Negócios

Volume da Ambev cai 27% em abril — sem bares, Brasil é desafio extra

No primeiro trimestre, queda foi de 1,6%. No Brasil, empresa afirma que clientes consomem menos fora de bares e restaurantes do que em países vizinhos

Ambev: resultados do segundo trimestre devem mostrar real impacto do coronavírus (Germano Lüders/Exame)

Ambev: resultados do segundo trimestre devem mostrar real impacto do coronavírus (Germano Lüders/Exame)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 7 de maio de 2020 às 08h19.

Última atualização em 7 de maio de 2020 às 15h47.

A crise do coronavírus não poupou as cervejas. A cervejaria Ambev divulgou na madrugada desta quinta-feira, 7, seus resultados referentes ao primeiro trimestre de 2020, com queda de 9,1% no volume vendido no Brasil no período.

O volume entre janeiro e março deste ano foi de 25 milhões de hectolitros, ante 27,5 milhões no mesmo período do ano passado. A receita da companhia no Brasil também caiu 9,6%, para 6,5 bilhões de reais.

Mas a empresa diz que o pior do impacto ainda está por vir no segundo trimestre. Só em abril, o volume de vendas caiu 27% em base consolidada em toda a operação da Ambev, que inclui outros países da América Latina e Canadá. Maior cervejaria da região, a Ambev é dona de marcas como Skol, Brahma, Budweiser e Corona.

Os impactos da covid-19 e do isolamento social -- que levou ao fechamento de bares em boa parte do Brasil e em outros países da região -- só começou no fim de março, de modo que ainda não é majoritariamente presente no balanço deste trimestre. "O impacto total da pandemia de covid-19 em nossos resultados futuros permanece bastante incerto, mas esperamos que o impacto nos nossos resultados do segundo trimestre de 2020 seja materialmente pior do que no primeiro trimestre de 2020", escreveu a empresa.

No primeiro trimestre, incluindo toda a operação, a receita geral caiu menos do que no Brasil, com queda de 1,6%, para 12,6 bilhões de reais. O lucro caiu 55,9%, para 1,2 bilhão de reais.

A queda foi segurada pela boa performance de outros países da América do Sul, grupo que a Ambev chama em seu balanço de "América Latina Sul", incluindo países como Argentina, Bolívia, Paraguai, Uruguai e Chile. Neste grupo, a receita subiu 22,4% e o volume, 6,4%. O Canadá também teve pouco acima de 3% em volume e receita.

A margem Ebitda ajustada (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) caiu de 40,5% no ano passado para 33,6%, uma redução de 680 pontos-base.

Embora os efeitos do coronavírus só tenham começado a ser sentidos no decorrer de março, a Ambev escreve no comunicado dos resultados que já havia sido afetada anteriormente no Brasil por outros fatores, como a "baixa confiança do consumidor" e "condições climáticas desfavoráveis" no começo do ano. A empresa considera também que teve "forte execução" no Carnaval, uma das principais datas do ano para a cervejaria no mercado brasileiro.

O desafio da venda sem bar

Junto aos resultados do trimestre, a Ambev fez um balanço com o comportamento de consumo dos clientes nos países em que opera, e conclui que os brasileiros estão entre os mais dependentes do consumo em bares e restaurantes e compram menos cerveja de outras formas.

No Brasil, o mercado chamado de off trade, que inclui supermercados e outros pontos de varejo, representa menos de 50% do mercado de cerveja. Em vizinhos sul-americanos, como Argentina, Uruguai e Chile, passa de 80%. A taxa de consumo off trade também fica na casa dos 80% em mercados como Canadá e Estados Unidos.

Um comportamento parecido ao do Brasil acontece em países como Bolívia e República Dominicana. (Os dados divulgados pela Ambev dizem respeito ao mercado cervejeiro como um todo, não necessariamente às vendas da empresa em si.)

Assim, enquanto os bares e restaurantes seguem fechados, a Ambev tende a ser particularmente prejudicada no Brasil, seu maior mercado.

A empresa aponta ainda no comunicado que pode ter mais dificuldade em países com menor consumo per capita das famílias. Em um índice de zero a 100 (sendo 100 o consumo nos EUA), o Brasil fica na faixa dos 40, ante valores entre 50 e 60 em Argentina, Uruguai e Chile.

A Ambev afirma que, "apesar das adversidades de curto prazo", continua focada em pontos como sua capacidade de distribuição, foco em clientes e inovação. "Executando nossos planos com sucesso, criaremos condições para sairmos mais fortes dessa crise e impulsionarmos o crescimento sustentável no longo prazo", escreveu a companhia.

Segundo dados de 2018 da Euromonitor, os últimos disponíveis, a Ambev tem mais da metade do mercado de cervejas brasileiro. A mais vendida é a Skol (com 27% do mercado em volume), seguida por Brahma (17%) e Antarctica (11%), todas da Ambev. Na sequência vêm Itaipava, da Cervejaria Petrópolis, e Nova Schin e Heineken, do grupo holandês de mesmo nome.

Com as dificuldades impostas pela pandemia, a Ambev diz ainda que sua "transformação digital também ganhou tração com a busca de consumidores e clientes por conveniência". A empresa é dona da startup de entrega de cervejas Zé Delivery, que conecta bares, supermercados e restaurantes a clientes. Segundo a Ambev, o negócio está "aumentando rapidamente" o número de pontos de contato (POCs), pedidos e volume total.

Acompanhe tudo sobre:AmbevBaresBrahmaCervejasSkol

Mais de Negócios

Empreendedorismo feminino cresce com a digitalização no Brasil

Quanto aumentou a fortuna dos 10 homens mais ricos do mundo desde 2000?

Esta marca brasileira faturou R$ 40 milhões com produtos para fumantes

Esse bilionário limpava carpetes e ganhava 3 dólares por dia – hoje sua empresa vale US$ 2,7bi