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Surgem imagens em vídeo de cachorro agredido; Carrefour se posiciona

Rede diz que "não vai se eximir de suas responsabilidades" e que afastou segurança investigado. Ferir ou mutilar animais é crime previsto em lei ambiental

(Instagram/Reprodução)

Vanessa Barbosa

Publicado em 4 de dezembro de 2018 às 20h00.

Última atualização em 4 de dezembro de 2018 às 21h45.

São Paulo - Surgem nas redes sociais as primeiras imagens em vídeo do cachorro agredido na unidade paulista do Carrefour em Osasco, na última quarta-feira (28).

A ativista dos direitos dos animais Luísa Mell, que está acompanhando o caso, esteve naDelegacia de Polícia de Investigações Sobre o Meio Ambiente (D.I.I.C.M.A.) do município e divulgou nos "stories" da sua conta no Instagram as imagens da câmera de segurança do supermercado que estão sendo analisadas na investigação.

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"A associação de advogados criminalistas está entrando com uma ação de maus tratos contra o funcionário e de danos morais coletivos contra o Carrefour! Iremos acompanhar pessoalmente as investigações! Queremos justiça!", escreveu a ativista no post.

Ferir ou mutilar animais domésticos, silvestres, nativos ou exóticos é crime e pode render pena de detenção de três meses a um ano, além de multa, segundo oartigo 32 da Lei de Crimes Ambientais (nº 9.605/98).

Nas imagens, um segurança da loja segue o animal para fora da loja segurando uma barra aparentemente feita de metal. A certa altura o animal retorna para dentro do estabelecimento e, a medida que caminha, é possível observar marcas de sangue no chão. Em outro momento, o funcionário reaparece novamente tentando tirar o animal da loja.

O vídeo postado pela ativista mostra, na sequência, a chegada doCentro de Controle de Zoonoses (CCZ) e os profissionais do centro tentando resgatar o o cachorro com auxílio de um enforcador, equipamento usado para conter animais. Em agonia e após ter perdido bastante sangue, como se pode observar nas imagens, o animal desmaia.

Em nova nota enviada ao site EXAME, oCarrefour afirma que não vai se eximir de sua responsabilidade e que afastou o funcionário da segurança enquanto as investigações são concluídas. Suspeita-se ainda que o animal possa ter sido envenenado.

"Estamos tristes com a morte desse animal. Somos os maiores interessados para que todos os fatos sejam esclarecidos. Por isso, aguardamos que as autoridades concluam rapidamente as investigações. Desde o início da apuração, o funcionário de empresa terceirizada foiafastado. Qualquer que seja a conclusão do inquérito, estamos inteiramente comprometidos na reparação desse dano", diz a empresa.

Em outra nota divulgada mais cedo nesta terça-feira, o Carrefour reconhece que aabordagem do funcionário "pode ter ocasionado um ferimento na pata do animal". No mesmo comunicado, a rede de hipermercados diz que havia comunicado aoCentro de Zoonoses de Osasco sobre a presença do animal no estabelecimento "diversas vezes" e que no dia do ocorrido o CCZ teria prestado mal atendimento ao animal ao usar um "enforcador". Confira abaixo:

"O Centro de Zoonoses de Osasco foi acionado por diversas vezes, mas não recolheu o animal. No dia do incidente, clientes se queixaram sobre a presença do cachorro, e, novamente, o órgão foi acionado. Um funcionário de empresa terceirizada tentou afastá-lo da entrada da loja e imagens mostram que esta abordagem pode ter ocasionado um ferimento na pata do animal. O Centro de Zoonoses de Osasco foi acionado novamente e compareceu ao local para recolhê-lo. No entanto, no momento da abordagem dos profissionais do órgão para imobilização, o cachorro desfaleceu em razão do uso de um “enforcador”, tipo de equipamento de contenção. A Delegacia especializada de Osasco (D.I.I.C.M.A.) abriu inquérito e está investigando o caso. Estamos colaborando com as autoridades, disponibilizamos todas as informações e imagens para que o fato seja solucionado".

A prefeitura de Osasco, responsável pelo CCZ, emitiu uma nota em suas redes sociais afirmando que o animal estava com sangramento intenso quando a equipe do Departamento de Fauna e Bem Estar Animal chegou ao local. Veja o comunicado na íntegra abaixo:

“Em resposta à nota divulgada pelo Hipermercado Carrefour, esclarecemos que o Departamento de Fauna e Bem Estar Animal esteve no local em atendimento a solicitação da Central 156 (Protocolo 2726381), cadastrada às 9h24 do dia 28/11/2018, para prestar atendimento a um cachorro ferido e sangrando. O comparecimento da equipe no local da ocorrência foi por volta das 10h.

A equipe esteve no local e constatou a existência de um animal de espécie canina com sangramento intenso.O manejo foi realizado por um oficial de controle animal qualificado e o animal foi encaminhado ao departamento para atendimento emergencial.

O animal deu entrada consciente no departamento em decúbito lateral (deitado de lado), mucosas anêmicas, hipotensão severa (pressão baixa), hipotermia intensa, hematêmese (vômito com sangue) e escoriações múltiplas. Apesar do tratamento instituído o animal veio a óbito.

No dia 1/12/2018, o Departamento de Fauna e Bem Estar Animal passou a receber informações que se tratava de um caso de maus tratos e foi iniciado a apuração do caso com solicitação de inquérito policial.

O inquérito policial está sob responsabilidade da Delegacia Especializada de Osasco. Somente o inquérito poderá indicar as causas da morte e a quem cabe a responsabilidade.”

De quem é a culpa?

Segundo Rafael Paiva, advogado e presidente da Comissão de Direito Constitucional da OAB/Santana, além dapossibilidade de responsabilização do agressor, resta a análise de possibilidade de responsabilização dos diretores do supermercado ou do próprioCarrefour. Segundo denúncias nas redes sociais, o segurança teria perseguido o cachorroapós uma suposta ordem de seu superior para “limpar” o mercado, que receberia naquele dia visita de executivos da empresa.

“No que se refere à responsabilização dos gerentes e diretores, se confirmado que o referido segurança teria agido a mando destes, podem eles também serem responsabilizados pelo mesmo crime na qualidade de mandantes, ainda que não tenham praticado diretamente as agressões”, explicou o advogado em análise sobre o caso.

Já em relação aoCarrefour, a responsabilização penal ainda é incerta, pois segundo o advogado, apesar de haver previsão legal neste sentido, a doutrina e a jurisprudência ainda divergem muito sobre a possibilidade de responsabilização penal da pessoa jurídica nesses casos, tanto que o Direito Penal Brasileiro adota o sistema de responsabilização penal subjetiva, que torna inviável a responsabilização penal de empresas, que são, na verdade, ficções jurídicas.

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