Negócios

Papel do empresário é assumir o ônus, diz dono do Giraffas após polêmica

Em entrevista a EXAME, Carlos Guerra diz que empresários devem ter responsabilidade social na crise do coronavírus e precisam de ajuda urgente do governo

Giraffas: filho do fundador deixou de ser acionista da rede de alimentação (Germano Lüders/Exame)

Giraffas: filho do fundador deixou de ser acionista da rede de alimentação (Germano Lüders/Exame)

Mariana Desidério

Mariana Desidério

Publicado em 26 de março de 2020 às 19h48.

Última atualização em 27 de março de 2020 às 00h18.

Os empresários brasileiros devem ter responsabilidade social em meio à pandemia do coronavírus e seu principal papel é manter empregos. Para isso precisam de ajuda urgente do governo. Essa é a visão de Carlos Guerra, fundador e presidente da rede de restaurantes Giraffas. Guerra virou notícia após o afastamento de seu filho Alexandre Guerra do conselho de administração da companhia nesta quarta-feira. A notícia veio depois que Alexandre publicou um vídeo na internet em que dizia que os funcionários em isolamento social ou home office deveriam ter medo também de perder o emprego.

Carlos Guerra tem uma visão diferente. “Vivemos uma gravíssima crise mundial e não sabemos como vamos sair. Mas quem vai mais sofrer é a parte mais fraca. Acima de tudo, os empresários, principalmente os de serviços duramente afetados, têm que ter responsabilidade social e assumir o ônus. Esse é nosso papel”, disse em entrevista a EXAME.

Na visão do empresário, a melhor maneira de ajudar, nessa crise, é mantendo os empregos. “Uma pessoa em isolamento com alguma renda já é muito difícil. Sem renda nenhuma é um desastre, uma desumanidade. A manutenção dos empregos é o objetivo número um de toda a sociedade”, disse.

Guerra ressalta que, para isso, é necessário que o governo também faça seu papel. “No segmento de restaurantes, muitos pagam a conta de ontem com o dinheiro que entra hoje. Eles têm dificuldade de acesso a crédito e precisam de capital de giro”, afirma.

O empresário afirma que a demora do governo em adotar medidas de socorro à economia tem gerado ansiedade na sociedade. É importante garantir que o socorro chegará efetivamente à economia real, e não fique represado no sistema financeiro, diz o empresário. “É muito necessário que governo faça a sua parte de forma a irrigar principalmente as pequenas empresas sem burocracias”.

A rede Giraffas tem cerca de 400 restaurantes espalhados pelo país e está operando somente com 10% de suas unidades, que têm vendido refeições via delivery. A estimativa do empresário é de que a rede aguente essa situação por mais 30 a 60 dias, dependendo da condição de cada franqueado. A rede faturou 750 milhões de reais em 2019, alta de 10% em relação a 2018. A maioria dos funcionários está em casa, em férias coletivas.

A empresa vai aguardar as orientações oficiais antes de tomar qualquer decisão de retomada de atividades. Questionado sobre o posicionamento de outros empresários e do próprio filho a respeito dos riscos econômicos da paralisação, Guerra diz que está igualmente preocupado. “Estamos todos preocupados. Não sabemos como será a saída dessa crise. Mas talvez seja melhor cumprir esse isolamento até que haja informações de quem entende do assunto. Não é o empresário ou outra pessoa que vai dizer que é seguro. Quem tem que dizer é autoridade , a Organização Mundial de Saúde, o Ministério da Saúde”, disse.

Polêmica

Filho do empresário, Alexandre Guerra deixou de atuar no Giraffas em 2016 quando se candidatou a governador do Distrito Federal pelo Partido Novo. Passada a campanha, voltou à companhia como parte do conselho de administração, sem função executiva. Agora, deixa totalmente a empresa. “Ele fez um comentário que não estava de acordo com o que a gente pensava e trouxe repercussões para a empresa. Ele mesmo achou melhor se afastar e eu aceitei seu pedido. Assim ele poderá veicular as opiniões que quiser, sem que elas sejam vinculadas ao Giraffas”, disse Guerra.

Em vídeo publicado há alguns dias, Alexandre fez um comentário a respeito da manutenção dos empregos nesse momento de crise. "Você que é funcionário, que talvez esteja em casa numa boa, numa tranquilidade, curtindo um pouco esse home office, esse descanso forçado, você já se deu conta de que, ao invés de estar com medo de pegar esse vírus, você deveria também estar com medo de perder o emprego? Será que sua empresa tem condições de segurar o seu salário por 60, 90 dias? Você já pensou nisso?", disse ele em sua conta do Instagram.

“Se você pensa que o custo (da pandemia do coronavírus) serão as pessoas infectadas ou mortas em razão desse vírus, esse não será o maior custo para a população brasileira”, disse ele. A publicação foi feita no dia 20 de março.

Em resposta, o Giraffas publicou um vídeo em sua conta oficial em que Carlos Guerra diz que as declarações de Alexandre não representam a companhia. "Alexandre Guerra é meu filho e fez declarações que nós não concordamos e que pedimos que não fossem conectadas ou vinculadas ao Giraffas. Infelizmente, por motivos óbvios, isso aconteceu", disse o executivo. 

No vídeo, Carlos Guerra afirma ainda que reitera o posicionamento que passou aos seus funcionários há cerca de uma semana, que todos devem se manter em casa, em férias coletivas remuneradas. "Que fiquem despreocupados, porque terão seus empregos no retorno ao trabalho", afirmou Guerra. 

As últimas notícias da pandemia do novo coronavírus:

Acompanhe tudo sobre:CoronavírusGiraffasPresidentes de empresaRestaurantes

Mais de Negócios

Como a mulher mais rica do mundo gasta sua fortuna de R$ 522 bilhões

Ele saiu do zero, superou o burnout e hoje faz R$ 500 milhões com tecnologia

"Bar da boiadeira" faz investimento coletivo para abrir novas unidades e faturar R$ 90 milhões

Haier e Hisense lideram boom de exportações chinesas de eletrodomésticos em 2024