Eletropaulo: acionista AES sinalizou que poderá vender sua fatia de 17% na empresa em uma oferta secundária a ser realizada em breve (Eletropaulo/Divulgação)
Reuters
Publicado em 6 de abril de 2018 às 19h43.
Última atualização em 6 de abril de 2018 às 19h47.
Uma oferta apresentada pela Energisa para a aquisição da distribuidora de energia Eletropaulo por cerca de 3,2 bilhões de reais deve ser apenas o início de uma intensa disputa pela empresa, que está no radar de diversos outros interessados, disseram especialistas à Reuters nesta sexta-feira.
Antes da oferta da Energisa divulgada na quinta-feira, a italiana Enel já havia apresentado no final de março uma proposta para participar de uma oferta primária e secundária de ações em preparação pela Eletropaulo.
A elétrica paulista tem como um dos principais acionistas a norte-americana AES, que sinalizou que poderá vender sua fatia de 17 por cento na empresa em uma oferta secundária a ser realizada em breve.
A Eletropaulo é a maior distribuidora de energia do Brasil em volume de energia e em faturamento, que somou 13 bilhões em 2017, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Em número de clientes, a empresa só fica atrás da estatal mineira Cemig-D.
"Sem sombra de dúvidas, pela posição estratégica da empresa, em São Paulo, vão surgir outras empresas interessadas. Empresas do próprio segmento de distribuição e mesmo fundos de investimento", afirmou o especialista em energia do Demarest Advogados, Pedro Dante.
Além disso, São Paulo é o Estado mais rico do Brasil, com uma localização que também gera sinergias com distribuidoras operadas por outros grupos investidores.
A Energisa, por exemplo, possui nove distribuidoras que atuam em regiões que incluem o Estado de São Paulo, enquanto a Enel opera distribuidoras no Ceará, em Goiás e no Rio de Janeiro.
Mas grupos como a CPFL, controlada pela chinesa State Grid, a portuguesa EDP, que tem como sócia a China Three Gorges, a Neoenergia, dos espanhóis da Iberdrola, e a brasileira Equatorial também podem entrar no páreo, disse a diretora da consultoria Thymos Energia, Thais Prandini.
"Com certeza, o mercado vai se agitar... tem bastante gente olhando, vai ter disputa", afirmou.
A Eletropaulo disse na noite de quinta-feira que irá responder em até 15 dias à proposta da Energisa, que prevê uma oferta pública voluntária de aquisição (OPA) da totalidade das ações da companhia.
"Os potenciais compradores terão que ser rápidos se quiserem comprar a Eletropaulo, uma vez que eles estão agora correndo contra o relógio para dar um lance, devido à data para a OPA", afirmaram analistas do UBS em relatório nesta sexta-feira.
Procurada, a CPFL não quis comentar. A EDP Brasil disse que não comenta "especulações". A Equatorial disse que não se pronuncia sobre "rumores de mercado". A Neoenergia não quis comentar.
A Eletropaulo disse que vai manter o mercado atualizado sobre o tema por meio de fatos relevantes.
A movimentação de interessados na compra da Eletropaulo vem às vésperas de um leilão para a privatização de seis distribuidoras de energia da Eletrobras que operam no Norte e Nordeste e são fortemente deficitárias.
Para os especialistas, no entanto, uma disputa não deve atrapalhar a outra, uma vez que o perfil das elétricas da estatal é totalmente diferente da Eletropaulo.
"Talvez quem ganhe a Eletropaulo realmente tire um pouco o pé do acelerador, mas apenas o vitorioso... nas outras empresas (da Eletrobras) o preço é baixo", afirmou Thais, da Thymos.
Por serem fortemente deficitárias, as distribuidoras da Eletrobras serão vendidas a um preço simbólico de 50 mil reais, associado a obrigações de investimentos e aportes de recursos nas empresas.
Segundo o relatório do UBS, uma aquisição da Eletropaulo pela Energisa poderia levar a compradora a deixar a disputa pelas empresas da Eletrobras, o que reduziria a competição e favoreceria outras empresas que avaliam o negócio, como a Equatorial.
Os analistas do banco também comentaram que uma eventual transação como a anunciada pela Energisa é negativa para os papéis da empresa, devido ao elevado valor atribuído ao negócio e à potencial diluição dos acionistas se a empresa fizer uma oferta de ações para pagar a aquisição.
"Nós podemos mudar nossa opinião sobre o negócio se a Energisa providenciar mais detalhes sobre potenciais cortes de custos e sinergias", adicionaram.
A Energisa não respondeu de imediato a um pedido de comentário.