O homem das conexões
Após anos em times comerciais, o paulistano Marcio Fabozi aprendeu lições sobre retenção de clientes. Em quatro anos como sócio do Grupo Allcom, de tecnologia para ligar máquinas à internet, ele usou o que sabe para triplicar as vendas da companhia, que deve faturar 210 milhões de reais em 2024
EXAME Solutions
Publicado em 24 de julho de 2024 às 18h00.
Última atualização em 25 de julho de 2024 às 11h17.
O paulistano Marcio Fabozi, de 44 anos, é um empreendedor moldado por vários anos na li- derança de vendas de grandes multinacionais de telecomunicações. Ao acompanhar de perto os clientes, aprendeu grandes lições sobre retenção de carteira e diversificação de portfólio.
Formado em engenharia elétrica, Fabozi foi aceito no processo de trainee do gigante americano de telecomunicações Motorola em 2004. Fabozi fazia a venda técnica e o suporte à conectividade entre máquinas — conhecida pelo mercado pela sigla M2M (machine to machine). “Os produtos e serviços M2M são utilizados na indústria para aumentar a produtividade, por empresas de segurança que fornecem alarmes e até por companhias de logística, pois permitem o rastreio de uma carga ou veículo”, diz.
Em um setor em constante transformação, Fabozi logo foi promovido a gerente. Em 2008, foi para a concorrente Siemens. Um ano depois, virou diretor de vendas da Cinterion, companhia criada pela própria Siemens para atender a esse mercado. Em 2012, recebeu mais uma proposta. Dessa vez para liderar toda a área de vendas da multinacional canadense Sierra Wireless, onde respondia pela América Latina e pelo sul dos Estados Unidos.
Com a evolução das máquinas conectadas, Fabozi testemunhou a vocação do mercado M2M para atender a diversos setores. “Nessa época, grande parte das nossas vendas era para empresas de meios de pagamento, as famosas maquininhas, e para rastreamento de veículos”, diz. Fabozi ficou na Sierra Wireless até 2020. O período é motivo de orgulho: sob a batuta dele, a empresa conquistou uma fatia de mercado de 65% no Brasil.
Em paralelo, Fabozi via uma empresa novata despontar nesse setor. Aberta em 2016, a paulistana Allcom vinha ganhando bons contratos com grandes clientes. “Nessas idas e vindas, fiz muito networking e dois grandes amigos”, diz, fazen- do referência a Marcelo Catapani e Luís Apolinário, fundadores da Allcom. “A parceria era tamanha que eles me pediram para revisar o plano de negócios da empresa deles, concorrente da minha”, diz.
Em 2020, Fabozi virou o terceiro sócio da Allcom. A missão: dar um gás no time de vendas e de suporte técnico para, na ponta, impulsionar o faturamento. “Peguei toda a expe- riência das multinacionais e apliquei na Allcom”, diz ele. “Uma empresa que sabe vender tem de saber atender.” Fabozi segmentou os clientes de acordo com o setor de atuação e o tamanho do negócio. Ao mesmo tempo, criou uma área de qualidade para auditar a prestação do serviço.
O modelo de negócios da Allcom parte de uma premissa simples: a oferta de caminhos para conectar máquinas entre si, algo conhecido no mercado como conectividade gestionada. Na prática, vende simcards para os equipamentos terem acesso à internet. Essa é uma parte da história. Para além dos chips, os clientes dependem de uma conexão inexoravelmente estável. Empresas de transporte de cargas valiosas, por exemplo, não podem correr o risco de verem seus veículos rodando offline por aí. Por isso, os clientes necessitam de um bom pós -venda. “Eles precisam de suporte especializado e célere”, diz.
Ao segmentar sua área de su- porte e criar outra de qualidade, a experiência do consumidor aumentou significativamente e fez com que a Allcom continuasse seu ritmo acelerado de expansão sem perder negócios já conquistados. Assim, entrou em novos mercados, como o agronegócio. Um dos carros-chefe são sondas meteorológicas capazes de manter um bom sinal de internet, mesmo instaladas em rincões. A empresa, que antes vendia simcards para máquinas de pagamento, passou a vender as maquininhas, além de câmeras de telemetria e outros softwares.
A combinação de novas fontes de receita com o suporte aos clientes de sempre rendeu frutos. Em 2024, a Allcom espera receita de 210 milhões de reais. Por ano, a empresa está vendendo 3,5 milhões de equipamentos. Para efeito de comparação, há quatro anos o patamar mensal girava ao redor de 1 milhão. Daqui para a frente, Fabozi vê mais diversificação. Hoje, o Grupo Allcom inclui a Allblin, um braço da companhia para a blindagem de carros, e a Sitallcom, uma plataforma de rastreamento de veículos adquirida em 2022. “Agora estamos focados em promover cada vez mais sinergia entre os negócios do grupo”, diz Fabozi.