Marcello Gonçalves, da Domo.VC, e Fabiana Fagundes, da FM/Derraik, falaram sobre o retorno dos IPOs (Marcos Bonfim/Exame)
Repórter de Negócios
Publicado em 18 de abril de 2024 às 15h19.
Última atualização em 18 de abril de 2024 às 17h02.
RIO DE JANEIRO - Em um painel sobre os IPOs devem retornar ao jogo, Marcello Gonçalves, sócio e cofundador da Domo.VC, gestora com foco em startups em estágios iniciais, parecia um peixe fora d’água no palco central do Web Summit Rio. O executivo é cético quanto à dinâmica da abertura de capital de startups no Brasil e na América Latina.
O caminho de fusões e aquisições é o caminho mais real, apesar de menos sexy. “O IPO é a exceção”, diz, citando uma pesquisa americana que computou que, ao longo das últimas décadas, 96% das saídas dos investimentos em startups foram feitos por M&As e apenas 4% via IPO. “É aquela empresa que se destacou mais do que as outras”.
A base para o argumento vem de duas motivações principais. A primeira é a de que a bolsa brasileira não abre oportunidades para empresas locais de tecnologia fazerem IPO. Daí, deriva a segunda opção: a ida ao mercado internacional, o que requer das empresas uma atuação global ou regional.
“O sucesso das empresas brasileiras que fizeram o IPO lá fora e foram bancadas por venture capital é que elas se transformaram em empresas globais. Startups brasileiras que não têm ambição de se tornar global ou regional, não têm chance de fazer IPO”, afirma Gonçalves.
Segundo ele, isso leva ao cenário atual em que são as fusões e aquisições que movimentam o mercado. “O meu otimismo com as fusões e aquisições é inversamente proporcional ao IPO”. Em linha, um estudo da KPMG mostrou que as fusões e aquisições estão crescendo na América Latina e esperam o aumento do valor das transações entre 2024 e 2025.
Mas não é só isso, o movimento de abertura de capital requer todo um processo que nem sempre os fundadores estão preparados para bancar em termos de conformidade ou de recursos.
“A abertura de capital não é o final do jogo, é só uma mudança no jogo”, diz Fabiana Fagundes, sócia do FM/Derraik, escritório de advocacia especializado em fundo de venture capital.
Segundo a especialista, o mercado está mudando, mas há passos lentos. “Nas conversas que tive com banqueiros, todos esperam para o quarto trimestre deste ano ou começo de 2025”, diz.
Além disso, as oportunidades estão mais claras para empresas da economia real. "Eu até acho que teremos uma volta dos IPOs no Brasil no segundo semestre, mas na economia real. Todo o meu pessimismo é voltado para as empresas de tecnologia", diz Gonçalves, da Domo.VC.
A transição será acompanhada também pelo tipo de apetite: negócios pequenos não devem chamar a atenção quando a janela for reaberta, ao contrário do que aconteceu nos anos pandêmicos.
“Nós estamos falando de um valuation de 3,5 bilhões de dólares para um IPO na Nasdaq ou NYSE e de 5 bilhões de reais, no Brasil, para justificar um IPO nos próximos anos”, afirma a sócia do FM/Derraik.
No período entre 2020 e 2021, mais de 70 empresas abriram capital. Entre as startups, o mercado assistiu a casos como o da Meliuz, que movimentou R$ 367 milhões na oferta, e da GetNinjas, com R$ 555 milhões. Isto é, números que, no novo ciclo, tenderiam a não sustentar uma eventual ida à bolsa para novas candidatas.
* O jornalista viajou a convite da Stone