Presidente da Anfavea critica atuação do governo em meio à pandemia (Anfavea/Divulgação)
Gabriel Aguiar
Publicado em 7 de abril de 2021 às 20h06.
Última atualização em 7 de abril de 2021 às 21h32.
Luiz Carlos Moraes é presidente da Anfavea, associação dos fabricantes de veículos, e falou hoje, 7, do balanço de vendas no setor no primeiro trimestre do ano. E se os números foram positivos — pelo menos para o contexto de pandemia —, o mesmo não pode ser dito das críticas feitas pelo executivo à gestão do país durante a pandemia e às previsões para a economia nos próximos meses.
Em coletiva, o representante da indústria automotiva demonstrou apreensão em relação ao cenário de incertezas políticas do Brasil. “Olhando para a frente, a gente fica muito preocupado porque tem gente em Brasília pensando na eleição de 2022 e não está pensando em como fechar o ano, como cuidar da população, como cuidar das empresas, como cuidar do emprego”, diz Moraes.
Um dos temas abordados durante essa reunião foi a lentidão do governo para a definição do orçamento para este ano, que deveria ter sido firmado em 2020 e que inviabiliza a renovação da Medida Provisória 936. Com isso, o programa de manutenção de empregos que prevê a suspensão temporária do contrato de trabalho e redução de jornada está incerto no pior momento da pandemia.
“Ainda não temos nada delimitado. O auxílio emergencial só saiu agora e com valor menor que no ano passado. Faltam linhas de crédito para as pequenas e médias empresas, como já foram dadas antes, mas ainda não estamos avançando neste tema. Então, os governantes não perceberam ainda a prioridade e a gravidade da situação. E, se perceberam, estão demorando para agir”, afirma.
De acordo com o executivo, não foram definidas prioridade nem onde será gasto o dinheiro público. Além disso, diz que não foram feitos debates adequados e houve surpresa com propostas que aumentam substancialmente as despesas obrigatórias. “Elas foram subestimadas e criaram espaço para emendas parlamentares que, no meu ver, estão pensando em política e não para o país”.
Durante a apresentação, o atual cenário econômico e político brasileiro foi criticado por colocar em risco os investimentos negociados com as empresas estrangeiras: “Até assusta as matrizes”, diz o presidente da Anfavea. Segundo Moraes, a falta de confiança reflete em juros mais altos no longo prazo — e aumenta o custo de captação e valor final para cliente — e na desvalorização da moeda.
“Há uma falta de coordenação entre o Poder Executivo e o Congresso. Isso traz insegurança para todos os agentes econômicos. Temos de ter muito juízo em Brasília, porque estamos trabalhando aqui e nós, executivos, somos os maiores embaixadores dos investimentos no país. E é difícil explicar as questões de orçamento, ruídos políticos e insegurança jurídica, com liminares para cá e para lá”.
Luiz Carlos Moraes relembrou que as reformas administrativa e tributária estão em tramitação desde o ano passado, antes do primeiro turno das eleições municipais e foram postergadas para depois do segundo turno. “Debate ficou esperando presidentes das Câmaras. Depois a posse. Agora já discute orçamento. E colocam emendas parlamentares que tem clara preocupação com eleição de 2022”.
“O cara está eleito para atender a demanda da economia e da geração de empregos. Tudo está girando com calendário eleitoral. Claro que existe a preocupação eleitoral que é justa na democracia. Só que isso não pode ficar em primeiro lugar e sim as prioridades da sociedade. Para mim, não é questão de governo. É de Congresso e Executivo. Estou falando de gestão e estamos em um momento difícil”.
Em entrevista à EXAME, o presidente da Anfavea reforçou que a situação do Brasil é dramática, com crise sanitária e aumento da pobreza: “Há 14 milhões de desempregados e mais 30 milhões que estão desocupados ou subutilizados. Tem gente passando fome no país que é um dos maiores produtores de alimento do mundo. Não digo isso pelo setor automotivo, mas sim como cidadão”.
De acordo com o executivo, as matrizes das empresas têm consciência de que a pandemia atingiu todos os mercados, mas as principais preocupações dos investidores dizem respeito ao aumento da inflação e da taxa de juro. “Nossa economia está parando e se fala em recessão para o primeiro e para o segundo semestre. Além de custo Brasil e questões tributárias, esses pontos pesam contra”.
Como solução, Moraes propõe acelerar a economia e a vacinação. “É uma crise sanitária gravíssima que desacelera o consumo e já vemos a possibilidade de queda importante no PIB no primeiro e talvez até no segundo trimestre. Nossa apreensão é muito grande. Essa situação merece cuidado. A prioridade total é a sociedade e cuidar das empresas deveria ser uma preocupação”, afirma.