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O que explica a falta de apetite pela carne vegetal — e por que seguir otimista com o setor

Com menos capital fluindo em função do juro alto, investidores reduziram o financiamento ao setor, ao mesmo tempo que a inflação aumenta os custos de produção e deixa consumidores mais seletivos sobre escolhas alimentares

Abertura de capital da Beyond Meat na Nasdaq, em 2019: as vendas de carne vegetal não corresponderam às expectativas de analistas (Bloomberg/Bloomberg)

Abertura de capital da Beyond Meat na Nasdaq, em 2019: as vendas de carne vegetal não corresponderam às expectativas de analistas (Bloomberg/Bloomberg)

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Agência de notícias

Publicado em 23 de junho de 2023 às 10h13.

  • A Unreal Food desistiu de lançar um ovo sem ovo.
  • A Remastered Foods parou de desenvolver bacon vegano.
  • A The Meatless Farm suspendeu a produção de suas salsichas à base de vegetais.

A grande reviravolta do setor global de carne fake é real e ganha força.

Com menos capital fluindo devido ao aumento das taxas de juros, investidores reduziram muito o financiamento justo quando a inflação aumenta os custos de produção e deixa consumidores mais seletivos sobre suas escolhas alimentares.

Esse cenário abala um campo com muitos competidores, que cresceu rapidamente após o sucesso inicial da Beyond Meat e da Impossible Foods.

O que explica a perda de apetite pela carne vegetal?

E, diante de consumidores desencorajados pelo excesso de processamento, valor nutricional e sabor, uma lista crescente de empresas de proteínas alternativas está fechando, demitindo funcionários e buscando compradores. Observadores da indústria dizem que mais turbulência está a caminho antes que o setor se estabilize.

"Provavelmente, precisamos de um pouco de clareza em algumas dessas categorias para permitir que os vencedores apareçam", disse Mark Lynch, sócio da Oghma Partners, uma consultoria de finanças corporativas de Londres especializada no setor de alimentos e bebidas.

Com menos players, os recursos estarão mais concentrados e os sobreviventes controlarão mais o espaço disponível nas prateleiras, acrescentou.

O entusiasmo por alternativas à carne bovina e suína aumentou após a oferta pública inicial da Beyond Meat em 2019, e capitalistas de risco estavam dispostos a investir em empresas que ofereciam pouco mais do que um livro de receitas.

Mas as vendas não corresponderam às projeções extremamente otimistas, já que os preços altos, além de sabores e texturas estranhos, tornaram os caros produtos fáceis de riscar das listas de compras.

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(Bloomberg)

Onde a crise é mais forte

A crise atinge segmentos como proteínas à base de plantas, agricultores verticais, criadores de insetos e carnes cultivadas em laboratório.

O investimento global em tecnologia de alimentos e agricultura caiu 44% em 2022, de acordo com a AgFunder.

Até agora, a desaceleração afetou principalmente nomes obscuros e empresas em estágio inicial, como a canadense Merit Foods e a chinesa Hey Maet.

Mas, no Reino Unido, duas empresas promissoras recentemente nomearam administradores: a The Meatless Farm demitiu funcionários em sua sede em Leeds, enquanto a Plant & Bean foi atingida pelo aumento dos preços dos alimentos e energia apenas dois anos depois de abrir uma mega fábrica em Lincolnshire.

A reviravolta faz parte de uma fase de ajuste que ocorre em quase todos os segmentos de consumo de alto crescimento, de smoothies a pipocas, disse Andy Shovel, cofundador da empresa britânica de carne vegetal THIS, cujas vendas aumentaram cerca de 45% este ano.

O resultado será menos confusão nas lojas, melhor qualidade e preços mais próximos das carnes, segundo Shovel. “Do ponto de vista do cliente, isso é apenas uma boa notícia”, afirmou.

Como as grandes de alimentos estão reagindo

Os pesos pesados da indústria também tropeçaram.

  • A Beyond Meat, cujo valor de mercado encolheu mais de 90% desde o pico, realizou várias rodadas de demissões no último ano, assim como a Impossible Foods.
  • Os cortes também afetaram a Heura Foods, da Espanha, e a Eat Just, com sede na Califórnia, que continuou a expandir a distribuição nos EUA.

Empresas de alimentos tradicionais também batem em retirada.

  • A Nestlé cancelou sua linha Garden Gourmet e o leite de ervilha Wunda do Reino Unido devido à intensa concorrência.
  • A JBS descontinuou a unidade Planterra depois de investir em uma megafábrica no Colorado.

Quem segue otimista

Apesar da turbulência, alguns investidores continuam otimistas. A Big Idea Ventures, um fundo de investidores em tecnologia de alimentos, disse no mês passado que se aproxima de uma meta de captação de US$ 75 milhões.

A fabricante de bacon fake MyForest Foods levantou US$ 15 milhões em novos financiamentos no início deste mês, e a startup israelense Chunk Foods anunciou uma rodada inicial do mesmo valor no segundo trimestre.

A gigante agrícola Archer-Daniels-Midland Co. é outra que ainda acredita no setor. Em um centro de inovação em Manchester, na Inglaterra, a empresa mistura soja processada com sabores para ajudar a tornar as proteínas alternativas mais apetitosas.

Sua unidade de venture capital também mantém os investimentos em startups.

"A categoria agora evolui para o que realmente os consumidores estão pedindo", disse Leticia Gonçalves, presidente de alimentos globais da ADM.

"As empresas agora estão aprendendo com o passado e se ajustando com lançamentos."

— Com a colaboração de Sabah Meddings, Dasha Afanasieva, Yihui Xie e Tarso Veloso.

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