Negócios

Startups lideradas por mulheres mostram a força da inovação regional no Brasil

Com novos polos tecnológicos no país, brasileiras se destacam no ecossistema global

Eduarda Franklin, cofundadora e CEO da Orby: “Gerenciar o negócio é um trabalho complexo. Mas precisamos mostrar às novas gerações que as meninas podem ser e estar onde elas quiserem”

Eduarda Franklin, cofundadora e CEO da Orby: “Gerenciar o negócio é um trabalho complexo. Mas precisamos mostrar às novas gerações que as meninas podem ser e estar onde elas quiserem”

Soraia Alves
Soraia Alves

Repórter Especial

Publicado em 13 de janeiro de 2025 às 14h00.

Para quem ainda duvida do papel do Brasil no desenvolvimento mundial da inovação, o Global Startup Ecosystem Report 2024, relatório criado pela organização americana Startup Genome, destaca que o país é o líder do ecossistema de startups na América Latina. Segundo o documento, que leva em consideração aspectos como desempenho, número de fundos de investimento e alcance de mercado, o Brasil aparece na 26ª posição do ranking global. O relatório também aponta que São Paulo possui um dos 30 maiores ecossistemas de inovação do mundo, com valor estimado em 117 bilhões de dólares – à frente de cidades como Austin, nos Estados Unidos (27ª) e Shenzhen, na China (28ª).

Cristina Mieko, head de startups no Sebrae, explica que a grande concentração empresarial na capital paulista acaba transformando a cidade em um ambiente que estimula o empreendedorismo local e atrai investimentos. “A densidade de institutos de ciência e tecnologia, de universidades e laboratórios de inovação também contribui para que São Paulo acabe se destacando em rankings e cenários globais. Mas estamos vendo outros polos nacionais crescendo e começando a chamar a atenção do mercado.”

Florianópolis, no Sul do país, é um exemplo. Recentemente, a cidade recebeu do Governo Federal o título de Capital Nacional das Startups. Concentrando cerca de 42% das startups existentes em Santa Catarina, a cidade é a que concentra mais empresas de tecnologia no Brasil por número de habitantes: são 7,4 negócios do tipo a cada 1.000 moradores.

E foi na chamada Ilha do Silício que nasceu a Mundi Game Experiences, uma edtech de simulações gamificadas para equipes, que tem como objetivo ajudar na construção de competências e no engajamento nas áreas de inovação, empreendedorismo e sustentabilidade das empresas. Fundada por Fabiele Nunes e Antonio Durán Junior, a startup foi uma das vencedoras do prêmio BRICS Women’s Business Alliance: Women’s Startups Contest 2024.

A Mundi, que atua com uma equipe majoritariamente feminina, se destacou na categoria Educação na premiação voltada para negócios liderados por mulheres nos países membros do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), e que tem o objetivo de fomentar e reconhecer a participação feminina no ecossistema de inovação.

“Iniciamos a Mundi em 2017, então podemos dizer que participamos de boa parte da história do ecossistema de inovação do país. Criamos a startup em um bom ‘timing’, conseguimos nos reinventar durante a pandemia, passamos por diferentes estágios de maturidade nos investimentos. Em 2021, vimos a demanda aumentar, o que nos levou a uma transformação para uma plataforma com conteúdos múltiplos e até feitos sob medida”, conta Nunes, que também é CEO da startup. Entre os clientes do negócio estão grandes nomes como Adidas, JP Morgan, Embraer, Samsung, Petrobras e Caixa Econômica Federal.

Durante essa trajetória, a empreendedora também viu aumentarem os números de startups fundadas por mulheres. No entanto, o número ainda é tímido. Segundo o Mapeamento do Ecossistema de Startups de 2023, realizado pela Associação Brasileira de Startups (Abstartups) em parceria com a Deloitte, apenas 19,7% das pessoas que fundaram startups no Brasil são mulheres.

“Quando estamos em eventos, palestras, mesas de negociação… Sempre há mais homens. Mas a primeira coisa para mudar esse cenário é entender que esses também são os nossos lugares. Costumo pensar que em lugares onde 70% do público é homem, serão os 30% de mulheres a serem lembradas. Precisamos ter confiança”, analisa a CEO.

Regionalização

Cidades do Norte e do Nordeste reforçam a lista de polos “não sudestinos” que têm chamado a atenção dos investidores. No caso de Recife, o trabalho de internacionalização do ecossistema e foco na realização de parcerias com empresas e órgãos estrangeiros já começou. Neste ano, o Porto Digital, um dos principais parques de tecnologia e inovação do Brasil, com sede na capital pernambucana, criou um braço internacional em Portugal, chamado Porto Digital Europa, com sede em Aveiro.

