para fechar o negócio de aquisição da sua maior concorrente: a plataforma de recrutamento Kenoby.

Ambas têm softwares que ajudam na gestão de processos seletivos e rastreamento do candidato com inteligência artificial (ATS). Com a Kenoby, a Gupy passa a somar mais de 2.300 clientes, 36 milhões de usuários e cerca de 80 mil vagas publicadas por mês.

Durante a pandemia, a startup já percebeu que apenas oferecer uma solução de recrutamento, agilizando a leitura de currículos e enviando uma lista de candidatos para o RH, não era mais suficiente. Assim, a Gupy integrou a sua plataforma uma solução de admissão online.

Antes da compra recente, no ano passado a HRTech também fez sua primeira aquisição: a startup Niduu, uma expansão para a educação corporativa.

Entre os diversos desafios do RH, a busca por mão de obra especializada em um mercado que demanda habilidades novas a todo momento trouxe a necessidade de requalificar constantemente a força de trabalho.

“Muito além de fechar uma posição, hoje é necessário fazer o upskilling e reskilling para ter dentro da empresa soluções para preencher o gap de habilidades. A busca de soluções no núcleo de treinamento não é só no Brasil, mas lá fora também”, afirma Guilherme Dias.

A solução de educação também já faz parte da startup Sólides, que recebeu na semana passada o investimento de 530 milhões de reais na rodada Série B com a gestora de private equity Warburg Pincus.

Fundada em 2015, a startup sai na frente da corrida por um ecossistema. Ao focar no RH de pequenas e médias empresas como seu cliente, os fundadores e co-CEOs Mônica Hauck e Alessandro Garcia perceberam que era a gestão de pessoas já era muito custosa para esses negócios e eles precisariam de uma solução integrada.

“A gente começa entregando um questionário ao mercado para traçar o perfil comportamental na contratação. E quem normalmente usava essas ferramentas eram as grandes empresas. Não queríamos seguir o fluxo do mercado e fomos oferecer o produto para as pequenas e médias empresas”, explica Mônica Hauck.

Na hora de entregar uma solução de recrutamento que ajudasse a mapear o perfil “do faxineiro ao CEO”, eles perceberam que o próprio RH precisava de uma qualificação para entender o uso de dados e fazer uma transformação digital.

“E começamos a entender que ia além. Depois da educação, precisava criar uma jornada de recrutamento, depois avaliação, pesquisa de clima”, explica.

Hoje, a Sólides atende cerca de 12 mil clientes, com foco em PMEs de 50 a 800 empregados em todo o Brasil. No país, existem 600 mil empresas com 30 a 1.000 funcionários, o que cria um mercado potencial para a HRTech avaliado em cerca de 17 bilhões de reais.

Com o investimento, o lema de “tudo que o RH precisa em um lugar só” vai se intensificar. Hauck e Garcia ainda não podem revelar quais negociações estão no forno, mas avisam que a equipe especializada em fusões e aquisições está montada e trabalhando.

Segundo Hauck, os primeiros movimentos virão para cobrir funcionalidades que ainda não existem no software.

Novos ecossistemas

A ideia de um ecossistema de empresas não é novidade. Na matéria de capa da EXAME de janeiro, Sergio Zimerman, presidente da varejista Petz, defendeu a criação de um ecossistema com parcerias e aquisições de negócios do setor de produtos e serviços para animais de estimação.

Nos últimos dois anos, a empresa de Zimerman tem uma longa lista de aquisições para a criação do seu ecossistema: a consultoria de adestramento Cão Cidadão, a varejista online Cansei de Ser Gato e a grife online Zee.Dog.

Segundo estudo da McKinsey de 2020, os ecossistemas já dominam o mercado global: seis das sete maiores empresas naquele ano eram ecossistemas. A americana Amazon sobre e-commerce, logística e computação em nuvem. A chinesa Tencent tem empresas de jogos, finanças e mídias sociais.

Em 2019, Carlos Guilherme Nosé, CEO da Fesa Group, consultoria fundada em 1995 para fazer recrutamento executivo, foi à China para encontrar alguma solução de tecnologia para as diversas questões que se acumulavam em mais de 20 anos de carreira.

Em resumo, ele queria saber como a tecnologia ajudaria a trazer o conhecimento que adquiriam ao entrevistar milhares de executivos poderia ser potencializado com o uso de dados e automação.

“Estava com medo de chegar na China e encontrar uma solução única que seria apertar um botão e todos os problemas do RH estavam resolvidos. E ponto, morreu o negócio. Voltei com a ideia de que estávamos no caminho certo. Vimos empresas nascidas no online e que estavam comprando empresas offline para conseguir a interação humana”, diz o CEO.

Nosé fala em caminho certo, pois meses antes havia contratado Clayton Pedro, sócio e responsável pelo FESA XFour, iniciativa para fomentar investimentos em inovação em HRTechs.

Foi assim que a empresa começou a construir o seu ecossistema com um olhar para soluções em diversas frentes: para o desenvolvimento de soft skills, a Trillio Academy; a Swile, entrando em benefícios flexíveis; e a Seedlink, para avaliação de candidatos com inteligência artificial.

Há anos trabalhando em formar um pacote de soluções de ponta para o RH, Pedro acredita que a competição no mundo dos negócios não se dá mais entre empresas – agora o jogo é competir entre ecossistemas.

“No RH, temos a mesma mistura de físico e digital agora que aconteceu com o varejo na pandemia. Estamos plugando soluções para acompanhar a jornada de candidato até a aposentadoria, a soluções para o RH não pode ser contratar 400 startups. O cliente quer uma suíte conectada, com a lógica que facilite a vida dele”, diz Pedro.

Assim, o grupo acaba de anunciar mais um investimento, agora na startup de Recife Recrut.Ai, que usa inteligência artificial no sistema de smart recruiting. A ideia da tecnologia é diminuir ao máximo o tempo de interação com o candidato e trazer o máximo de dados sobre o perfil com um questionário simples.

A empresa, fundada em 2019 por Patrick Gouy, Karol Branco e Eduardo Muniz, captou seu primeiro investimento de R$ 1 milhão com a FESA Group, a Cento e Onze Participações e a Anjos do Brasil.

“O conceito de smart recruiting é uma evolução das plataformas atuais. Criamos uma tecnologia interpretativa, que entende a informação textual do currículo, no formato que estiver, em menos de um minuto”, explica Gouy.

Com as respostas dos candidatos a 15 perguntas, a tecnologia cria um perfil único com a aderência a vaga que o profissional fez sua candidatura.

“E ela não usa dados históricos, que são algoritmos colocados por contratações anteriores. Na primeira contratação que testamos, em Recife, a primeira contratada foi uma mulher negra para ser auxiliar de produção de fábrica, um perfil que não é comum no setor”, diz.

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