Negócios

Por que o Carrefour comprou um site de receitas

A transação evidencia uma tendência global: as vendas pela internet são a mais nova fronteira para os supermercados

Cozinha: a Panda Selected fornece local, suprimentos e marketing (RazoomGames/Thinkstock)

Cozinha: a Panda Selected fornece local, suprimentos e marketing (RazoomGames/Thinkstock)

Karin Salomão

Karin Salomão

Publicado em 9 de novembro de 2018 às 06h00.

Última atualização em 9 de novembro de 2018 às 06h00.

São Paulo - Ao pesquisar uma receita na internet, o Cyber Cook é um dos primeiros sites a aparecer com a resposta, com uma lista de ingredientes e passo a passo completos. De bolo de chocolate a tortas de liquidificador, passando por sugestões para a ceia de Natal, é possível encontrar mais de 100 mil pratos diferentes no site.

A partir desta semana, a plataforma tem um novo dono: o Grupo Carrefour Brasil, que adquiriu a empresa e-Mídia. Além do Cyber Cook, a empresa de conteúdo também controla os sites Cyber Cook, Vila Mulher e Mais Equilíbrio, portais com cerca de 4 milhões de visitantes por mês.

O valor do negócio não foi divulgado, mas segundo EXAME apurou é estimado em 10 milhões de reais. Fechada por um dos maiores varejistas do país, a transação evidencia uma tendência global: as vendas pela internet são a mais nova fronteira para os supermercados.

De acordo com o Carrefour, a estratégia será "desenvolver diversos serviços com foco em alimentação, saudabilidade e bem estar com investimentos em inovação para oferecer serviços omnicanais que facilitem ainda mais a vida dos nossos clientes", afirmou em comunicado.

Consumidores podem planejar compras e refeições de produtos citados nas receitas do Cyber Cook pelo comércio eletrônico da rede. Também será possível encontrar receitas no site que usem os produtos já presentes na geladeira.

Mais do que ajudar o consumidor a planejar o jantar, o site também oferece um tesouro para o grupo Carrefour: uma montanha de dados. Com 4 milhões de usuários por mês e com a ajuda de inteligência artificial, é possível identificar tendências e hábitos de consumo.

“A análise do comportamento e hábitos do consumidor no meio digital possibilita avançar de maneira rápida e assertiva na oferta de serviços com tecnologia e eficiência, expertise totalmente alinhada ao posicionamento do Grupo Carrefour", afirmou Alexandre Canatella, diretor de Negócios Digitais.

A audiência desses veículos também deve trazer tráfego para o próprio site do Carrefour, segundo Paula Cardoso, diretora executiva de Clientes, Serviços e Transformação Digital.

Força do online

O comércio eletrônico foi o canal que mais cresceu no terceiro trimestre do ano no Carrefour Varejo, que exclui o Atacadão. As vendas pela internet mais que dobraram, chegando a 7% do total de vendas do Carrefour Varejo contra 3% no mesmo período do ano passado. O número de visitantes cresceu 61%, chegando a cerca de 32 milhões de consumidores, que fizeram 66% a mais de pedidos.

A maior parte das vendas vem da operação não alimentar, já que está disponível para todo o Brasil desde 2016, enquanto o e-commerce alimentar atende cidades do estado de São Paulo desde outubro de 2017.

Para impulsionar as vendas do canal online o grupo implementou a retirada em todos os seus 101 hipermercados e em algumas lojas, o Click & Retire já representa mais de 10% de todas as vendas de eletrônicos. A estratégia multicanal ajudou a empresa a apresentar margens Ebitda melhores no trimestre, de 7,8%, ganho de 1,44 pontos percentuais.

O Carrefour não é o único supermercado que busca um lugar ao sol na internet. As vendas online de mercados ainda são muito incipientes e o crescimento está bem mais lento que o setor. Em uma pesquisa feita pelo banco UBS, divulgada em agosto, apenas 1,3% dos consumidores afirmou ter comprado itens de supermercado pela internet nos últimos 12 meses. Alimentos são a segunda menor categoria no comércio eletrônico, com apenas 0,4% de participação nas vendas totais.

Mesmo assim, startups como a Rappi, colombiana de entregas que recentemente foi avaliada em mais de 1 bilhão de dólares, Superlist, Home Refil e Supermercado Now competem com as gigantes do varejo para crescer nesse segmento, a próxima fronteira do comércio eletrônico.

Atacadão

Além do comércio eletrônico, o formato de atacarejo, loja grande que mistura venda para cliente de atacado e varejo, também foi um dos principais motores do crescimento da companhia.

Enquanto o grupo avançou 5,1% no trimestre, o Atacadão viu as vendas subirem 11,2% no mesmo período. A marca também é a mais forte do grupo e é responsável por 68% das vendas.

Metade desse crescimento veio da abertura de novas unidades. Desde o começo do ano já foram inauguradas 14 unidades e estão previstas mais seis até o final do ano. No final de setembro, a rede do Grupo Carrefour Brasil totalizou 652 lojas, das quais 185 na bandeira Atacadão.

O formato ganhou popularidade durante a crise, quando consumidores buscavam opções mais baratas para fazer as compras do mês. O modelo também impulsiona os resultados de seu maior concorrente, o Grupo Pão de Açúcar. A marca Assaí já é a maior do grupo e uma das que mais cresce.

Agora, com a retomada da economia, surge o desafio de continuar avançando. Como as duas maiores varejistas do setor investiram fortemente em abertura de lojas nos últimos trimestres, ficou mais difícil crescer com a mesma velocidade. Talvez a internet seja o caminho.

Acompanhe tudo sobre:Carrefoure-commerceFusões e Aquisições

Mais de Negócios

15 franquias baratas a partir de R$ 300 para quem quer deixar de ser CLT em 2025

De ex-condenado a bilionário: como ele construiu uma fortuna de US$ 8 bi vendendo carros usados

Como a mulher mais rica do mundo gasta sua fortuna de R$ 522 bilhões

Ele saiu do zero, superou o burnout e hoje faz R$ 500 milhões com tecnologia