Cadeira em escritório, vazia: figuras importantes de empresas chinesas desapareceram sem qualquer explicação inicial (Goodshoot/Thinkstock/Reprodução)
Da Redação
Publicado em 11 de dezembro de 2015 às 20h24.
O que fazer quando seu principal executivo deixa de atender o telefone? Essa é uma experiência com a qual as empresas chinesas estão começando a se acostumar.
Nos últimos 12 meses, figuras importantes do China Minsheng Banking, da China Aircraft Leasing e das corretoras Founder Securities e Guotai Junan desapareceram sem qualquer explicação inicial.
Ausências semelhantes atingiram a rede de lojas de departamentos Ningbo Zhongbai e a gestora de resíduos Dongjiang Environmental. Agora é a vez da mini-Berkshire Hathaway da China, a Fosun International.
As negociações na Fosun, que detém investimentos na Club Med, no Cirque de Soleil e no edifício Chase Manhattan Plaza, em Nova York, foram interrompidas nesta sexta-feira após os relatos de que Guo Guangchang, bilionário que ajudou a fundar a empresa com cerca de US$ 6.000 em capital durante os anos 1990, está desaparecido.
A empresa havia “perdido contato” com Guo, que se moldou à imagem do presidente da Berkshire, Warren Buffett, publicou a revista Caixin.
A Fosun é uma das empresas chinesas não-estatais que mais realizam aquisições, por isso a repentina ausência de Guo deixou projetos pela metade. Há cerca de US$ 2,2 bilhões em negócios ainda pendentes, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Entre eles estão uma oferta de US$ 586 milhões pela distribuidora chinesa de filmes Bona Film; uma participação controladora de US$ 476 milhões em uma seguradora israelense, a Phoenix Holdings; e a aquisição do banco privado alemão Hauck Aufhaeuser por US$ 232 milhões.
Além disso, há também a disputa pela BHF Kleinwort Benson: a Fosun ofereceu US$ 529 milhões para compra da parte dos acionistas da gestora de recursos belga, mas foi superada no mês passado por uma oferta maior do banco de investimento francês Oddo.
Apesar de os desaparecimentos de executivos chineses muitas vezes acabarem sendo ligados à ampla repressão à corrupção oficial iniciada pelo presidente Xi Jinping, não existem evidências neste caso a respeito do que aconteceu com Guo. O portal chinês Sohu.com reportou que ele está ajudando na investigação do ex-vice-prefeito de Xangai, Ai Baojun, citando uma fonte informada sobre o assunto que ele não identificou.
O porta-voz da Fosun, Chen Bo, disse à Bloomberg News que as operações da empresa “continuam normalmente” e não respondeu a um pedido de comentário a respeito da reportagem do portal Sohu.
Existe uma importante diferença em relação àquela onda repressiva: a Fosun não é uma empresa estatal, e sim privada, e não das pequenas: possui cerca de 34 bilhões de yuans (US$ 5,3 bilhões) em ativos de longo prazo espalhados pelos cinco continentes. As investigações de Xi são realizadas em grande parte pela Comissão Central de Disciplina e Inspeção, um órgão interno do Partido Comunista de fora do sistema judicial regular responsável por punir os integrantes do partido.
Como essas investigações envolveram principalmente empresas estatais que o governo chinês possui interesse em preservar, em muitos casos elas mantiveram os acionistas das empresas afetadas intocados. Basta comparar o banco de investimento brasileiro BTG Pactual com a Citic Securities, firma chinesa controlada pelo Estado: as ações do BTG caíram 50 por cento nos 12 dias de negociação desde a prisão do CEO André Esteves.
O preço da Citic em Xangai, por sua vez, subiu 0,4 por cento ao longo do mesmo período depois que o presidente do conselho, Cheng Boming, foi citado em um inquérito por insider-trading.
Embora as ações da Fosun e das empresas associadas permaneçam suspensas, seus US$ 400 milhões em bonds de 6,875 por cento para 2020 caíram 16,1 centavos, para 88,3 centavos, antes de serem negociados a 92,11 centavos de dólar às 12h15 em Hong Kong. Até que descubramos mais sobre o paradeiro de Guo, a empresa está, em grande medida, em território desconhecido.