Recuperação: empresas aéreas têm terceiro mês seguido de crescimento no Brasil (Germano Lüders/Exame)
Gabriel Aguiar
Publicado em 21 de julho de 2021 às 16h15.
Última atualização em 21 de julho de 2021 às 16h51.
A variante Delta do novo coronavírus representa 80% das infecções nos Estados Unidos e é dominante na França. Por outro lado, o mercado brasileiro começa a retomar o fôlego na aviação, com o terceiro mês consecutivo de crescimento – e quase 68% da operação que existia antes da pandemia da covid-19. E a mutação que se espalha pelo mundo (antes chamada de indiana) representa um risco por aqui?
“O país registra, atualmente, cerca de 100 casos notificados de infecção pela variante Delta, constatados em sete estados – Goiás; Maranhão; Minas Gerais; Paraná; Pernambuco; Rio de Janeiro; e São Paulo. No RJ, houve o maior números de casos, enquanto MA e PR tiveram pelo menos cinco óbitos relacionados à variante”, diz Igor Marinho, médico Infectologista do Hospital das Clínicas da Universidade de SP.
Para o especialista da área da saúde, a disseminação da mutação ocorre no mesmo momento em que as medidas de isolamento social são afrouxadas em todo o Brasil. No caso da variante Delta, a transmissão é até 50% maior quando comparada à Alfa, registrada pela primeira vez no Reino Unido, o que aumenta o risco de novos casos por aqui – tanto que já foi classificada como “variante de risco” pela OMS.
Para David Goldberg, sócio da consultoria de aviação Terrafirma, a proximidade das eleições (para 2022) tornam pouco provável a retomada de medidas impopulares, como é o caso de lockdown e fechamento de comércios. Com isso, o mercado doméstico não deverá ser afetado pela chegada da nova variante do novo coronavírus, diferentemente dos trajetos internacionais, que ainda estão prejudicados aqui.
“Claro que muitas coisas podem acontecer. Mas acredito que os efeitos em viagens feitas dentro do país não serão tão acentuados porque não deverá haver políticas de fechamento extensas e severas como no passado. E, com tudo funcionando, o mercado doméstico continuará igual. Para fora, o principal ponto é que países têm ritmos diferentes de contaminação e de políticas de isolamento”, afirma Goldberg.
Para o médico infectologista, o avanço da variante Gamma – antes chamada P1 e registrada no norte do país pela primeira vez em novembro de 2020 – meses antes da mutação Delta não reduz o risco de nova disseminação, já que é difícil falar de imunidade duradoura para covid-19. Entretanto, o cenário atual da doença no território nacional está sob controle e não há indícios de que surgirá uma terceira onda.
“Segundo a OMS, as mutações Alfa, Beta, Gamma e Delta são parte do grupo de ‘Variantes de Risco’ [ou “Variantes de Preocupação”]. Mas, nesse momento, temos estabilidade e até a redução nos números de casos, óbitos e hospitalizações por covid-19 na maior parte dos estados do país. Isso também se deve ao aumento da vacinação em toda população, como observado nos últimos dois meses”, diz Marinho.
Procurada, a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (ABEAR) diz acompanhar os desdobramentos da variante Delta do novo coronavírus em todo mundo. Mas, neste momento, a projeção para as próximas semanas é de continuidade da retomada gradual da quantidade de voos, como tem sido registrado pelo setor da aviação desde maio deste ano, conforme indicam dados da Agência Nacional de Aviação Civil.
“Em relação às companhias, estão sobrevivendo às duras penas sobrevivendo nos últimos meses, desde 2020, se tiver mais um recrudescimento muito forte da pandemia, pode ser um golpe fatal para algumas empresas aéreas. Então, com certeza é um ponto de atenção para se manter alerta, principalmente com a possibilidade de fechamento de fronteiras que afetará o mercado internacional”, afirma Goldberg.