São Paulo - Depois de anos tentando comprar a TAP, o empresário Germán Efromovich perdeu a disputa para David Neeleman, dono da Azul.
Efromovich, dono da Avianca, estava há quase três anos tentando abocanhar a companhia aérea portuguesa, em processo de privatização. A compra seria bem do seu perfil. O dono da Avianca tem um faro especial para empresas quebradas ou em dificuldade.
Formou um império na água e no ar, com as empresas Marítima e Avianca, comprando companhias à beira da falência e aviões abandonados.
Mesmo sem dinheiro, hospedava-se em hotéis cinco estrelas para impressionar clientes e firmava compromissos que não conseguia cumprir.
Hoje, sua holding Synergy Group é um conglomerado industrial com base no Rio de Janeiro, que atua em exploração de petróleo, companhias aéreas, geração de energia e no setor de telecomunicações.
Origem
Apesar de atualmente ser dono de grandes empresas, a história de Efromovich começou em uma família pobre, fugindo da guerra.
Seus pais, judeus poloneses, escaparam do país europeu após a Segunda Guerra Mundial, em direção à América do Sul. Primeiro, vieram para a Bolívia, onde Germán Efromovich nasceu em 1948, e depois para o Chile.
Quando ele estava com 14 anos, a família se mudou para São Paulo, no Brasil, onde finalmente se estabeleceu. Efromovich naturalizou-se brasileiro e começou a trabalhar ainda adolescente, vendendo enciclopédias e como dublador de filmes e como professor.
Formou-se na Faculdade de Engenharia Industrial (FEI), em engenharia mecânica e abriu uma escola em São Bernardo do Campo, onde oferecia cursos de supletivo. Um de seus alunos de matemática foi, inclusive, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Império no mar
Na década de 1990, criou a Marítima. Até 1994, a pequena empresa fazia vistorias em equipamentos submarinos. Segundo reportagem da revista Veja, a empresa funcionava numa casa ao pé de uma favela num subúrbio do Rio de Janeiro.
Menos de um ano depois, a insignificante Marítima, cujo patrimônio não chegava a 1 milhão de dólares, começar a ganhar quase todas as concorrências da Petrobras para a construção de plataformas de perfuração e exploração de petróleo, afirma a reportagem.
Sem experiência em grandes contratos, Germán Efromovich montou um império na área de petróleo, ao lado de seu irmão José Efromovich.
Em 2001, no entanto, o império marítimo ficou manchado por conta de um acidente. Em março de 2001, a plataforma P-36, que tinha sido entregue à Marítima, sofreu duas explosões. 11 pessoas morreram e 1500 toneladas de óleo afundaram na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro.
As disputas judiciais pela responsabilidade do acidente se estenderam por anos. Por esse motivo e por atrasos nas entregas, a Petrobras cancelou os contratos com a companhia.
Hoje, a Marítima estende os braços por outros nove países. É apenas uma das companhias do Synergy Group.
A vida no ar
Seu interesse pela aviação começou por causa de uma dívida. Para não receber um calote, ele recebeu dois aviões como pagamento.
Com eles, transportava funcionários das petrolíferas para Macaé, no norte do Estado do Rio de Janeiro. A OceanAir nasceu em 2002, tendo seu irmão José Efromovich como sócio. Em 2010, a companhia foi renomada para Avianca Brasil. Atualmente, o presidente é seu irmão, José.
Elevar a OceanAir de uma companhia de táxi aéreo a uma empresa de aviação regular foi uma pechincha. Comprou aviões Fokker-100, que estavam parados no deserto nos EUA, por um preço muito baixo, apesar dos conselhos de que o avião tinha má fama por estar associado a diversos acidentes.
Ele também adquiriu modelos depreciados e fora de linha de empresas como a antiga Rio Sul, da extinta Varig.
O empresário comprou a Avianca, uma companhia colombiana que estava na falência, em 2004. "Pegamos essa empresa na lona", disse ele, em entrevista à Folha de S.Paulo. Fundiu-se com a Taca, de El Salvador, cinco anos mais tarde.
A um jornal português, afirmou que "a crise é o melhor momento para se iniciar um negócio".
Apesar de ter sua imagem manchada no Brasil, a Colômbia o vê de maneira completamente diferente. Lá, ele é o empresário que Avianca da falência. Ganhou do ex-presidente Álvaro Uribe mais uma cidadania, a colombiana.
Além das cidadanias colombiana e brasileira, o empresário também conseguiu a polonesa, país de origem de seus pais, em 2012.
A naturalização foi um movimento para melhorar sua posição na concorrência pela TAP, disputa que acabou perdendo.
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1. Nas alturas
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1/12 (Marie Hippenmeyer / Divulgação)
São Paulo - David Neeleman,
novo dono da
companhia aérea portuguesa
TAP, é um empreendedor da aviação e um dos homens mais criativos do setor. Nascido brasileiro e filho de americanos e neerlandeses, criou quatro
companhias aéreas, a Morris Air e a JetBlue, nos Estados Unidos, a WestJet no Canadá e a Azul no Brasil, além de inovações do setor, como o bilhete eletrônico. Na corrida pela TAP, companhia aérea portuguesa que estava em processo de privatização, o empresário fez a
melhor proposta.
