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Startup do Amapá capta R$ 3 milhões e já tem R$ 30 milhões para emprestar na Amazônia

Empresa foca em crédito consignado para funcionários públicos; meta é movimentar R$ 100 milhões até 2025

Lutiano Silva, da Consignei: “Eu já me via como um servidor empreendedor” (Consignei/Divulgação)

Lutiano Silva, da Consignei: “Eu já me via como um servidor empreendedor” (Consignei/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 27 de maio de 2024 às 11h12.

O amapaense Lutiano Silva fez sua carreira como servidor público. Por mais de uma década, trabalhou numa área que apoiava a transformação digital do governo estadual do Amapá. Por ali, chegou a ser diretor-presidente. 

Num movimento não tão usual no país, porém, Silva decidiu deixar a carreira como concursado para empreender. 

“Eu já me via como um servidor empreendedor”, diz. “Não tinha CNPJ, mas sempre tive na veia a vontade de empreender. Me via como alguém emprestado para o poder público, mas com vontade de ir para o privado”.

O movimento aconteceu em 2023. Silva identificou uma oportunidade de criar uma empresa de tecnologia que atendesse governos numa área com forte demanda no setor: a de crédito consignado.

Enquanto estava no governo do Amapá, o empreendedor já tinha identificado a dificuldade dos bancos de fazer a gestão do crédito consignado junto aos governos. Nessa modalidade de crédito, o pagamento do empréstimo é descontado direto da folha de pagamento. No caso dos servidores públicos, quem opera esse crédito precisa fazer uma integração que envolve a instituição financeira e a entidade pública para a qual o servidor trabalha. A partir dessa integração, é possível, além de oferecer o dinheiro, calcular qual é a margem de empréstimo, por exemplo.

Foi nessa integração que Silva resolveu atuar quando criou a Consignei ano passado. Inicialmente concebida para ser um software de gestão de crédito, a startup ganha agora um novo passo. 

Ela acaba de receber um aporte de 3 milhões de reais da gestora de investimentos Bertha Capital para expandir sua atuação e, além da gestão, passar a fornecer, efetivamente, o crédito. 

“Silva já tinha a plataforma tecnológica e identificamos que ele poderia ser também o agente que oferta crédito”, diz Rafael Moreira, CEO e fundador da Bertha Capital. “Como se fosse um super correspondente bancário. Ele acessa a base, consegue cadastrar a estrutura da fintech nos sistemas e oferecer taxas agressivas, entender as margens de crédito”. 

Além do aporte de capital, a Bertha montou um fundo de 30 milhões de reais para que a Consignei conceda o crédito. 

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Por que o foco na Amazônia Ocidental

Parte da estratégia de consolidação da Consignei é ganhar público e clientes na região Norte, principalmente na Amazônia Ocidental, composta pelos estados do Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima. 

“Essa estratégia é muito motivada pelo CPF, pelo fato de eu ser de lá, de ter sido gestor público e ainda morar lá”, diz Silva. “Além disso, a Bertha está focada em fomentar a Amazônia Ocidental, então faz sentido esse investimento”.

“Mas como estamos falando de uma operação totalmente digital, podemos expandir para todo o Brasil”.

E isso de fato está acontecendo. A Consignei já está com operação de crédito em estados como Pernambuco, Bahia e São Paulo. A meta para 2025 é operacionalizar 100 milhões de reais em crédito. 

"Estamos entusiasmados em apoiar a Consignei nesse início de atuação e, principalmente, em contribuir para a expansão da oferta de crédito consignado na Amazônia e em todo território nacional”, diz Moreira, da Bertha. “Este investimento não apenas fortalece a presença da credtech na região, mas também pavimenta o caminho para sua expansão nacional".

O aporte da Bertha Capital na Consignei mira um mercado promissor para negócios. No ano passado, segundo dados do Banco Central, o estoque de crédito cresceu 17,4% na modalidade de crédito livre, com destaque para o consignado, entre pessoas físicas. 

Como funciona o ecossistema de inovação do Amapá

O Amapá trabalha para ser uma referência em startups na região amazônica. Não à toa, sediou recentemente a Startup20, agenda de inovação das 20 maiores economias do mundo. Por trás da estratégia, a lógica de usar os elementos únicos do estado para desenvolver um ambiente que desague em inovação. “Eu falo que uma hora nós vamos chegar lá. A diferença é que vamos ter que bater em mais portas”, afirma Frank Portela, da SouRev, uma startup criada em 2021 para dar crédito a sacoleiras. 

Em pouco mais de dois anos, o negócio ofereceu R$ 25 milhões para cerca de 20.000 mulheres. Até chegar nesses números, passou por 35 bancos e “rodou pela Faria Lima” até conseguir os recursos para bancarizar a operação.A SouRev é uma das que bebem de um movimento que começou há 10 anos com o Tucuju Valley, criado por empreendedores para fomentar o empreendedorismo e as conversas. Por trás, estão as pioneiras no estado, como a Proesc e Orcafascio, de orçamento para obras.

Em um estado sem aceleradoras, fundos de investimentos nem investidores, o ecossistema, que homenageia a comunidade mais antiga de guerreiros indígenas da Foz do Rio Amazonas, se transformou no principal ponto de encontro. Por lá, circulam mais 100 startups operacionais e gerando recursos. 

Saiba mais: Do meio do mundo: como o Amapá quer se tornar uma referência em startups na região amazônica

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