O futuro é incerto para o que restou do Yahoo
Depois de vender seus ativos principais para a Verizon, o Yahoo perdeu até seu nome
Karin Salomão
Publicado em 11 de janeiro de 2017 às 12h40.
Última atualização em 13 de janeiro de 2017 às 10h02.
São Paulo – O Yahoo já foi uma das maiores empresas de internet do mundo e seus produtos influenciavam as decisões das outras companhias do setor. Mas isso foi há muitos anos.
Agora, depois de vender seus ativos principais para a Verizon , a empresa irá até mudar seu nome. Os ativos que restaram, uma participação na gigante chinesa de comércio eletrônico Alibaba e o Yahoo no Japão, que operava de forma separada, foram nomeados de Altaba.
Já os serviços de e-mail, busca e produção de conteúdo, comprados pela operadora norte-americana, continuam com o nome Yahoo.
“Uma vez que a parte operacional da companhia for vendida à Verizon, não irá restar nenhuma operação na Altaba”, afirmou Paul Sweeney, analista de inteligência de negócios da Bloomberg em entrevista a Exame.com.
Além disso, Marissa Mayer, que se tornou presidente da companhia há 5 anos para tentar reinventá-la, deixará o conselho de administração quando a transação for completada, informou o Yahoo essa semana. Ela continuará como presidente da companhia. Outros membros do conselho de administração também deixarão o cargo na ocasião.
O futuro para o Yahoo, tanto os ativos que foram incorporados pela Verizon quanto para o que restou da empresa, ainda é incerto.
A Altaba não será nada além de uma gestora de investimentos, sem qualquer semelhança com o que um dia foi a operação do Yahoo. Por outro lado, cabe à operadora norte-americana, que também controla a AOL, reviver a companhia que adquiriu.
Apesar das incertezas, a venda de seu negócio central de internet foi vista como positiva pela maioria dos investidores da companhia.
“A maior parte dos investidores acredita que a transação foi um movimento sábio. É um negócio em dificuldades, com faturamento decrescente. A gestão do Yahoo foi incapaz de revitalizar o negócio, mas talvez a Verizon consiga fazer melhor”, disse o analista.
Concentração da internet
Ainda que o Yahoo seja um caso isolado, há outras empresas que estão com dificuldade de crescer, rentabilizar suas operações ou acompanharem as mudanças velozes do mercado de internet.
Um exemplo é o Twitter. O número de usuários novos que ingressam na rede social tem desacelerado. Por isso, a companhia buscou um comprador em outubro do ano passado, mas ninguém se mostrou interessado.
Com milhões de usuários produzindo conteúdo em tempo real, poderia ser uma ferramenta para recolher dados de comportamento e aumentar a precisão da publicidade.
No entanto, a rede social não recebeu nenhuma oferta de compra, embora gigantes como Google, Facebook, Microsoft e Apple estivessem entre os principais suspeitos para a aquisição, o que fez com que seu valor de mercado despencasse.
O Pinterest é outra empresa que apenas recentemente começou a faturar e o lucro ainda é um horizonte distante.
O que essas companhias têm em comum é o seu modelo de negócios. A principal fonte de receitas vem de anúncios. No entanto, o mercado de publicidade digital é dominado principalmente pelo Google e Facebook. “Outras empresas de internet, como o Twitter, estão lutando para competir por dólares vindos da propaganda”, afirma Sweeney.
Apesar das adversidades, há companhias promissoras que conseguem navegar bem nas águas tumultuosas do mercado de internet. Para Sweeney, o Snapchat e o Uber são duas companhias que estão crescendo rapidamente com modelos interessantes.
Histórico
Mas o que levou o Yahoo a encolher tanto assim? Apesar de ter feito sua jogada final recentemente, a empresa já vinha decaindo de forma silenciosa há muitos anos.
Com o surgimento de concorrentes como Google e Facebook, o Yahoo ficou para trás e perdeu muito espaço – e dinheiro. O mercado de anúncios digitais, uma das principais fontes de receitas tanto do Yahoo quanto da concorrência, cresceu 15% nos últimos anos. No entanto, o faturamento da companhia apenas decaiu nesse período.
A primeira estratégia foi contratar Marissa Mayer, ex-diretora do Google, para revolucionar o negócio. Forte e implacável, a sua contratação foi vista como a salvação para o Yahoo, mas acabou não gerando os resultados esperados.
Apesar de ter concluído aquisições importantes para a companhia, como o Tumblr em 2013, Mayer não conseguiu reerguer o faturamento do Yahoo, nem reconquistar a confiança dos investidores.
A princípio, Mayer propôs a venda da participação de 15% do Yahoo no Alibaba, gigante chinês de comércio eletrônico, que vale cerca de US$ 30 bilhões. A proposta, no entanto, foi rechaçada, já que esse era um dos poucos ativos lucrativos da companhia e a venda poderia gerar altos custos em impostos.
A última esperança foi, então, vender os ativos principais da companhia, contrário ao que Mayer buscava para a empresa. Foram colocados à venda os portais de conteúdo, divisão de propaganda, site de compartilhamento de fotos Flickr, o microblog Tumblr, serviço de e-mail e buscador, além de patentes de internet.
Entre várias companhias que demonstraram interesse no Yahoo, principalmente nos dados que ele acumulou em todos esses anos, a Verizon acabou vencendo a concorrência. A operação foi anunciada em julho e a operadora norte-americana afirmou que pretende integrar o Yahoo à sua divisão de conteúdo e publicidade digital.
No entanto, a história ainda não terminou. Após a divulgação recente de que um ataque hacker havia invadido quase 500 milhões de contas em 2014, a Verizon ficou com o pé atrás a respeito da negociação, ainda não concluída.
Por isso, a compradora está pressionando o Yahoo para diminuir o preço da operação. O “desconto” pedido seria de US$ 1 bilhão, de um total de US$ 4,83 bilhões. Até que essa operação de fato seja concretizada, o Yahoo ainda pode enfrentar muitos percalços.