Negócios

Sauípe: prejuízos no paraíso

Para transformar o Costa do Sauípe em uma alavanca dos negócios, o comprador terá muitos desafios

COSTA DO SAUÍPE: Previ está em negociações para vender empreendimento ao Rio Quente / Reprodução/Facebook

COSTA DO SAUÍPE: Previ está em negociações para vender empreendimento ao Rio Quente / Reprodução/Facebook

DR

Da Redação

Publicado em 17 de outubro de 2016 às 15h04.

Última atualização em 18 de julho de 2018 às 16h05.

Michele Loureiro

Em outubro de 2000, tradicionais atrações musicais da Bahia como Olodum, Filhos de Gandhy e Margareth Menezes cantavam na cerimônia de inauguração do complexo turístico Costa do Sauípe. Para prestigiar o empreendimento, que prometia revolucionar o turismo do Nordeste, o governador baiano, presidente da Embratur e até mesmo o ministro do Turismo daquela época compareceram ao evento, que atraiu centenas de pessoas da alta sociedade. Dezesseis anos depois, o local se mostrou um mico, só nos últimos três anos o prejuízo passou de 53 milhões de reais e a Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil que é dono do do complexo turístico, está com as negociações avançadas para vendê-lo.

Fontes do setor afirmam que as negociações com o Rio Quente, empresa do ramo hoteleiro dos grupos Algar e Gebepar, já estão avançadas. O grupo já divulgou que planeja dobrar seu faturamento atual até 2020, e alcançar 600 milhões de reais.  Procurados, Previ e Rio Quente não se pronunciaram.

Mas o fato é que para transformar o Costa do Sauípe em uma alavanca dos negócios, o comprador terá muitos desafios. O local é fruto de uma parceria da Previ com a Odebrecht, e teve investimento inicial de 340 milhões de reais. Localizado 76 quilômetros ao norte de Salvador, o complexo foi instalado em uma área de 176 hectares, que abrigaria cinco hotéis com 1.427 apartamentos e seis pousadas com 169 apartamentos. Os hotéis eram administrados pelas cadeias mundiais Accor, Marriott e SuperClubs – parceria que ruiu em menos de dez anos. Na época da inauguração, a previsão era de que o complexo fosse triplicado até 2015. Estavam nos planos mais hotéis, pousadas, condomínios de casas e apartamentos e até um shopping.

A proposta de atrair um público endinheirado, disposto a gastar pequenas fortunas para desfrutar das regalias – como inúmeras piscinas, campo de golfe, quadras de tênis, de paddle, de squash, centro eqüestre e náutico – não garantiu o sucesso. Foram anos consecutivos de prejuízo e acomodações mais vazias que o esperado. O primeiro resultado positivo do complexo veio apenas em 2011, mais de uma década depois da inauguração. O feito se deu quando o local rompeu com a última bandeira em atuação no complexo e a Previ assumiu toda a operação do empreendimento na tentativa de colocar as contas no azul.

Porém, segundo fontes do setor, o Costa do Sauípe teve lucro em apenas três de seus 16 anos de existência. Em 2015, o prejuízo foi de 23 milhões de reais. Esta não é a primeira vez que o fundo se prepara para vender o complexo. Em 2011, o então diretor de participações da Previ, Marco Geovanne afirmou que “o ativo seria monetizado e vendido quando estivesse em alta”. Ao que parece, essa hora chegou.

Apesar de não se pronunciar sobre a intenção de vender o empreendimento, a Previ está com uma estratégia nova para o Costa do Sauípe – o que pode ser o momento da virada do complexo e a preparação para entregar os pontos. Três frentes fazem parte da tentativa de fazer o local voltar ao azul: aumento da participação de eventos corporativos na receita, a aproximação de agentes de turismo e uma mudança no formato de hospedagem.

A Costa do Sauípe reviu sua atuação junto aos agentes e está tentando deixar as vendas maiores no canal on-line, a fim de garantir um retorno mais rápido aos potenciais clientes. Muitas agências ainda trabalhavam com prospecções off-line e depois entravam em contato com os clientes, o que deixava o processo lento e resultava na perda de vendas.

Outra frente é a aposta em mais eventos. O local já recebeu acontecimentos importantes, como o Sorteio Final da Copa do Mundo do Brasil 2014, Reunião Anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento e grandes congressos da área médica, mas quer alavancar ainda mais a participação corporativa em sua receita. Ao todo, Sauípe possui 40 salas moduláveis, um ambiente com 2.400 metros quadrados para realização de convenções, seminários, jantares, casamentos, festas de confraternização e grandes shows, além da Arena Sauípe, com 5.000 metros e capacidade para receber até 6.000 pessoas.

Por último, o empreendimento resolveu mudar sua abordagem e dar a opção de que o público com menor poder aquisitivo possa se hospedar por lá. Neste ano, o local passou a oferecer hospedagem com o formato all-inclusive, modelo em que os hóspedes pagam um valor fechado com pensão completa. Segundo Edmar Bull, presidente da Associação Brasileira de Agentes de Viagens, essa inciativa pode alavancar o faturamento do local de forma expressiva. “Esse formato é comum em cruzeiros e hotéis fora do Brasil. Isso pode culminar em novos visitantes, que antes não planejariam uma viagem para lá”, afirma. “A classe média, por exemplo, precisa de um planejamento orçamentário para aproveitar as férias. Saber quanto vai gastar é fundamental para os clientes, ainda mais em tempo de restrição financeira”, diz.

Ainda de acordo com Bull, a venda da Costa do Sauípe não seria nenhuma surpresa para o setor de turismo, que vive uma onda de consolidações nos últimos anos – dentro e fora do Brasil. Alguns exemplos são a compra da Rextur Advance pela operadora de turismo CVC, por 208 milhões de reais; a companhia de viagens Club Med assumindo o Paradise Golf & Convention, resort localizado em Mogi das Cruzes (SP), e até a fusão da rede de hotelaria francesa Accor Hotels com a canadense FRHI Holdings, avaliada em 2,9 bilhões de dólares. Para ele, o setor se tornará mais rentável nos próximos anos e deve crescer dois dígitos em 2017. Resta saber se o Costa de Sauípe conseguirá passar de mico à coringa.

Acompanhe tudo sobre:Exame HojeRio Quente Resorts

Mais de Negócios

Valuation em expansão: Grupo Acelerador vale R$ 729 milhões após venda de fatia

Ela criou uma ONG de capacitação socioemocional e captou R$ 1 milhão

Softbank vai anunciar investimento de US$ 100 bilhões nos EUA, diz CNBC

Após superar os R$ 500 milhões, Voke investe na Renov para crescer nos seminovos