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Papel de dívida da JBS perde valor com investigação no BNDES

Depois de resistir durante quase todo ano ao mau humor dos investidores com os papéis de dívida de empresas, a JBS entrou de vez no movimento de queda


	JBS: investidores temem que a JBS sofra penalidades que reduzam seus lucros e prejudiquem suas métricas de crédito
 (Divulgação)

JBS: investidores temem que a JBS sofra penalidades que reduzam seus lucros e prejudiquem suas métricas de crédito (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 14 de dezembro de 2015 às 20h24.

Depois de resistir durante quase todo ano ao mau humor dos investidores com os papéis de dívida de empresas do Brasil, a JBS entrou de vez no movimento de queda.

A maior produtora de carne do mundo viu suas notas com vencimento em 2020, no valor total de US$ 1 bilhão, perder 11 por cento e atingir seu menor valor depois que o Tribunal de Contas da União, TCU, afirmou ter encontrado indícios de que a empresa recebeu “tratamento especial” em injeções de capital do BNDES.

Antes disso, os títulos da JBS registravam um ganho acumulado de 10,3 por cento no ano, o melhor desempenho entre os bonds corporativos do Brasil.

Com a decisão do TCU de ampliar a investigação sobre as transações, os investidores temem que a JBS sofra penalidades que reduzam seus lucros e prejudiquem suas métricas de crédito.

A JBS é o maior expoente da política do BNDES de apoiar a criação de multinacionais brasileiras, as chamadas “campeãs nacionais”. Desde 2007, o banco comprou quase R$ 6 bilhões de ações do frigorífico.

“É preocupante”, afirma Omar Zeolla, analista da Oppenheimer & Co., em Nova York. “A empresa pode ser obrigada a indenizar o banco”.

No último dia 25, o TCU afirmou ter encontrado indícios de que o BNDES perdeu R$ 847,7 milhões em transações para ajudar a JBS a adquirir empresas nos Estados Unidos. O banco estatal teria pago um valor excessivo pelas ações da empresa e desistido de receber um prêmio quando a JBS adquiriu a Swift & Co., em 2007, a unidade de carne bovina da Smithfield Foods, em 2008, e a Pilgrim’s Pride, em 2009, de acordo com relatório do TCU.

Procurada, a JBS ponderou que, tanto nos Estados Unidos quanto na América Latina, os bonds de grau especulativo tiveram desvalorização acentuada nas últimas semanas. "Os títulos da JBS, que vinham se destacando no mercado, apenas acompanharam essa tendência", afirmou a empresa em nota.

Nesta segunda-feira, os bonds da JBS para 2020 recuavam mais 1,4 por cento -- a 14ª queda consecutiva -- para 92,9 por cento do valor de face.

Relação clara

“A companhia reitera que o TCU não está investigando a JBS e que todas as transações com o banco foram realizadas de forma clara e transparente”, acrescentou a JBS. “Os detalhes sobre cada uma das operações entre o BNDES e a JBS podem ser encontrados nas publicações feitas pela companhia em seu site”.

Em comunicado enviado no dia 26, o BNDES afirmou estar "convicto da regularidade" dos investimentos na JBS e que todos os procedimentos "foram realizados com rigor técnico, impessoalidade e precisão". O BNDES declarou ainda que os investimentos na JBS resultaram em uma criação de valor superior a R$ 5 bilhões para o banco.

A investigação das transações do BNDES não tem relação com a operação Lava Jato, que apura a corrupção na Petrobras e ajudou a derrubar os papéis brasileiros.

Multas e proibição

Se forem comprovadas as irregularidades no apoio do BNDES, a JBS pode enfrentar penalidades que variam de multas a uma proibição temporária de realizar transações com instituições estatais, afirma José Nantala Freire, advogado da Peixoto & Cury Advogados.

“A investigação ainda é preliminar”, disse ele, de São Paulo. “As consequências podem ser enormes” se o tribunal encontrar evidências de má conduta dos executivos da JBS.

A JBS vinha conseguindo contornar a queda nos bonds brasileiros com lucros recordes e uma redução da sua alavancagem para o menor nível em oito anos. A empresa gera mais de 80 por cento de suas receitas em dólares, o que impulsiona seu caixa no momento em que o real sofre a maior queda entre as moedas de mercados emergentes.

“Os fundamentos não são ruins, mas o risco apresentado pelas manchetes negativas continua latente”, afirma Eduardo Ordoñez, gerente de recursos na BI Asset Management, em Copenhague, que administra US$ 1 bilhão em bonds corporativos de mercados emergentes.

“Os investidores das empresas brasileiras já sofreram diversos impactos neste ano. Fica-se com a impressão de que não se está a salvo em nenhum lugar e o menor sinal de que algo estranho esteja acontecendo leva as pessoas a se retirarem”.

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