Repórter
Publicado em 14 de dezembro de 2025 às 12h01.
Quando pensamos em inovação no setor alimentício, muitas vezes as primeiras imagens que vêm à mente são as de ingredientes futuristas ou alternativas à carne convencional.
No entanto, uma startup brasileira está revolucionando o mercado de proteínas com um método tão simples quanto eficiente: a fermentação do micélio, a parte vegetativa dos fungos. E o melhor, ela faz isso aproveitando subprodutos da indústria alimentícia, como as sobras do processo de produção de cerveja.
A Typcal, fundada em 2023, é a primeira foodtech na América Latina a desenvolver a proteína de micélio com tecnologia de fermentação controlada. A inovação está na ciência por trás do processo, que transforma resíduos, como as sobras de malte de cerveja, em uma proteína altamente nutritiva.
Recentemente, a empresa inaugurou a primeira fábrica em Pinhais, no Paraná. A estimativa é que até cinco toneladas de micélio serão produzidos por mês, com exportação majoritariamente internacional. A Typcal atua exclusivamente no B2B2C e tem parceria com a Ambev.
O micélio é uma estrutura formada por filamentos finos chamados hifas, que compõem a parte vegetativa de fungos.
Rico em proteínas e fibras, o micélio tem uma textura neutra e um sabor suave, o que facilita sua aplicação em alimentos, sem alterar o perfil sensorial.
A grande sacada da Typcal está no uso da fermentação controlada do micélio, um processo biotecnológico que permite a produção de proteína de alta qualidade em um tempo extremamente curto – cerca de 24 horas.
O diferencial, no entanto, não é apenas a rapidez do processo. Eduardo Sydney, cofundador e doutor em biotecnologia, destaca que o processo de fermentação do micélio desenvolvido pela Typcal é 6.000 vezes mais eficiente que os métodos tradicionais de produção de proteína.
Isso se traduz em menos uso de terra e água, uma vantagem gigantesca considerando as exigências de produção de proteínas convencionais, como soja e carne.
“Enquanto a soja exige grandes áreas de cultivo e a carne demanda recursos gigantescos, o micélio cresce em biorreatores verticais, ocupando um espaço mínimo. Isso representa uma grande economia de recursos e uma pegada ambiental muito mais leve”, explica Sydney.
Além disso, ao usar subprodutos da indústria, como as sobras da produção de cerveja, o processo se insere no conceito de economia circular, aproveitando resíduos que seriam descartados para gerar um alimento de alto valor nutricional.
Segundo dados da Typcal, a produção de micélio por fermentação em comparação com a carne bovina gera 98% menos emissões de CO₂, além de demandar 99,8% menos água.
"A tecnologia é tão eficiente que podemos produzir até 7.000 vezes mais proteína por metro quadrado do que a soja, sem a necessidade de grandes áreas de cultivo", diz Paulo Ibri, cofundador da Typcal.
Segundo a empresa, o custo deve se igualar ao da proteína de ervilha em 2 a 3 anos, e até ser mais barato que a soja numa década.
Para expandir ainda mais seu impacto, a Typcal investe em diversos tipos de produtos derivados do micélio.
Além da biomassa fresca, que se assemelha a carne desfiada e pode ser utilizada em substitutos de carne e ração animal, a empresa desenvolve uma versão em pó, que pode ser usada em panificação, snacks e alimentos industrializados.
O pó de micélio é uma solução prática, com um shelf life de até 12 meses, o que facilita a distribuição e aplicação em uma vasta gama de produtos alimentícios.
“Nossa missão é melhorar a qualidade dos alimentos, tornando-os mais saudáveis e sustentáveis, sem mudar os hábitos alimentares do consumidor”, explica Ibri.
Além disso, a Typcal está investindo em novas frentes, como a proteína concentrada de micélio para o mercado de suplementação esportiva e um composto de fibras para a saúde intestinal – uma área com enorme potencial de crescimento.
“Fibras são a próxima grande tendência no mercado de alimentação saudável. Acreditamos que esse produto será um marco”, antecipa Ibri.