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Quem é e o que quer a petroleira que acaba de negociar com a Petrobras

A australiana Karoon atua no Brasil desde 2008, mas a partir desta semana começa oficialmente sua corrida para dobrar a produção no país

Campo da Karoon: meta de dobrar a produção nos próximos 10 anos (Arquivo/Divulgação)

Campo da Karoon: meta de dobrar a produção nos próximos 10 anos (Arquivo/Divulgação)

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Juliana Estigarribia

Publicado em 12 de novembro de 2020 às 16h40.

Última atualização em 12 de novembro de 2020 às 17h12.

Em um cenário de forte impacto negativo da pandemia no consumo de petróleo, todas as empresas de grande porte -- conhecidas como majors -- botaram o pé no freio. No entanto, petroleiras de menor porte continuam avançando no Brasil, principalmente com o programa de desinvestimentos da Petrobras. Uma delas é a australiana Karoon, que concluiu nesta semana a compra do campo de Baúna, na Bacia de Santos. O plano da empresa inclui dobrar a produção no país pelos próximos dez anos e se tornar um dos grandes nomes do setor localmente.

"Esperamos que a compra do campo de Baúna seja mais uma de muitas outras. Nosso plano de negócios tem o Brasil como plataforma de crescimento global e o programa de desinvestimentos da Petrobras é uma grande oportunidade, estamos otimistas para o futuro", diz Tim Hosking, gerente geral da Karoon para América do Sul, em entrevista à EXAME.

Baúna produz, atualmente, cerca de 15.000 barris de petróleo por dia (bpd). Com o plano de expansão do ativo e o desenvolvimento do campo de Patola, nas proximidades, a estimativa é alcançar uma produção entre 25.000 e 30.000 bpd nos próximos anos.

O plano também envolve repetir a expansão nas bacias de Santos, Campos e Espírito Santo e, com isso, atingir produção de 40.000 a 60.000 bpd nos próximos dez anos.

Estratégia semelhante foi adotada pela carioca Petrorio, que vem adquirindo campos maduros da Petrobras em áreas próximas, aumentando as sinergias no sentido de alcançar o melhor custo de produção (lifting cost) possível.

A Karoon acaba de fazer negócios com a Petrobras, mas opera no Brasil desde meados de 2007, quando arrematou cinco blocos na 9ª Rodada de Licitações da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

(EXAME Academy/Exame)

"Até meados de 2014, nosso foco era exploração, mas também passamos a ter os campos maduros como objetivo, que já estão em produção", diz Hosking.

Nos campos maduros, a produção já está amplamente desenvolvida e, apesar do declínio do nível de produtividade ao longo dos anos, equipes mais enxutas e ágeis conseguem ter ganhos que as majors não podem mais obter.

No time da Karoon trabalham executivos e funcionários que já passaram por grandes petroleiras globais como Petrobras, Shell e Total. "Como uma equipe enxuta, conseguimos ser mais rápidos e eficientes, isso é uma vantagem", garante.

Cenário global x competitividade

A pandemia trouxe um dos piores cenários para a indústria petrolífera, com uma profunda queda da demanda e um excesso de oferta global. Os contratos futuros de petróleo chegaram a ser negociados no terreno negativo pela primeira vez na história.

Para Hosking, entretanto, o futuro se mostra positivo para o setor. A crise da pandemia levou petroleiras a cortar investimentos e a busca por novos ativos, o que deve comprometer o crescimento da oferta nas próximas décadas.

Na visão do executivo, os preços da commodity devem se comportar em um patamar médio de 60 dólares no médio e longo prazo.

Ele acrescenta que a indústria de shale gas nos Estados Unidos, responsável pela virada do setor globalmente na última década, deve conseguir se sustentar parcialmente com esse patamar de preços.

Adicionalmente, Hosking avalia que o plano de aceleração das energias renováveis, proposto pelo presidente eleito dos Estados Unidos Joe Biden, deve levar um tempo considerável para ser colocado em prática.

"Implementar um plano de energias renováveis não é um processo fácil. Combustíveis fósseis ainda são muito importantes para a matriz energética e continuarão sendo", diz o executivo.

Ele destaca, porém, que essa transição vai acontecer eventualmente e a companhia tem no seu plano estratégico participar desse mercado, embora não abra detalhes. "A Karoon tem como meta no futuro diversificar os investimentos para todos os tipos de energias."

Mercado disputado

O Brasil tem atraído cada vez mais a atenção de investidores para o setor de petróleo, principalmente diante do programa de desinvestimentos da Petrobras.

Com o aquecimento do setor, empresas pouco conhecidas no mercado ganharam os holofotes, como a Trident e a 3R Petroleum, que acaba de estrear na bolsa brasileira, a B3.

"Nossos principais competidores são petroleiras de médio porte, independentes, como Petrorio, Trident e Enauta, por exemplo", diz Hosking. A produção atual da Karoon já se equipara com a da Petrorio, por exemplo.

Para Hosking, o Brasil oferece um ambiente estável para a exploração de petróleo e há muito espaço para crescimento nos próximos anos. "O Brasil vai voltar a ser uma das maiores economias do mundo e nós queremos nos tornar uma empresa reconhecida por aqui."

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