O novo papel do chefe
Os líderes das 150 melhores transmitem credibilidade e respeito, mas dão menos autonomia do que sua equipe gostaria
Da Redação
Publicado em 12 de outubro de 2010 às 18h37.
A São Bernardo Saúde, de Colatina, Espírito Santo, criou algumas práticas até divertidas para quebrar a hierarquia normalmente encontrada entre chefes e subordinados. Uma delas é a "bandeira vermelha". Quando algum colaborador precisa, por exemplo, resolver algo com urgência e encontra dificuldades, ele pode levantar (literalmente) a tal bandeira vermelha para romper uma barreira e ser atendido diretamente pelo presidente, sem necessidade de agendamento prévio. O recurso não é usado a toda hora na empresa capixaba de assistência médica -- e o propósito nem é esse mesmo. O que a empresa quer é deixar claro para seus 230 funcionários que "chefe não é Deus". Os funcionários entendem muito bem o recado. A São Bernardo Saúde foi um dos destaques no quesito liderança no Guia deste ano. Recebeu uma boa avaliação de maneira geral de seus funcionários e ganhou a nota mais alta entre todos os que responderam à pesquisa na questão específica "Os chefes ouvem e respeitam a opinião da sua equipe", um dos pontos críticos em qualquer empresa.
O que é... liderança |
A categoria mede a percepção dos empregados sobre seus chefes em relação à habilidade para se comunicar, criar compromissos e promover aprendizado. O líder deve estar motivado ao promover desenvolvimento, demonstrar confiança e ser justo e coerente em seu discurso e suas atitudes. |
O exemplo da São Bernardo Saúde dá dicas sobre o perfil que se espera do líder contemporâneo, tanto por parte da empresa quanto das equipes. "A maneira pela qual ele se relaciona com seus subordinados precisa ser pautada pela transparência e pelo respeito. Está em curso um momento profundo de mudança de perfil", diz o professor André Fischer, da Fundação Instituto de Administração (FIA), um dos coordenadores da pesquisa. O chefe de hoje deve ser o sujeito justo e coerente, que orienta e, principalmente, inspira sua equipe. "O chefe controlador, autoritário, que decide sozinho e gerencia com rédeas curtas, está ultrapassado. O papel do chefe moderno é como o do maestro de uma orquestra. A habilidade dele está exatamente em orientar, dar o ritmo e não mais em impor uma barreira intransponível aos seus subordinados", explica Gustavo Boog, consultor e terapeuta organizacional de São Paulo.
O Guia revela que ainda há muito a ser feito nesse quesito até mesmo entre as 150 empresas classificadas este ano. A categoria liderança recebeu a terceira pior nota (80,74 em 100) entre as quatro avaliadas. Em seu questionário, o funcionário avaliava a liderança em 15 questões sobre o tema, cujo peso foi de 23,4% no resultado final da pesquisa. De maneira geral, o ponto mais fraco dos chefes, segundo seus funcionários, é a falta de coerência nas atitudes (não agir de acordo com o que diz) e de apoio na tomada de riscos pelos subordinados. Já as questões mais bem avaliadas dizem respeito ao conhecimento técnico dos chefes e ao bom atendimento em orientações para o trabalho. "As respostas fazem sentido. As pessoas ainda são mais conduzidas à liderança pela competência técnica, lealdade e tempo de casa do que pela habilidade em orientar e lidar com pessoas", diz Gustavo Boog.
As 10 melhores |
1aCoats - Borborema |
2aSfil |
3aSão Bernardo Saúde |
4aSynteko |
5aZanzini |
6aKaizen |
7aUnimed Missões |
8aMasa |
9aUnimed Vales |
10aBV Financeira |
Na Kaizen, empresa de tecnologia da informação de Indaiatuba, interior de São Paulo, a necessidade de transparência virou assunto de sistemáticos e-mails trocados entre os sócios e a gerência nos últimos tempos (lá, são 20 profissionais ocupando cargos de chefia). Ao que parece, o discurso tem sido aplicado na prática. A liberdade para opinar e a autonomia para assumir riscos é o que mais chama a atenção nas respostas dos funcionários da Kaizen. Ela aparece entre as dez mais bem avaliadas no quesito liderança. Desde a sua fundação, há 11 anos, os sócios têm feito um grande esforço para criar e fortalecer esse elo entre a base e o topo. Isso fica visível desde a arquitetura dos escritórios, onde não há salas individuais nem divisórias entre as mesas, até a promoção de eventos sociais regulares, como churrascos, happy hours mensais e o futebol semanal, que costuma reunir dos donos ao auxiliar de escritório.
A média de idade dos 101 funcionários da empresa -- 29,9 anos no geral e 38,1 na diretoria -- ajuda a criar esse ambiente quase "universitário". Na Kaizen, indicar amigos para preencher vagas, por exemplo, pega muito bem. Quem faz uma recomendação desse gênero não só ganha pontos com o chefe como engorda a conta bancária com um prêmio de 500 reais. A empresa também permite horários de trabalho flexíveis e libera o funcionário para resolver problemas particulares durante o expediente. "A nossa intenção é dar liberdade ao colaborador, fazendo com que ele participe da gestão e desperte o pequeno empresário que existe dentro dele", diz Daniel Dystyler, diretor de Parcerias Estratégicas.
Chefe não é deus |
Nas melhores empresas para trabalhar,o chefe é considerado um bom líder quando: |
• Transmite respeito e credibilidade. |
• Ouve e respeita a opinião da sua equipe. |
• Cumpre o que promete. |
• É justo e coerente nas suas decisões. |
• Apóia sua equipe na tomada de riscos. |
• Dá liberdade para seus funcionários falarem tanto de assuntos profissionais quanto pessoais. |