Veja nas imagens fatos sobre a vida do novo dono da TAP.
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2. Origem
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2/12 (Viagem e Turismo/Divulgação)
David Neeleman nasceu em São Paulo, em outubro de 1959. Ele é filho de descendentes americanos e holandeses. Seu pai era jornalista e trabalhava como correspondente no Brasil, país onde ele morou até os cinco anos, quando foi viver nos Estados Unidos.
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3. Infância
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3/12 (Chris Ware/Bloomberg)
Hoje, ele é um dos maiores
empreendedores da aviação. No entanto, sua infância e adolescência não foram das mais brilhantes. O
empresário não gostava de ler ou escrever e obteve notas apenas razoáveis na escola. Frequentou a Universidade de Utah por apenas três anos, antes de desistir.
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4. Transtorno
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4/12 (Michael Edwards/Getty Images)
Neeleman
sofre de transtorno de déficit de atenção, o que prejudicou sua educação na juventude. Ele se recusa a tomar medicações, pois tem medo de se tornar enfadonho. Em
entrevista à Veja Online, afirmou que o transtorno “não é propriamente ruim. Ele faz com que você tenha bastante dificuldade de se concentrar em algo que não lhe interessa. Depois de obter muito sucesso numa atividade qualquer, continuamos insatisfeitos, com constante sensação de dever não cumprido”. No entanto, a doença tem um lado positivo, afirmou o empresário. “Uma vez que encontramos algo que nos interessa, temos a habilidade de hiperconcentração – quando isso acontece, tudo em volta se torna insignificante”.
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5. Turismo
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5/12 (Divulgação / HAWAII VISITOR CONVENTION BUREAU)
O empresário começou a vender pacotes turísticos para o Havaí aos colegas da universidade. Um amigo de sua aula de contabilidade disse que conhecia alguém que não conseguia vender estadias em seus condomínios no Havaí. “Eu comecei a fazer anúncios para os condomínios. Passei a incluir passagens aéreas e a fazer pacotes de viagem. Então June Morris me ligou e disse que queria que eu trabalhasse para ela”, na Morris Travel, disse ele em
entrevista a Airnews.
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6. Decolou
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6/12 (Getty Images)
Seu primeiro emprego foi numa agência de viagens, a
Morris Travel, em Salt Lake City. Com apenas 25 anos, David Neeleman fundou, em 1984, a Morris Air, uma companhia aérea com tarifas baixas. Inicialmente voando para o Havaí, a empresa aterrissou em outros destinos turísticos, como Cancun, Orlando e Los Cabos. A companhia foi adquirida pela Southwest Airlines, em 1993, por 130 milhões de dólares. Neeleman ficou na diretoria da empresa por apenas cinco meses, para completar a transição.
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7. Reservas
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7/12 (NicoElNino/Thinkstock)
Ao deixar a Southwest, ele criou o Open Skies. O sistema operava em terminais touch screen nos aeroportos e permitia reservas de bilhetes e auto check in. A empresa foi comprada pela HP em 1999 e é usada por 80 companhias aéreas.
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8. Tudo ao mesmo tempo
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8/12 (Chris Ware/Bloomberg)
Enquanto desenvolvia o sistema Open Skies, David Neeleman também fundou a canadense WestJet, em 1996. Hoje, é a segunda maior companhia do país, atrás da Air Canada, e tem mais de 10 mil funcionários.
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9. De volta ao Brasil
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9/12 (Dado Galdieri/Bloomberg)
Em 2008, Neeleman anunciou a intenção de criar sua quarta companhia aérea. Ela seria voltada para o mercado doméstico brasileiro, seu país natal. Para definir o nome da nova operadora aérea, o empreendedor criou uma campanha em que o público poderia enviar ideias. Depois de quase 110 mil cadastros, entre as melhores opções estavam Abraço, Alegria, Azul e Samba. Ainda que Samba tivesse sido o nome mais votado,
Neeleman escolheu o nome
Azul Linhas Aéreas Brasileiras, por inspirar sentimentos positivos e aludir ao céu. O ganhador recebeu passe vitalício na nova companhia. Hoje, a Azul é
a terceira do setor no Brasil, com 15,87% de mercado e a maior taxa de ocupação dos voos, 89,70% em janeiro.
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10. Religião
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10/12 (Divulgação)
Mórmon, ele é adepto da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Aos 19 anos,
ele veio ao Brasil para trabalhar como missionário da igreja mórmon. Foi quando reaprendeu a falar português, ainda que com forte sotaque. Em
entrevista à Veja Online, afirmou que “o fato de ser mórmon teve muita influência na minha formação. Quando estive no Brasil como missionário, aprendi belos princípios. Trabalhei em favelas com pessoas simples e maravilhosas que mudaram minha vida. Acreditamos que as relações que temos com a família, amigos e empregados são importantes, pois elas continuarão depois desta vida”.
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11. Descanso
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11/12 (Stephen Chernin/Getty Images)
Apesar do trabalho intenso durante a semana, ele aproveita bem os dias de folga. Frequenta a igreja todo domingo e passa os finais de semana apenas com sua família. Neeleman é pai de nove filhos e mora com a família em Connecticut, Estados Unidos.
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12. Confira também
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12/12 (Ruben Sprich/Reuters)