É do Recife, inclusive, outra startup destaque no prêmio BRICS Women’s Business Alliance: Women’s Startups Contest 2024. A PLUVI venceu na categoria Inovação e Infraestrutura na premiação. A deep tech – termo utilizado para definir empresas que estão na vanguarda da inovação, com base em avanços científicos e tecnológicos – se dedica a transformar a água da chuva em água potável através de soluções tecnológicas que permitem a captação, o tratamento e a distribuição da água pluvial, oferecendo uma alternativa sustentável para o abastecimento de água, especialmente em regiões com problemas de escassez hídrica.

Criada em 2021, mas fruto de um projeto nascido na Universidade Federal do Pernambuco há quase duas décadas, a PLUVI também é um exemplo de negócio que surgiu para solucionar um problema local. A ideia surgiu em 2006 com a pesquisa acadêmica da professora Sávia Gavazza, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que estudava formas de melhorar a qualidade da água das chuvas armazenada nas cisternas na região do semiárido brasileiro.

Isabelle Câmara, CEO e sócia-fundadora da PLUVI: vencer o prêmio BRICS Women’s Business Alliance: Women’s Startups Contest 2024 é vitória para própria trajetória das brasileiras no ecossistema de inovação global.

“Quando criamos a startup, queríamos levar essa tecnologia para regiões urbanas, para atender a mais pessoas e contextos”, explica Isabelle Câmara, CEO e sócia-fundadora da PLUVI. “Acabamos desenvolvendo uma solução que não só contribui para a segurança hídrica, mas também traz a dignidade de um banho de chuveiro à população carente, e que ainda consegue reduzir em até 30% o volume de água em períodos de pico de chuvas, ajudando na diminuição de riscos como o deslizamento de encostas e enchentes urbanas.”

Câmara destaca que o reconhecimento da PLUVI na premiação do BRICS também é, de certa forma, uma legitimação da própria trajetória das brasileiras no ecossistema de inovação global. “É um incentivo à representatividade. Somos um celeiro de ideias inovadoras e precisamos promover as colaborações, o networking com outras mulheres. Somos uma grande rede de conexões. Mulheres que sempre se apoiam”, avalia.

Representatividade

Foi o incentivo de outras mulheres, especialmente de sua mãe e sua tia, que fez Maria Eduarda Franklin, natural do Rio Grande do Norte, desde cedo se interessar por ciência e tecnologia. Hoje, aos 25 anos, graduada em Neurociências e em Engenharia Biomédica, ambos pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), ela é CEO e uma das fundadoras da Orby,Co, startup pioneira no desenvolvimento de um sistema de controle para neuromodulação não invasiva e automação da reabilitação funcional.

A solução, segundo a cientista, é projetada para integrar processos médicos, podendo ajudar na reabilitação da capacidade motora e na redução da sensação de dor para pessoas com condições neuromotoras, como Parkinson e lesão medular. “Ainda na faculdade, fui incentivada a não manter o meu trabalho apenas dentro da academia. Diferentes professores me disseram para ter coragem e levar as minhas descobertas para o mercado”, relembra a CEO.

Franklin escolheu outra mulher para estar ao seu lado no dia a dia da startup: Kalynda Gomes, cofundadora e estrategista de marca da Orby. Juntas, elas têm levado o negócio para o mundo. Recentemente, a Orby conquistou o Pitch Competition da Startup Portugal durante o Web Summit Lisboa 2024, um dos maiores eventos de tecnologia e inovação do mundo.

“Gerenciar o negócio é um trabalho abrangente, complexo. Mas precisamos mostrar às novas gerações que as meninas podem ser e estar onde elas quiserem. O Nordeste, em especial, tem uma tradição de criar grandes pensadores. E temos também inúmeros cases valiosos na ciência”, reforça Eduarda.

De acordo com o Sebrae, das 408 startups com foco
em impacto socioambiental listadas no país,
86 estão no Nordeste e 64 no Norte

Com a realização da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP) no Brasil, no próximo ano, a oportunidade de empreendedores brasileiros apresentarem soluções sustentáveis para o mundo aumenta. “Não há dúvidas que o Brasil tem um grande potencial em um ecossistema de inovação voltado para questões ambientais e da bioeconomia”, Mieko.

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