Negócios

Os lucros da produção sustentável

Não preservar o ambiente pode causar prejuízos reais ao produtor


	Unidade de pesquisa da Monsanto: no estudo da Monsanto, comparou-se um hectare de terra coberto só com a monocultura de soja com um outro em que a cultura convive com o Cerrado
 (Sergio Zacchi/ Divulgação Monsanto)

Unidade de pesquisa da Monsanto: no estudo da Monsanto, comparou-se um hectare de terra coberto só com a monocultura de soja com um outro em que a cultura convive com o Cerrado (Sergio Zacchi/ Divulgação Monsanto)

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Da Redação

Publicado em 17 de março de 2014 às 08h48.

São Paulo - Qual é o impacto de substituir uma vegetação nativa pela produção agrícola? A pergunta, geralmente respondida com uma lista de conhecidos benefícios que as florestas prestam para a sociedade e para a própria agricultura, acaba de ganhar uma explicação mais concreta: um valor.

Não preservar o ambiente pode causar prejuízos reais ao produtor. É o que mostra o projeto Teeb (Economia dos Ecossistemas e Biodiversidade) para o Setor de Negócios Brasileiro, que estabeleceu uma valoração para os serviços ambientais - ou para o "capital natural", como eles chamam - em dois estudos de caso: um com a Monsanto e outro com a Natura.

O trabalho, coordenado pela ONG Conservação Internacional (CI-Brasil) e baseado no modelo do Teeb global, considerou diferentes práticas agrícolas na produção de soja e de óleo de palma (dendê) em estudos pilotos nas plantações das duas empresas.

Ao considerar nos cálculos o valor da biodiversidade e dos serviços que ela presta, como proteger o solo da erosão ou garantir a oferta de água, o valor da produção nos cenários em que houve adequação ao ambiente foi maior do que na situação tradicional de cultivo - o chamado "business as usual".

No caso da Natura, os pesquisadores compararam os dados de um hectare de monocultura de palmeira de dendê, de onde se extrai o óleo de palma, com os de um hectare de um sistema agroflorestal, que combina árvores nativas, como cacau e maracujá, com os dendezeiros. Ambos localizados no Pará.

No cenário agroflorestal, o valor ambiental total da produção - calculado pela diferença entre os ganhos prestados pelos serviços florestais e os impactos ao ambiente e à sociedade provocados pela cultura plantada - foi 200% maior que na versão "business as usual".


No estudo da Monsanto, realizado no oeste da Bahia, comparou-se um hectare de terra coberto só com a monocultura de soja com um outro em que a cultura convive com o Cerrado - bioma hoje mais ameaçado do Brasil e também por onde a soja mais se expande.

Neste segundo cenário, baseado na proporção definida pelo Código Florestal - 80% de área cultivada e 20% de Reserva Legal -, o valor ambiental foi 11% maior que no cenário só com a monocultura.

Visibilidade

"A vantagem desse trabalho é trazer à tona um valor que até então era invisível, mas que é fundamental nas análises de risco da empresa. Está cada vez maior a expectativa de que se comece a cobrar pela poluição gerada por uma produção. Isso eventualmente pode ser colocado nos cálculos da compensação ambiental", afirma a bióloga Helena Pavese, coordenadora do projeto na CI.

"Mas não é só uma questão de impactos. As empresas utilizam o capital natural como base para seus negócios. Mudanças na oferta e qualidade deste capital afetam seu desempenho. Com esta abordagem de valoração, pudemos mostrar em cifras, e não tanto quantitativamente, como a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos são importantes para a empresa."

Uma das expectativas do trabalho é de que os resultados possam eventualmente ser incorporados nos processos decisórios das empresas. É o que planeja a gerente de responsabilidade social, corporativa e de sustentabilidade da Monsanto, Daniela Mariouzzo, que coordenou o trabalho na empresa.

"Não é de hoje que se discute como produzir mais alimentos, preservar a natureza e que isso seja viável economicamente no longo prazo. Como beneficiar todos os envolvidos nisso? A resposta passa por trazer algo concreto para a mesa. Acho que esse estudo é um começo para o debate. Mas ainda não é algo completamente consolidado", diz.


"Os números traduzem o que já se conhece na prática: produzir soja sem o Cerrado afeta o clima, a polinização, a conservação da água. E trazem mais argumentos para debater com todos os atores." Ela afirma que o próximo passo é trabalhar mais o estudo dentro da empresa, principalmente com outros setores, como o de avaliação de riscos, e com os produtores rurais.

Mais a longo prazo, a ideia é usar esse tipo de informação para desenvolver um mecanismo que remunere os produtores que preservem o Cerrado. Por lei, eles já são obrigados a isso, e quem não cumpre tem de se regularizar. "Mas podemos pensar numa forma de pagar quem quiser proteger além do que manda a legislação", defende.

Cadeia

Na Natura, o estudo se inseriu em um processo mais amplo - iniciado em 2010 e já incorporado na decisão dos negócios -, que prevê avaliar toda a cadeia de suprimentos, da extração da matéria-prima à entrega do produto ao consumidor.

Em relação ao óleo de palma, matéria-prima para a produção de sabonetes, a empresa vinha buscando a alternativa do sistema agroflorestal há cinco anos em parceria com a Embrapa.

"Já sabíamos que havia uma viabilidade técnica, em escala pequena, mas não sabíamos o valor disso. Só do ponto de vista econômico, a monocultura parece mais eficiente, uma vez que tem produtividade alta por causa da mecanização. Mas o estudo mostrou outros valores ambientais e sociais que o modelo tradicional não olha", diz Luciana Vila Nova, gerente de sustentabilidade da Natura.

No futuro, diz ela, a ideia é conseguir mostrar o valor ambiental de cada produto da empresa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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